Para entenderes esta
história precisas saber que na República do Rio Grande do Sul há muitas
palavras que são desconhecidas em outra plagas, como por exemplo:
Bacudo - Homem rude, grosso.
Biguano – Homem do interior, desajeitado, apalermado, sestroso.
Bispando – Dando fé. Dando fé para tirar algum
proveito.
Caborteiro I - Cavalo ou outro animal,
manhoso, arisco, infiel, velhaqueador, que não se deixa pegar.
Caborteiro II - Indivíduo velhaco, esperto, manhoso,
mau, mentiroso, trapaceiro, tratante, que vive de expedientes.
Causo - Caso. Historia.
Charlar – Falar.
Chasque – Mandalete, office Boy – guri de mandado,
guri de recado.
Cousa – Coisa.
Cusco - Cachorro, pequeno , vira-lata.
Guasca – O mesmo que Bacudo.
Légua de queixo –
Retirado, meio longe, Diferente de Légua de beiço, pois esta indica alguma coisa que
fica perto. Logo ali.
Mocorongo – Soldado novo, sem conhecimento,
atrapalhado.
Num vu - Rapidamente, de
relancina.
Oitavado – Soslaio, meio de lado.
Plaga – Local, Região.
Praça-de-pré –
Graduação militar, Cabo.
Quera – Homem.
Reculuta – Recruta.
Relancina – De repente, rapidamente.
Seu Pasqual – Sono. Siesta.
Simbronaço -
Batida forte que se dá com o facão, susto.
Taita – Homem bom e protetor.
Tarimbado (a) –
Cheio de conhecimentos, malandro no bom sentido.
Taura - Homem de valor.
Buenas. Dada a
explicação passamos para o causo.
Havia assumido o comando de
um determinado Regimento de Infantaria no interior do Rio Grande do Sul um
Coronel carioca, chiador barbaridade. Chiava tanto que além de dizer Treich,
seisch, déich, dizia oitoxiiii.
Mas que
barbaridade...
Esse por ser um Regimento
dispunha de dois Batalhões com quatro Companhias, num total de oito e mais duas
Companhias Regimentais, uma de Canhões e outra de Comando.
Totalizava mais de mil
homens entre Oficiais e praças.
O índio velho não era
conhecedor desta República e ficou mais perdido do que cusco em tiroteio ao ver
os bacudos daqui charlando.
Acostumado com o jeitinho carioca de falar,
ficava meio oitavado bispando os guascas proseando sem entender muita cousa.
Aliás, sem entendera nada.
Certa feita, logo após a
formatura diária, que por ser diária acontece todos os dias, o que é obvio,
estava ele em seu gabinete de comando conversando com um cabo velho encarregado
da horta do Regimento que ficava na Granja, légua de queixo do quartel.
Queria ele saber algumas
cousas da praça-de-pré, tarimbada e tão logo terminada a confabulação com o
cabo hortelão, este pediu permissão para se retirar e saiu do gabinete batendo os
tacos dos borzeguins, indo embora sem muito xaraxaxá.
Era um cabo buenacho,
pau-ferro, apesar de ser um guasca grosso barbaridade.
Nesse meio tempo chegou ao
gabinete de Comando um Capitão, um quera meio taita, mas cheio de regulamento,
que a milicada já desde reculuta gostava muito, pois o taura era despachado e
gostava de ficar junto à soldadesca, até quando em vez tomando um mate amargo com
erva de barbaquá para passar o tempo, deixando os mocorongos ficarem a Seu
Pasqual logo depois do almoço.
Acompanhando o Capitão
chegou um Soldado, novo, meio biguano, mas mui prestativo, “pau pra toda obra”,
mais atilado que caburé em noite escura, e que servia na Companhia desse
Capitão, a 4ª de Fuzileiros.
Tal Capitão iria falar com o
Coronel Comandante sobre assuntos de serviço e já de relancina deixaria o tal
soldado junto ao Comandante como chasque naquele dia.
Nem bem havia batido a
continência para o Comandante, o Coronel num vu foi logo ordenando ao chasque
que corresse rápido e chamasse o cabo hortelão antes que esse saísse do
quartel, pois havia esquecido de uma recomendação, dizendo de relancina ao
reculuta para chamar o cabo hortelão, mas tão apressado que se confundiu nas
palavras e disse horteiro em vez de hortelão.
- Corra lá embaichxo
e me chchame o Cabo Horrrteiro.
O Soldado com aquele
simbronaço entendeu “caborteiro” e fez menção de correr, mas de
relancina parou olhou para o Capitão e imediatamente para o Coronel e
perguntou:
- Qual deles?
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