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sábado, 6 de dezembro de 2014

O Urubu


Certa feita, provavelmente em 1965, papai e eu conversávamos quando ele, um homem simples, pouco escolarizado, mas um excelente profissional em sua carreira militar, contou-me uma história que lhe haviam contado.

Não lembro, mas provavelmente tenha sido contada por Tio Tranquilo, um uruguaio casado com tia Anália, irmã de minha Avó Idelvira.

Maldito acordo ortográfico que tirou o trema. Muitos hão de pensar que o nome é “Trancuilo”, mas em castelhano do Uruguai é Trankilo, mesmo, só que se escreve Tranquilo.

Contou-me que certa vez no Uruguai, próximo a fronteira dois uruguaios ao saberem que um terceiro homem estava com a guaiaca forrada de pesos, pois havia ganho em uma carreira de cancha reta, resolveram assaltar o incauto e dele levar seu dinheiro.


Seguiram o infeliz que ia em seu cavalo vitorioso por um caminito de tierras coloradas, e em meio a um pajonal o assaltaram.

Porém o guapo gaúcho puxou seu talher de briga e se entreverou contra os dois.

Como estavam em pareja, levaram vantagem e o feriram mortalmente o pobre homem.

Caído ao solo, contorcendo-se em dores que queimavam suas vísceras, com a mão esquerda apontou para cima de uma árvore e disse aos assassinos.


--  Ali está minha testemunha.

Os dois alcaides olharam para o alto e lá encima da árvore viram um urubu que a tudo assistia, já sentindo o cheiro da morte.

Riram-se os dois bandidos e foram-se deixando o infeliz ali morto jogado a estrada.

A polícia não tinha nenhuma maneira de elucidar o caso, porém um inspetor resolveu, em um fim de semana assistir umas carreiras na vã esperança de tentar descobrir algo, onde parejas de belos cavalos disputavam, uma após outra as apostas que se acumulavam. 


A gauchada, aperada, apostava, enquanto tomava tragos e mais tragos.

O inspetor, desconhecido na região aproximou-se de um grupo que gracejava sobre o último páreo e ouviu dois paisanos conversando baixo.

Afinou o ouvido quando ouviu um dizer para o outro em voz baixa, enquanto apontava para um urubu que havia pousado sobre uma grande pedra que jazia em campo aberto.


- Mire usted, el testigo del difunto.

Aquilo chamou a atenção do policial, que na mesma hora deu voz de prisão aos dois, e depois de muitos interrogatórios chegou-se a elucidação do assassinato.

Buenas, tche, até aqui tudo bem.

Porém tal caso nada mais é do que uma adaptação de uma fábula grega, que encontrei ao ler “Eumenices”, no Blog “Porto Isabel”, do caríssimo Jaques Xavier Jacomini, que a publicou no dia 4 de dezembro último.


Vale a pena conferir.

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