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quarta-feira, 21 de junho de 2017

Negros. Ora Negros!




Meses antes de assumir um cargo na Diretoria do SINTESA, Sindicato Dos Trabalhadores em Educação de Sapucaia do Sul, exercia minhas funções como Referência na Biblioteca Pública Euclides da Cunha dessa cidade e em uma certa manhã adentrou ao recinto um cidadão branco, de origem alemã, ao qual, prestativa e educadamente atendi.

O referido cidadão mostrando inconformismo me disse com desdém:


- Não sei por que a professora de minha filha pediu à ela um trabalho sobre os negros...


Antes de dizer qualquer coisa o referido homem, em tom de crítica concluiu:


- Não entendo porque, mas deve ser alguma coisa sobre samba ou futebol.

Passivamente solicitei ao dito cidadão que sentasse e aguardasse um minuto, pois traria para ele alguns livros sobre o assunto:


Com o coração acelerado de nojo pela maneira que tal cidadão se referia fui até as prateleiras e trouxe-lhe uma braçada de livros sobre os negros:


Trouxe em meus braços vário livros e ele sem entender ficou pasmo me olhando, e eu sem sorrir fui entregando livro por livro e falando o que versava cada um.


- Aqui estão, senhor, alguns livros que falam sobre os negros, e a ele fui passando livro por livro e fazendo um breve relato sobre esses negros.


O primeiro livro que passei as suas mãos foi um livro que tratava da vida de Machado de Assis, dizendo: Este é sobre Joaquim Maria Machado de Assis, nascido no Rio de Janeiro em 1839, que além de ser o maior escritor brasileiro, de vários gêneros literários, foi poeta, romancista, cronista e crítico literário, que além de ter escrito as obras como Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó, Ressurreição, A mão e a Luva, Helena e Iaiá Garcia, entre outras famosas obras. Também como funcionário público, em pleno Império Escravagista passou pelo Ministério da Agricultura e de Obras Públicas, fundou e foi o primeiro Presidente da Academia Brasileira de Letras, ungido por unanimidade ao cargo.



- Este outro é sobre André Rebouças, que foi engenheiro militar e serviu na Guerra do Paraguai, tendo desenvolvido um torpedo que alcançou grande sucesso, e mesmo dentro de uma sociedade racista foi apresentado ao Imperador Dom Pedro II e a esse apresentou seu projeto da construção da ferrovia de Curitiba ao porto de Paranaguá na então Província do Paraná, foi ele um dos representantes da pequena classe média negra que muito contribuiu para o desenvolvimento do país, morando e trabalhando em países europeus e em 1892 aceitou um emprego como engenheiro em Luanda e depois em Funchal, na Ilha da Madeira, é nome de avenida na cidade de São Paulo e nome de cidade no Paraná, homenagens feitas pelo seus grandes serviços prestados à Nação.



Este outro, entregando-lhe o terceiro livro, é sobre a vida do Doutor Joaquim Benedito Barbosa Gomes, atual Presidente da Suprema Corte. Homem sério, inteligente e ilibado, que já está sendo indicado por muitos para ser candidato a Presidência do Brasil.


E assim, a cada livro fazia uma rápida explanação e fui amontoando livros e mais livros sobre negros notáveis, como José do Patrocínio, farmacêutico, escritor, jornalista, orado e ativista político: 



- Doutor Milton Santos, maior geógrafo do Brasil e professor em grandes Universidades não só no Brasil como nos Estados Unidos, Canadá e França, inclusive na Sorbonne:



- Doutor Luiz Francisco Correia Barbosa, ex-prefeito de Sapucaia do Sul, Oficial R/2 do Exército, Delegado e Juiz, particular amigo e conterrâneo.


- Doutor Albuíno Cunha de Azeredo, Engenheiro e Governador do Estado do Espírito Santo: 



- Doutor Alceu de Deus Colares, advogado e Ex-governador do Rio Grande do Sul, outros, outros e outros, uma montanha de livros, -


Finalizando com vários livros sobre a Revolta da Chibata (1910) encabeçada pelo marinheiro negro Rio-grandense do Sul, de Encruzilhada do Sul, João Cândido Felisberto, que aos 13 anos já era marinheiro e que fez a maior revolta dentro da Armada Brasileira, onde ficou conhecido como o Almirante Negro, chegando a bombardear a Capital da República, na época a Cidade do Rio de Janeiro e acabando por vez com os açoites terríveis que os marinheiros eram submetidos por uma oficialidade ainda escravagista e metida a superior, pois a maioria dos marujos, bravos defensores da costa brasileira eram negros e pardos e pertenciam a maior marinha do mundo, na época, superando inclusive em número de vasos de guerra a marinha do poderosíssimo Reino Unido.

O homem, embasbacado, pálido e azedo ficou sem reação e por mais de uma hora copiou algumas coisas para levar à sua filhinha.


Ao devolver-me os livros disse, com o olhar perdido e com sua arrogância por terra:


- Eu não sabia que havia tantos negros importantes no Brasil.

Nada lhe disse apenas o contemplei com pena. Pobre coitado.


Talvez nunca mais a arrogância e a discriminação tenham passado pela sua vida, pois viu que cor de pele não é motivo para desfazer deste ou daquele.


Tomara que tenha aprendido.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Abelhas. Entre Elas.








