Isto, segundo informações aconteceu nos anos 20 e se escrevo neste blog, com relatos diferentes sem perder a verdade dos fatos, é para que como muitas outras coisas são venham a cair no esquecimento.
A brisa tênue e quente que soprava fazia com que as derradeiras brasas da fogueira, já quase transformadas em cinzas, rutilassem como rubis naquela noite escura.
Pendurado em um galho de um tamarindeiro, tão velho quanto o tempo, espargia sua esmaecida luz uma velha tosca lamparina. Sua chama cambaleante fazia com que as sombras da mata dançassem como alegóricas figuras, tendo como fundo musical o triste cantar dos insetos e das aves noturnas.
Do alto de um buriti, um urutau, com seu melancólico gorjeio, chamava a luz da Lua que teimava em acoitar-se entre as densas nuvens que profetizavam forte aguaceiro.
O menino que há pouco corria descalço pelas empoeiradas e largas ruas da pequena Dourados, transformara-se em um homem amargo e vingativo.
Naquela noite as margens do Apa, remoía seus pensamentos, enquanto observava as seis orelhas que trazia presas a sua cinta feita de um couro de cascavel.
No alto não mais cantava o urutau e a chuva começara e aos poucos tudo estaria inundado.
O solitário viajor recolheu seus últimos e parcos pertences, colocando-os na bruaca atrelada a um cavalo zaino e montado em um baio seguiu seu caminho noite a dentro, como um anjo da morte. Taciturno.
Choveu toda a noite, e na madrugada os raios primeiros do Sol descortinavam um dia de céu cerúleo.
Enrolado em uma grossa capa, recostado ao tronco de um jatobá, onde dormira, acordou e vaticinou um dia quente e úmido.
Comeu o último pedaço de carne seca, bebeu a água límpida de um corguinho e pôs-se a cavalgar em sua saga lúgubre.
No arrebol, após um dia cansativo, sob o Sol abrasador, que transformara o cerrado em verdadeira fornalha, cavalgava em direção ao Itahum.
Aos poucos a canícula foi sendo substituída pela brisa fresca do oeste, que amenizou um pouco a cansativa jornada.
A noite caíra rápido, observava ao longe os pirilampos em seus voos inquietos, formando no meio da mata azulada um espetáculo colorido de vai-e-vem numa contínua formação de arabescos luminosos.
Naquele momento, embevecido pela natureza jurou que se o homem que procurava, aparecesse em seu caminho o mataria, mas se a Dourados chegasse sem encontrá-lo, esqueceria para sempre o juramento de vingança que fizera há quatro anos.
Ao cruzar o rio Perobinha, avistou na margem oposta, no meio do arvoredo uma amarelada e fraca luz que indicava uma vivenda.
Dirigiu-se para aquele pobre casebre, onde sob a luz quase morta de um velho lampião a querosene, pediu um pouso e ali dormiu em um canto escuro, no chão.
Na madrugada acordou com o relinchar de seus cavalos. Levantou-se e mesmo com a pouca luz da madrugada, pode melhor ver o bom homem que o hospedara.
Um homem alto, esquálido, barbas e cabelos crescidos e desgrenhados, que lhe trouxera uma caneca de leite de cabra, para amenizar um pouco de sua fome.
Conversaram um pouco, e quando o mensageiro da morte perguntara-lhe o que fazia só naquele ermo lugar, ouviu uma resposta que não esperava.
O pobre homem contou que ali estava acoitado, pois há quatro anos, após uma bebedeira, seus irmãos e ele haviam tiroteado e matado um sobrinho de Marcelino.
E já soubera que um irmão do morto havia jurado matar os algozes do jovem rapaz, e sabia que quatro de seus irmãos já haviam sido mortos.
Repentinamente o solitário vingador sacou seu revólver, um BH .38, dizendo ser ele o irmão do jovem assassinado em Dourados e que já havia matado seis irmãos restando apenas ele, o infeliz homem.
O pobre homem, assustado e perdido em seus pensamentos não esboçou nenhuma reação.
Mas o desconhecido viajor deu uma oportunidade àquele que naquela noite o abrigara e tão cedo o alimentara.
Do lugar em que estava sentado, em frente a porta do velho casebre, ordenou ao empalidecido homem que caminhasse até a sombra de uma aroeira, pois o Sol já iluminava aquele fatídico dia.
Sem levantar-se da cadeira, daria um único tiro e se errasse esqueceria o juramento de morte, e poderia àquele pobre homem ter uma vida normal.
O infeliz caminhou uns cinqüenta metros e ao chegar à sombra da aroeira, sob o voo dos tuiuiús, com um certeiro tiro na nuca mortalmente tombou sobre a terra vermelha esparramando seu sangue pelo solo do belo Mato Grosso.
O Anjo da Morte, deste também decepou uma das orelhas que ensanguentada ainda pendurou a sua cinta, sumindo tão silenciosamente quanto chegara.
Esta história me foi contada em outras palavras por um neto do Anjo da Morte que ainda vivia em Dourados quando naquela cidade morei nos anos 70. O Anjo da Morte ficara conhecido como o “Sete Orelhas”, as quais com ele foram enterradas quando anos após veio esse a falecer.
Em abril finalmente vai estar impresso em brochura o livro sobre o personagem Sete Orelhas que foi lançado encadernado em Santana do Garambéu, MG, em 26 de julho de 2011.
ResponderExcluirEsse livro busca retirar todas as suas dúvidas sobre o chamado caso das sete orelhas.
O nome do livro é O SETE ORELHAS, OU A HISTÓRIA DAS PERSEGUIÇÕES AOS DESCENDENTES DOS COLONOS DE ORIGEM FLAMENGA NO BRASIL.
Aguardem!!!
Carísssimo Dalessandro, meu dia iniciu com uma das mais esperadas notícias, e o Sol prece-me estar brilhando mais claro. Que notícia boa recebi de tua parte. Fico contente que essa história realmente não cairá no esquecimento. Muitíssimo obrigado.
ExcluirHoje mesmo sairei em procura desse Livro.
Obrigado mesmo. Grande abraço.
Fiquei tão emocionado que finalmente esse livro será lançado que não me dei por conta que isto ocorrerá somoente em abril. Portanto quando abril chegar sairei em busca deste tesouro.
ResponderExcluirCaro Dalessando, novamente obrigado.
Pedro, o livro O Sete Orelhas ou a História das Perseguições aos descendentes dos colonos de origem flamenga no Brasil (392 pags.) pode ser adquirido pela editora que publicou o livro, a Editora Mormannese Eireli no e-mail dela editora.mormannese@gmail.com
ExcluirO preço do livro é o do lançamento ainda, R$ 50,00.
A esse preço acrescente R$ 6,80 de remessa postal.
Um abraço,
Luciano, o autor