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domingo, 4 de março de 2012

Valorização do(a) Professor(a)

          
Há uma grita geral, e com razão no meio da educação sobre a desvalorização dos professores, na qual me engajo, pois este compromisso social até agora tem sido a pedra angular que me faz continuar insistindo em transformar as coisas que acho estarem erradas, pois se o contrário ocorresse, ou seja, se o sistema que acredito estar errado me transformasse realmente nada mais me restaria, a não ser fazer parte da massa que tudo aceita sem nada contestar, sendo juntamente posto no brete como gado, ordeira e pacificamente.
          
Entretanto faço parte de uma maioria de educadores que insiste em transformar e ser parte desta maioria que luta por não aceitar as mazelas que transformaram a educação nisto que temos hoje, e não falo na coisa localizada e sim no todo, é ser um sonhador.
          
Sonhar com um mundo melhor, com uma sociedade justa.
          
E sonhar ainda é a mola propulsora das grandes transformações.
          
Portanto essas mazelas vem há muito sendo incrementadas, começando a partir do fatídico 1º de abril de 1964 e por outros governos que a ditadura sucederam, que vêem na educação, no conhecimento e na cultura um perigo para o “status quo” e a cada mudança de governo surgem salvadores da Pátria com formulas miraculosas para a educação, mas quase todas tem se mostrado inócuas.
          
Para entender a tal, precisamos fazer um estudo da sociedade, que há cinquenta anos começou a transformar-se de agrária em urbana e isto fez com que a coisa pública tivesse que investir muito para educar essa massa até então alijada do saber, além do crescimento vertiginoso da população que nestes cinquenta anos mais que dobrou.
         
Isto se tornaria perigoso para aqueles que mantêm não os governos, mas o poder. 
          
O poder econômico.
          
Comum é ouvir dizer que, “antigamente”, referindo-se aos anos cinqüenta, o ensino era melhor.
          
Isto é até certo ponto óbvio, pois nesse “antigamente” o público alvo era outro.
          
Uma pequena parcela urbana composta de uma classe média formada de doutores, funcionários públicos, civis e militares, comerciantes, e poucos proletários, onde quase totalidade estudava em excelentes e organizados colégios públicos, que com o inchaço das cidades, ocorrido pela expansão industrial e consequentemente o êxodo rural fez com que não mais interessasse a esse poder econômico de dar à milhões de despossuídos que vinham do campo, educação e cultura. Onerava o estado, e acreditavam as elites burras que governaram este país, que novas e “perigosas” idéias poderiam surgir e dilapidar o que havia sido construído pela vil exploração do ser humano.
          
Lembrando que o analfabetismo era em percentuais vergonhosamente elevados.
          
Pragmatizou-se a educação, eliminando-se cátedras que incentivavam o educando a pensar, e introduziram alterações que ajudaram a imbecilizar essa massa.
          
Quanto menos souber, melhor.
          
Precisamos de robôs e não de pessoas que pensem, para executar o que for ordenado sem contestação, pois tudo o que “acontece” tem um porquê, é um desígnio, ou é um projeto extraterreno.
          
Assim sendo a imbecilidade vai aceitando e a nada contestando, pois contestar é “pecado”.
          
Resignar-se é o lema.
          
Já, a chamada Educação Humanista visava facilitar ao educando o seu crescimento e aperfeiçoamento contínuo.
          
Educava-se dando não só o conhecimento necessário não para ser um autômato, mas sim para ser um cidadão, cônscio de suas responsabilidades e direitos, tendo em vista uma vida mais produtiva e harmoniosa, apoiando-se na satisfação das necessidades humanas, em níveis cada vez mais elevados e no desenvolvimento da personalidade e da percepção real da sociedade.
         
Busca-se agora resgatar o tempo perdido, com projetos mais ousado, novas técnicas de abordagem, mas ainda estamos muito longe do que realmente o povo brasileiro merece.
          
Esperemos que se aprofunde esse resgate e não fique apenas na retórica, pois dessa já estamos cansados.
         
Estamos na verdade, saturados.
         
Por outro lado com a criação e futura ampliação do piso nacional do professor, dá-se a esses um novo alento, coisa que para a maioria, principalmente para os profissionais estaduais e de alguns municípios é o primeiro passo no caminho da valorização.
         