Esta é uma linda abelhinha,

Solitária voando sozinha.

Voou muito até chegar ao meu coração,

E se alimentar na palma de minha mão.







Foi-se feliz e sem segredo,
Voltou logo para comer em meu dedo.
Oh, abelhinha de doloroso ferrão,
Comeste também na ponta do meu dedão.




Novamente alçou voo e sumiu,
Quando menos esperava ela surgiu.
Queria mais do doce licor,
Natural e embriagador.

Foi perto e voltou sem medo,
Ofereci, com mel, o outro dedo.
Foram tantas idas e vindas que acostumou,
E muito, muito mel ela tomou.




A janela estará sempre aberta para ti, abelhinha,
Se cansares podes descansar em minha mão tuas asinhas.
Mal eu jamais te farei,
E de ti o mal eu não terei.

A chuva forte caiu,
E a abelhinha cansada por um tempo sumiu.
De certo mais tarde voltará,
E mais mel em minha mão tomará.





Quando a chuva forte passou,

A abelhinha em meu dedo pousou.

Deixei de usar o teclado,

Para ela tomar outro bocado.



E para eu puder tranquilo digitar,

Um potinho com mel eu fui buscar.

Num vai e vem constante,

O mel que deixei não foi o bastante.






Lembre-te amável operária,
Que vai e volta voluntária.
Carregar mel para tua casinha,
Todas comerão, até tua rainha.

É só vir sem medo e confiante,
Aqui tem mel abundante.
Sou teu amigo, parceiro e solidário,
E tu alegras meu cantinho solitário.






Mas tu foste muito espertinha,
Trouxeste logo uma amiguinha.
E outras em um zum-zum, vejo voando,
E pela janela estão entrando.


Batem asas, o doce mel procurando,
Frenéticas ficam pousando.
Até na tela do monitor,
Assim não posso usar o meu computador.






Voam em minha volta e eu não posso reclamar,
Quem mandou ser bonzinho e muito mel eu te dar.
Pousam em minha testa, no nariz e na orelha,
Agora outra sentou, também em minha sobrancelha.


Todas foram, até minha amiguinha sumiu.
Era tarde e a noite escura caiu.
Não ouço zumbido de nenhuma asa.
Pois moça recatada não dorme fora de casa.

 

Há no Brasil aproximadamente 300 espécies de abelhas nativas, sendo a Jataí a menor e mais dócil, pois se adapta ao meio urbano e não tem ferrão, são rústicas classificadas como tetragonisca angustula.



            Africanizadas..Num potinho bem maior.


A abelha comum, ou europeia (apis melífera) foram introduzidas no continente pelos espanhóis e ingleses, e chegaram ao Brasil em 1839 para suprirem apiários na produção de cera e mel. Já as naturais do Brasil não são manejáveis, com exceção da Jataí ou Mirim, que produz um excelente, finíssimo, doce e aromático mel, porém em pouquíssima escala.
             Jataí.     

Em 1966 cientistas brasileiros trouxeram as abelhas africanas, (apis melífera scutellata), agressivas e mais eficientes na produção de mel, porém por um descuido do laboratório que tentava o cruzamento das espécies, tornando assim as europeias africanizadas mais produtivas, vário enxames fugiram e em pouco tempo espraiaram-se por todo o continente, chegando aos Estados Unidos. Por sua agressividade e causadoras de alguns óbitos em humanos e outros animais, foram chamadas de abelhas assassinas e hoje quase todas as abelhas europeias do continente estão africanizadas, o que causa pavor entre as pessoas, sendo protagonistas de filmes sensacionalistas de Hollywood. Ontem, quando escrevi esses simplíssimos versos era domingo, um domingo de chuva fina e constante, quando comecei a dar mel para uma solitária abelhinha. Hoje, oito horas da manhã, ao abrir minha janela, já estavam elas aguardando e em minutos invadiram o meu escritório e voam em minha volta frenéticas, passam pela frente de meus olhos, voam em minha volta, pousam em meu rosto, cabeça e orelhas, pois são dezenas que batem suas asinhas em estonteantes zum-zuns, em busca do bom e aromático néctar que as ofereço.
                                A enorme e solitária Mamangava


Aviso aos meus estimados leitores que não devemos espantá-las com movimentos bruscos, bater ou apertá-las e se por tua sorte alguma pousar em tua pele não as trate mal, pode até espantá-la, porém com movimentos leves e delicados, assim elas não te picarão, caso contrário sofrerás com a ardida picada que pode levar pessoas sensíveis ao veneno, à morte.


             Catinga-de-mulata


Já fui tantas vezes picado que não me importo com uma picada a mais, e como antídoto o tabaco mascado e colocado sobre a picada imediatamente alivia a dor ou também a palma africana, conhecida aqui no Sul como catinga-de-mulata, macerada com um pouco de água quente e colocada como emplastro. 

                                                    Lechiguana


Quando elas picam, deixam seu ferrão com a bolsa de veneno pulsando e injetando mais veneno e morrem. Não tentes retirar o ferrão apertando a bolsa, use uma lamina para, no sentido contrário retirar o ferrão e coloque imediatamente tais antídotos, se dispuseres. Caso contrário à dor se prolongará e poderá ter efeitos danosos a certas pessoas.



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