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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Uma História de Natal.




Corria o ano de 1953, e a expectativa estava no ar.


Mesmo sendo uma casa pobrezinha, com poucas coisas em seu interior, e não como hoje que quase todos tem tudo. Naquela época poucos tinham algumas coisas, e muitas coisas eram só de gente rica, como geladeira, rádio ou vitrola.

Papai por ser um simples Segundo Sargento do Exército conseguia manter as necessidades mínimas, já que os militares naquela época assim como grande parte da população ganhava pouco e a maioria esmagadora ganhava quase nada. Mesmo assim conseguia ele manter uma família grande, casal e quatro filhos. Entretanto as coisas eram difíceis e suadas.



Hoje qualquer moleque tem tênis de marca, computador, e qualquer um têm o celular. Coisas sequer pensadas naqueles tempos e reclamam.

Entre nossa casa e a de Seu Arthur ficava um corredor, uma “servidão de passagem” que servia a outras casas. Pequenas casas onde moravam várias famílias.

Aos fundos da casa de Seu Arthur, com entrada pela servidão, havia uma casa de madeira onde morava o Quito e o Donga, dois meninos negros nossos amigos, com quem brincávamos.

Ao se aproximar o Natal, todos em nossa casa estavam eufóricos, pois sempre Papai Noel nos dava alguma coisa, mesmo que simples nós não éramos esquecidos.


Meu coração a cada conversa sobre o Natal disparava e eu ficava sonhando com os presentinhos de Papai Noel.

Êba! Êba! O Natal está bem próximo... Será esta noite.

Minha Irmã Ieda, já mocinha, de 14 anos arrumava as coisas para a grande noite e disse aos irmãos:

- Deixem seus sapatos ao lado da cama, se não deixarem Papai Noel não deixará o presente.

E lá fui eu limpar os surrados sapatos pretos para deixá-los ao lado de minha cama.


Noite apreensiva, coração disparado, emoção, alegria, e tudo mais que se podia ter.

Ao acordar, o fiz com o alarido de Ieda e Lúcia que já haviam encontrado seus presentes. Claro que Ieda sabia bem das coisa, mas fazia o seu papel.

Num pulo desci da cama e ali estava o belo presente envolto em papel vermelho.

Meu coração quase saiu pela boca.

Alegria. Alegria.

Realmente Papai Noel existia e era tão bom.

Papai Noel é fiel.

Presente de Papai Noel

E todas essa outras bobagens que dizem...

Após o simples café da manhã, café preto, pão e manteiga, fomos para o lado da casa brincar com nossos presentinhos.

Ali estava eu de cócoras, à sombra de uma árvore quando vi aproximarem-se duas sombras, levantei os olhos e vi em minha frente os amiguinhos Donga e Quito.



Quito com os olhinhos brilhando, quase chorando ficou encantado com as figurinhas do abecedário que havia Papai Noel me dado naquela noite mágica.

Lembro-me de todos os animaizinhos que representavam cada letra. Arara, boi, cavalo, dromedário, elefante, flamingo e assim em diante até a zebra.

- Quito o que ganhaste? Perguntei.

E esse triste, quase chorando disse que Papai Noel havia esquecido dele e do irmão.



Naquele momento meu coração partiu-se, juntei os bichinhos dentro da caixa,  levantei-me olhando para os dois negrinhos e a passei a caixa por entre a cerca para que ele pudessem pegar com suas mãozinhas trêmulas, e com muita dó no coração. Naquele dia não brinquei mais.

Por que Papai Noel havia esquecido de Donga e Quito?

Papai Noel malvado, que para uns dava além do necessário, para outros dava tão pouco e para milhões nem lembrava.

Passei a ter raiva desse velho barbudo, gordo, vermelho como uma pitanga e desalmado.

Papai Noel para mim era um baita safado.

Não te amo mais Papai Noel.

Um ano passou e aí eu viria, a saber, que Papai Noel nunca existiu, quem nos dava os presentes eram os nossos próprios pais.

E até hoje, Natal me trás essa lembrança tão triste de dois menininhos que não ganharam presentinhos.


Maldito Papai Noel, que não se lembrou do Donga e do Quito.

2 comentários:

  1. Ai professor, realmente eu também me entristeço ao ver os grandes gastos de Natal de uns, enquanto outros não tem se quer o alimento de cada dia. Me emociono ao pegar aquelas cartinhas dos correios, ou de associações, escolas, de crianças carentes e ver ali os mais singelos pedidos.
    Mas preciso dizer, agora acabei rindo sozinha lendo este texto, parece que estava ouvindo o senhor contar!
    Grande abraço!
    Ana.

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  2. Olá Aninha, minha amada menininha.
    Que bom que com meu texto cheio de mágoas com esse tal de Papai Noel tão perverso para a maioria te fiz rir sozinha. E fiquei emocionado. Fiquei aqui no meu cantinho, lendo e relendo o teu comentário e lembrando daqueles anos maravilhosos onde nunca fiquei bravo contigo, pois o teu sorriso desarmava qualquer um.
    Muito te admiro.
    Beijos. Beijos.

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