No Norte e Nordeste do País a diferença foi muito grande, um sonho para eles quase que inalcançável, mas que com seriedade está se tornando real.
         
Entretanto não basta apenas ficar lançando estilhas contra o sistema, que apesar de tudo continua sendo um poder conservador, pois além de fazermos parte do mesmo, somos capazes de transformá-lo e se não temos a capacidade de fazê-lo é por conivência ideológica elitista ou total desconhecimento de nossas potencialidades.
Porém qualquer transformação deve se dar em primeiro lugar no próprio profissional.
     
No nosso interior, pois reside em nós grande parte do estigma da desvalorização e do desrespeito, da piada acintosa e descabida, do desinteresse real de ouvir-nos, não só como indivíduo, mas e principalmente como classe organizada.
          
Começando pela baixa autoestima, a “síndrome do coitadinho”, proveniente de baixos salários para a esmagadora maioria, da carga horária estressante, das salas de aulas superlotadas, do material raro e inadequado e da total falta de segurança.
          
Convivemos com todos os tipos de marginalidades, temores e traumas, que nos deixam em dúvidas, muitas vezes, se vale a pena continuar. Pós-graduar-se, fazer um mestrado ou doutorado.
          
Valeria a pena?
           
Muitíssimos acham que não. E muitos optam em cursar outra faculdade e mudar de ramo.
           
Felizmente temos um exército de abnegados que quer continuar lutando pela educação. Porém desses uma parte significativa em todo o país deveria fazer uma auto-análise comportamental e ver que:
          
Exigimos dos alunos silêncio em sala de aula, mas somos os primeiros a ficar em conversas paralelas em cursos, palestras e solenidade.
         
Imploramos dos nossos alunos mais empenho, entretanto não somos capazes de ler bons livros, nos atualizarmos, e de ter o domínio da matéria.
          
Cobramos uma postura cívica quando da execução de um hino, entretanto, em grandes grupos continuamos conversando, rindo, contando piadas, mantendo a cabeça coberta e fumando durante essas execuções, num péssimo exemplo.
          
Exigimos de nossos educando o cumprimento de horário, mas somos nós que saímos de uma palestra antes de seu final, apesar de nela termos chegado atrasados, às vezes muito depois do horário estipulado.
          
Pedimos educação aos nossos pupilos, mas somos os primeiros a dela abrir mão, esbravejando em lugar de falar, gargalhando despregadamente ao invés de rir, fumando em local proibido e muitas vezes ter um comportamento censurável, não condizente com os princípios básicos de educação, urbanismo e decência.
          
Notamos também o desleixo em nosso visual, roupas inadequadas para a ocasião, compatíveis muitas vezes com outras profissões menos com a de educador, Excesso de adereços. Desgrenhamento. Desalinho. Postura.
          
Não se faz necessário sonhar com Chanel, Givenchy, Saint Laurent, Versace ou Armani e sim com o bom senso, o que para alguns é “palha”, o negócio é andar “fuleiro”.
          
E dizer que isto é um sentimento pequeno-burguês, é esquecer que grandes e verdadeiros revolucionários andavam alinhados, de Karl Marx a Olga Benário, de Wladimir Lênin a Rosa Luxemburgo e não podemos confundir revolucionário com revoltado. E não devemos confundir andar vestido adequadamente com andar em traje de gala.
           
No jeito deseducado de comunicarmos, nas atitudes, muitas vezes toscas, nas boas maneiras que são esquecidas, no trato não só com seus pares, como com alunos e com o público em geral, na postura diante da sociedade, no exemplo diante dos discentes ou desta mesma sociedade que nos paga, e muitos, lamentavelmente na própria higiene pessoal, o que não necessita de altos salários.
           
E, acima de tudo no resgate do que se convencionou chamar de ética.
           
Essa transformação, para alguns, camaleônica, virá ao encontro do respeito que reclamamos, da valorização que exigimos e que está presente em outras profissões, talvez aí não ouviremos mais aquela humilhante e desdenhosa frase dita, fazendo caras e bocas  após nos identificarmos como educadores:


                             Ah!!! Professor...

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