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sábado, 30 de dezembro de 2023


 

Zélia Pereira Duarte – Tia Zélia

Tia Zélia, irmã mais nova de minha Mãe era uma pessoa simples, amável e sempre com um sorriso no rosto. Muito preocupada com os filhos e quando íamos visitá-la fazia de tudo para nos agradar.

Casou-se com Augusto Genes Duarte, o tio Augusto e tiveram três filhos, Mac-Joney, Eladir Magma e Luís Augusto, meus primos.

                                   Casamento de Zélia e Augusto. julho de 1950

Minha mãe, já quando muito velha a colocamos numa excelente casa para idosos, pois já em estado vegetativo precisava de cuidados especializados e constantes. Era uma excelente e cara casa para idosos, com constante assistência médica e bons enfermeiros e outros profissionais e funcionava com pronta e qualificada segurança.

Visitávamos constantemente e Tia Zélia, já com quase oitenta anos, mesmo com algum esforço devido a sua idade já avançada ia visitar a irmã todas as semanas, afinal formavam “una pareja de hermanitas” de muitas e muitas décadas.

Uma tarde chegou a essa casa Tia Zélia, eufórica para ver a irmã mais velha, passou pela recepção para identificar-se, porém a funcionária que a atendeu, conhecendo-a pelas constantes visitas permitiu de imediato o seu acesso e por conhecê-la não fez de imediato o registro de entrada, afinal era a bondosa Tia Zélia.

                                                 Amada Titia Zélia
 

Tia Zélia feliz adentrou e foi direto para o quarto onde estava a irmã afundada na cama sem se mover, sendo atendida por uma enfermeira que cuidava de suas escaras, colocando pomadas e curativos com todo o cuidado deixando depois a sós com Titia Zélia. Esta ficou por mais de meia hora contemplando com pesar o estado já quase terminal da irmã que ela tanto amava. Alguns minutos depois resolveu fazer uma caminhada por outros quartos e conversar com alguns velhinhos e velhinhas ali recolhidos.

Foi para Tia Zélia gratificante, pois levava alegria, conforto e companhia para muitos, mesmo desconhecidos, que ali passavam talvez seus últimos dias.

Neste ínterim houve a troca de Guarda.

Voltou ao quarto da amada irmã, ficou mais uns minutos e depois beijou e abraçou com ternura e amor, e se dirigiu para a portaria para ir para sua casa.

Ao chegar à portaria encontrou apena o Guarda, um homem forte e muito educado dele se despedindo com um simples “passe bem” e tentou abrir a porta. Porém esta estava chaveada, ela então esperou que o Guarda a abrisse.

Esse olhou para aquela velhinha, dela se aproximou e disse:

- O que a senhora está fazendo sozinha fora de seu quarto?

Ela surpresa e sem entender disse então ao forte e educado guardião:

- Eu só vim fazer uma visita e já estou de saída.

O Guarda balançou a cabeça e disse:

- Sim , sim! Eu sei!

O Guarda aproximou-se mais e pegando com delicadeza a mãozinha de Tia Zélia e olhando-a aos seus ternos olhos, disse:

- Tudo bem querida! A senhora já fez a visita então vai voltar para o seu quartinho, bem bonitinha e de imediato foi até a porta da Secretaria e comunicou à três funcionárias que ali estavam:

- Pessoal, há aqui na recepção uma senhorinha querendo fugir!

Correria geral. Tia Zélia atônita tentava explicar, porém aquelas funcionárias não tinham o registro de entrada da boa Titia Zélia e tentavam convencê-la a voltar para seu quarto, olhando papéis e o livro de registros e nada encontrando. Quando uma segurou-a pelo braço e tentou levá-la em direção dos quartos. Mas ela num movimento rápido desvencilhou-se e disse:

- Eu só quero ir para minha casa.

De pronto àquela funcionária disse:

- A senhora não pode sair, só se vier um familiar para acompanhá-la.

Mas ela insistia em sair, caminhando em direção da porta de saída.

Formando-se uma pequena e hilária confusão.

Nisto chegou esbaforida a funcionária que havia permitido a entrada de Tia Zélia e correu para explicar que era ela uma visitante e não hóspeda.

Nota 1: Como substantivo, admite também um feminino menos usado: hóspeda. Origem etimológica: latim hospes,-itis, hóspede, anfitrião.  Como nome, admite também o feminino hóspeda.

Como vimos Titia Zélia também era cultura.

Após alguns embaraçosos minutos Titia Zélia foi finalmente liberada, sendo abraçada e beijada por todos, inclusive pelo competente, educado e atilado Guarda e foi-se serena e feliz para a sua casa contente e fagueira, pensando talvez em momentos hilários e felizes que vivera quando menina nos campos sem fim da Campanha, aonde seu Pai, o Uruguaio José Luis Pereira de Castro (Juca) tinha sua fazenda em terras brasileiras e também por ter visto a sua irmã tão amada.

Nota 2 -JUCA: O nome José, espanhol geralmente recebe o apelido de Pepe. Pepe vem de P.P., ou seja, em latim Pater Putativo, que quer dizer Pai Adotivo, pois dentro da religiosidade cristã, assim era designado São José, Pater Putativo de Cristo. (?)

Como vimos novamente Titia Zélia também era cultura.

Passados alguns meses, infelizmente, Titia estava também em uma clinica para idosos aonde veio a falecer pouco tempo depois.

Sorrateiras lágrimas.

Saudades da Titia Zélia.

Minha boa e terna Tia Zélia.