Houve um tempo que eu acreditava em uma força maior que regia o Universo, era uma entidade grande, poderosa, de barbas bancas que lhe dava um aspecto sereno.
Era um homem velho, mui
velho, bom e criativo. Alegre e compreensivo.
Quando fui para a escola
aprendi que ele era mau, vingativo, que castigava as pessoas e as jogava no
fogo do inferno eternamente.
Tinha muito medo.
Na verdade eu tinha pavor, o
que me levava a muitos e terríveis pesadelos.
Pavor
Mas como medo não é respeito
aos nove anos rompi meus tênues laços com a religião, pois via nela só
maldades, ameaças e castigos, e em seu dito livro sagrado só via maldade, morte
e castigo, e dela fui me afastando gradativamente enquanto estudava e crescia.
Ora deus.
Se é deus por que
envelheceu?
Se é deus por que tem
barbas, uma coisa primitiva que nos liga aos animais dos quais somos oriundos?
Se é deus, por que tem boca,
cabelos e pés?
E com minhas dúvidas comecei
a ver que num crescente esse mítico ser foi banalizado, tão banalizado que as
pessoas não mais pensam no fato em si e vão atribuindo tudo a esse deus.
É uma chuva que cai, é uma
dor de cabeça que passou, é um gato que por pouco não foi atropelado, e um
pássaro que canta, é o olhar furtivo de um flerte, é uma meia velha que foi
encontrada no fundo da gaveta, é o vento, é a luz do Sol, é a estrela, é a
flor, se faz frio ou calor.
Enfim não mais o homem pensa. Perdeu a capacidade de raciocinar, perdeu totalmente a razão. Vive iludido achando que tudo é o dedo de deus.
E deus tem dedo?
Pra quê?
Ele usa anel, enfia o dedo
no nariz, coça?
Sim! Deus tem dedos, na
visão simplista. Tem nariz e não respira, tem boca, mas não come, tem pés, mas
deles não precisa para andar, tem mão, mas não precisa agarrar, tem a forma
humana, por quê?
Sabes por quê?
Tem a forma humana, pois
foram os humanos que o criaram, foram os humanos que o fizeram, foram os
humanos que o inventaram e não o fariam na forma de um gafanhoto, de uma lebre
ou de um macaco.
Criaram deus conforme somos,
pois a soberba humana é tão grande que criaram uma entidade divina e a ela
deram a nossa forma animalesca, pois somos incapazes de admitir, de ver ou de
aceitar algo superior a nós que não tenha a mesma e primitiva forma.
Somos extremamente
arrogantes ao ponto de achar-nos semelhança divina.
Somos extremamente pretensiosos, para dizer que somos filhos de uma divindade.
Os primitivos homens
acreditavam em deuses com a forma de animais, o zoomorfismo.
Conforme foi o
homem evoluindo deu a esses deuses características humanas, surgindo daí o antropozoomorfismo,
deuses com corpo de homem e cabeça de animal ou o contrário.
Finalmente,
quando se achou superior a tudo, arrogantemente e pretencioso, deu a esses
deuses a sua forma. Criou então os deuses humanizados, ou seja, o
antropomorfismo.
É tamanha a arrogância desse
bicho chamado homem que inventou até uma besteira que atribuiu a essa entidade
e inventou que deus criou o homem para reinar sobre os animais.
Reinar sobre os animais, covarde e impiedosamente.
Pense. O homem está extinguindo os animais, brutalmente. Os aniquila por prazer e muitas vezes com requintes de perversidade.
Somos filhos de deus e fizemos isto.
É o pior bicho que já pisou no planeta Terra, pois ele está também sendo aniquilado por esse bicho feroz que se diz imagem e semelhança de deus.
imagem e semelhança que faz esta maldade por prazer.
Sejamos realmente humanos,
basta para tal utilizarmos da razão e ver que as coisas acontecem por motivos
naturais, pois rezando ou não rezando todos vamos morrer de forma doída e
traumática, seja um crente doentio ou um ateu convicto. Ambos sofrerão dos
mesmos males e morrerão da mesma forma.
Filhos de deus, que são capazes de atos cruéis.
A religião não faz o homem bom e honesto e nem o priva de uma morte cruel. A religião não faz o homem ter mais ou menos moral, e a prova disto é ver onde estão os mais escandalosos casos de pedofilia e perversão, os maiores vivaldinos e vigaristas, que enriquecem do dia para noite explorando os que creem.
Mesmo sabendo que grande
parte dessa humanidade passará por mais fome, doenças e injustiças, desejo que
todos tenham muita razão e apesar de tudo, boas festas de fim de ano, e que
sirvam esses momentos junto as suas famílias para fazerem uma reflexão sobre o
papel do homem em relação à natureza, pois esta está pedindo socorro.
E não será deus que a
salvará.
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