No ano ode 1970, estava eu
agregado ao 9º Regimento de Infantaria, já que minha QM havia sido extinta, não
havendo portanto vaga para mim no efetivo da Unidade. Aliás, em nenhuma outra
Unidade do Exército.
No ano 1967, não fizera o
Curso de Formação de Sargento em decorrência de uma hospitalização para uma
intervenção cirúrgica de uma hérnia inguinal, o que praticamente me alijaria da
carreira, porém não deixei a peteca cair e continuei por mais uns anos no serviço
ativo.
Em 1970 fui compulsoriamente matriculado no CFC-Curso de Formação de Cabos, a fim de revalidar meu curso para
outra QM o que não estava em meus planos, porém, assim sendo ficaria mais um ou
dois anos ano no Exército, organizando minha saída da vida militar, para alegria de alguns poucos e tristeza para a maioria esmagadora de Oficiais e Sargentos.
Este foi para mim, por um
lado um período tranquilo, já que não estaria ali competindo com ninguém, era
cabo velho e qualquer que fosse o resultado eu não ficaria na tropa, nem mesmo
seria rebaixado.
Para Diretor do referido
curso fora indicado o competente Capitão Justo Botelho Santiago, que bem
assessorado faria o melhor curso até então realizado naquela Unidade.
O Capitão levou como
aprovisionador do Curso o então 1º Sargento Aldo Borges, que exerceria a função
de subtenente, já que era da mesma Companhia do Capitão Justo, a 4ª de
Fuzileiros, Companhia onde eu estava agregado.
Ou seja, a “bóia” estaria garantida, e de excelente qualidade, pois o então Primeiro Sargento Borges era
fera em organizar o rancho.
CFC 70 - Eu ao centro de camiseta branca.
Sabendo de minha trajetória
no Exército o referido Capitão, tão logo formado o contingente, me designou
para os serviços burocráticos, desenhos, datilografar polígrafos e outros afazeres dentro da parte de
instrução.
Um mês após o início do
Curso, essa tropa sob o comando do referido e competente Capitão rumou para
campos próximos ao Laranjal, em Pelotas, para ali montar acampamento, onde
entre outras coisas faríamos vários treinamento e instruções.
No segundo dia fui escalado
pelo Capitão para algumas atividades, tendo em vista as instruções de tiro
diurno, tiro noturno, morteiro, lança-rojão, granadas-de-mão e metralhadoras.
Determinada noite fizemos o
treinamento de tiro noturno, com balas traçantes, tipo de munição que ao ser
disparada deixo no ar uma risca vermelha, e entre outras coisas serve para
indicar um local que deve ser atacado durante a noite, pois não é de utilização
usual em combate.
Os alemães usavam essa munição em seus aviões, nos combates noturno, como forma de abater o moral dos pilotos da RAF e depois dos Aliados e Soviéticos.
Todos os soldados do Curso
sentados em uma ravina ouviram a preleção do Capitão sobre o tiro com balas
traçantes e tão logo feita sua exposição peguei meu fuzil o famoso FAL e de mão
de três carregadores, num total de 45 tiros fiz uma demonstração aos soldados
com aquelas maravilhosas balas traçantes.
Indicando com a trajetória
da bala traçante o alvo que deveria ser atacado e dando tiros a esmo em duas
diferentes direções.
Quase 21 horas e riscos
vermelhos cortando o céu naquela noite escura.
Após a demonstração feita
por mim, os três sargentos monitores junto com a tropa fizeram centenas de disparos
com munição do mesmo tipo.
Lindo de se ver, o céu negro cortado por infinitos
riscos vermelhos que se perdiam de vista, todos eles disparado de oeste para
leste e de oeste para nordeste.
Maravilha.
Na manhã seguinte logo após
o toque de alvorada, todos foram para o rancho, em meio às árvores onde seria
servido o café com leite, muito pão com schimier e bananas à vontade para a
tropa.
Estava eu conversando com o
Capitão, em pé ao lado da fogueira, quando aproximou-se o Sargento Borges dizendo ao Capitão que iria
até a Colônia Z3, comprar peixes para o almoço.
O dia recém começava a
clarear.
O Capitão autorizou e mandou
que eu acompanhasse o Sargento Borges.
Os dois graduados com suas
armas na cintura e mais um soldado motorista, foram em um grande caminhão do
Exército rumo a tal colônia de pescadores, a Z3.
Era uma vila pobre, as margens
da Lagoa dos Patos, que ainda existe, mas vão-se 44 anos, nunca mais voltei por
essas plagas.
Quando o caminhão adrentou à
vila, com seu motor possante fazendo enorme barulho, antes das 6.30 da manhã, o
povo da vila saiu de suas casas e cercou o caminhão.
Não sabia o que estava
acontecendo, então com o caminhão ainda em marcha me pus em pé do lado de fora da
cabine, momento em que o motorista estancou a marcha.
Todos os civis, mais de 20
pessoas, homens, mulheres e crianças, aglomerados em minha volta, queriam
falar, mas não os entendia, já que todos falavam junto.
Levantei a mão direita e
pedi que se organizassem para falar, pois assim não conseguia entender e se
houvesse algum problema grave nós poderíamos resolver.
Desci do estribo do
caminhão, momento em que o Sargento Borges também desceu e ficamos cercados por
homens e mulheres humildes que se notava em seus semblantes que havia
acontecido algo muito sério e apavorante.
