Certa feita, provavelmente
em 1965, papai e eu conversávamos quando ele, um homem simples, pouco
escolarizado, mas um excelente profissional em sua carreira militar, contou-me
uma história que lhe haviam contado.
Não lembro, mas
provavelmente tenha sido contada por Tio Tranquilo, um uruguaio casado com tia
Anália, irmã de minha Avó Idelvira.
Maldito acordo
ortográfico que tirou o trema. Muitos hão de pensar que o nome é “Trancuilo”,
mas em castelhano do Uruguai é Trankilo, mesmo, só que se escreve Tranquilo.
Contou-me que certa vez no
Uruguai, próximo a fronteira dois uruguaios ao saberem que um terceiro homem
estava com a guaiaca forrada de pesos, pois havia ganho em uma carreira de
cancha reta, resolveram assaltar o incauto e dele levar seu dinheiro.
Seguiram o infeliz que ia em
seu cavalo vitorioso por um caminito de tierras coloradas, e em meio a um
pajonal o assaltaram.
Porém o guapo gaúcho puxou
seu talher de briga e se entreverou contra os dois.
Como estavam em pareja,
levaram vantagem e o feriram mortalmente o pobre homem.
Caído ao solo,
contorcendo-se em dores que queimavam suas vísceras, com a mão esquerda apontou
para cima de uma árvore e disse aos assassinos.
-- - Ali está minha testemunha.
Os dois alcaides olharam
para o alto e lá encima da árvore viram um urubu que a tudo assistia, já
sentindo o cheiro da morte.
Riram-se os dois bandidos e
foram-se deixando o infeliz ali morto jogado a estrada.
A polícia não tinha nenhuma
maneira de elucidar o caso, porém um inspetor resolveu, em um fim de semana
assistir umas carreiras na vã esperança de tentar descobrir algo, onde parejas de belos cavalos disputavam, uma após
outra as apostas que se acumulavam.
A gauchada, aperada,
apostava, enquanto tomava tragos e mais tragos.
O inspetor, desconhecido na
região aproximou-se de um grupo que gracejava sobre o último páreo e ouviu
dois paisanos conversando baixo.
Afinou o ouvido quando ouviu
um dizer para o outro em voz baixa, enquanto apontava para um urubu que havia
pousado sobre uma grande pedra que jazia em campo aberto.
- Mire usted, el testigo del
difunto.
Aquilo chamou a atenção do
policial, que na mesma hora deu voz de prisão aos dois, e depois de muitos
interrogatórios chegou-se a elucidação do assassinato.
Buenas, tche, até aqui tudo
bem.
Porém tal caso nada mais é
do que uma adaptação de uma fábula grega, que encontrei ao ler “Eumenices”, no
Blog “Porto Isabel”, do caríssimo Jaques Xavier Jacomini, que a publicou no dia
4 de dezembro último.
Vale a pena conferir.
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