Um dos homens, parecendo ser
o líder daquela comunidade perdida no meio do nada, apavorado, meio tropeçando nas palavras me disse:
- Ainda bem que vocês
vieram, pois eles estão invadindo a Terra.
Outro pescador falou:
- Nós todos vimos. Foi uma
coisa horrorosa. Passamos a noite em claro.
- Calma pessoal – Disse o
Sargento Borges – O que está acontecendo.
Uma mulher gritou do meio do
povo:
- São
os discos voadores. Nós vimos disparando raios.
Dei uma rápida olhada em
direção dessa senhora e imediatamente pedi ao que parecia ser o líder
comunitário que nos explicasse o que estava acontecendo.
O pobre homem apavorado então
relatou que ele e outros passaram a noite em vigília, pois viram para o lado do
Laranjal muitas luzes cortando o céu como se fossem raios vermelhos, em várias
direções, e se nós já estávamos ali tão cedo é por que alguma coisa de outro
mundo estava acontecendo no local.
- Calma pessoal – disse – o
que vocês viram esta noite foi um treinamento do Exército, pois estamos
acampados a menos de dois quilômetros daqui.
Ai o Sargento Borges, meio
rindo disse:
- Nós viemos aqui só para comprar
peixe.
Segui conversando com os
pescadores e seus familiares dizendo do que se tratava o treinamento e que era
para eles se acalmarem, pois nada mais eram que balas traçantes.
O Sargento Borges afastou-se
do grupo com dois pescadores a fim de comprar peixes.
Meio desconcertados ficaram
a me olhar, enquanto eu dava várias explicações àquele povo humilde e apavorado
que juravam ser alienígenas invadindo a nossa Terra.
Voltou o sargento Borges e
me disse:
- Não tem peixe.
Voltamos para o acampamento
de mãos abanando, mas tranquilos, pois havíamos acalmado aquele povo humilde
que estava apavorado com as luzes do outro mundo.
Luzes que apesar de ter
apavorado aquele povo, transformara a sua noite em um espetáculo como nunca
haviam visto até então.
Fico imaginando o pavor de
uma gente humilde vendo aquele espetáculo sem imaginar o que poderia ser. E é
assim que surgem tantas e tantas lendas. Pelo desconhecimento, pela ignorância
e pelas crendices.
Mas não tinha peixe.
Pô!
Olá Pedro Teixeira.
ResponderExcluirUm grande abraço deste extremo ocidental da Europa, direitinho ao sul, com votos de Ano Bom 2015. Obrigado por tudo.
Que honra, meu caríssimo Carlos.
ResponderExcluirUm grande abraço e um belíssimo ano para você e a todo o povo português.
Também obrigado.
Saúde e paz.
Servi também no último ano da 4 Cia. Lendo agora teu post, lembrei desse acampamento. Curso de formação de Cabos, acompanhado da 1 Cia. Me lembro de ti, desenhando no quadro Negro. Cássio, 868. Abraço.
ResponderExcluirLembrei de tudo isso. Acampamento do curso de formação de Cabos, Laranjal, último ano da 4 Cia. Lembro de ti desenhando no quadro negro. Abração. Cássio, 868.
ResponderExcluirCássio, meu querido irmão d'armas, que prazer imenso.
ExcluirE lá se foram 48 anos e reviver esses momentos me trouxe muita alegria e emoção, uma emoção muito grande. Foi na verdade um dos melhores Cursos realizados no 9º. As lembranças ficaram gravadas a fogo e lembro-me perfeitamente de todos os momentos daquele acampamento. Lembrando que tive a ideia de colocar duas garrafas de gasolina presas as toras de eucalipto que serviriam de alvo para os lança rojões, e quando o primeiro rojão explodiu levantou enorme língua de fogo naquela noite memorável. Quando saí de exército procurei logo uma formação superior, formando-me em geografia, anos após, já em Canoas cursei a faculdade de história, hoje estou aposentado e levo uma vida entre estudos, escritos e estou em vias de publicar um dos meus seis livros. Caro Cássio, que bom saber de ti e com muita emoção deixo a teu dispor este espaço e o espero outras vezes. Hoje moro em Canoas (40 anos). Que a paz, alegria e saúde estejam contigo. Ah! Continuo desenhando.
Caro irmão, atualize-me. Lembras de uma noite que o Curso saiu para uma instrução com bússola e na volta a maioria das barracas estavam desarmadas. Também foi ideia minha para testar o moral da tropa. Muitos dormiram ao relento. Mas valeu aquela surpresa. Saúde e paz. Hoje sei que terei uma noite de sonhos com a tropa, pois muita alegria trouxeste ao meu coração já setentão. Abraços 868.
Cabo 169 Teixeira da 4ª Cia.
JUSTO BOTELHO SANTIAGO... https://youtu.be/GS30l9oS0sA
ResponderExcluirConsta que hoje, aos 87 anos, reside em Pelotas. Abraços.
ResponderExcluirCaríssimo senhor: Realmente esta notícia trouxe-me alegria, pois Justo foi um grande Capitão, na época, e com ele trabalhei e pude mensurar toda a sua competência e camaradagem. Poucos são aqueles que nutrimos simpatia, pois nesse meio há muita carne de cobra. Agradeço muito esta notícia. Um grande braço, de certo quanto for a Pelotas procurarei esse, provavelmente hoje General. Muita saúde e alegria.
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