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sexta-feira, 16 de março de 2012

Pai e Mãe. Dá para Esquecer?

                                      Maria Joaquina de Castro Teixeira (Quininha) 
                                            e Floribal Farias Teixeira (Minoso)

 
Realmente não dá para esquecer.

              
Viram-se pela primeira vez quando ela tinha apenas sete anos e ele seis, e nunca mais se encontraram, mas ela jamais esqueceria daquele piazinho de olhar penetrante, de perninhas brancas e olhinhos verdes, por quem ela a menininha do interior se apaixonara em sua tenra e ingênua idade.
            
Mas o tempo foi passando como água em uma cascata, rápida e sem volta, mas que não apagava de suas lembranças aquele menininho que havia visto rapidamente quando à cidade de Pelotas fora no ano de 1923 com seus pais visitar um sobrinho de nome Alvarim e sua esposa Evalquíres e suas ainda pequenas filhas Sueli e Gessi.
             
Foi como uma aparição, ele, o menininho das perninhas brancas chegou à porta da casa de Alvarin, observou as pessoas e como se fosse um anjo para ela olhou e subitamente foi embora correndo, e ela em um pulo foi até a porta e viu apenas ele sumir em uma casinha simples do outro lado da rua.
             
Impressionada com o menininho, passou a infância lá no Passo das Pedras, no Capão do Leão, brincando com dois bonequinhos de panos feitos por Dindinha Felizina, a velha e doce empregada.
             
Um representando ela própria e o outro o menininho humilde, que morava na Vila Caruccio, no Bairro Fragata em Pelotas.
             
Nuca mais se encontraram.
            
Anos depois fora morar nessa cidade, onde conheceu um rapazinho com quem começou a namorar e finalmente casar.
            
Mas não se esquecia do menininho das perninhas brancas.
            
Certo dia, quando sua segunda filha, ensaiava os primeiros passos, e que recebera o nome de Ieda de Lourdes, sob os cuidados do jovem marido, preocupou-se ao vê-lo tentando ensinar a filha a caminhar, pois perdera sua primeira filha prematuramente e disse:
            
- Cuidado, não a largues, pois ela poderá cair.
            
O marido sorrindo, sentado na cama respondeu:
            
- Deixe disso Quininha, eu sei muito bem cuidar de crianças, afinal eu já ensinei duas menininhas a caminhar e nunca às deixei cair.
            
Desdenhosa, Quininha perguntou:
           
- Que meninas tu ensinaste a caminhar?
           
- Ah, foi há muito tempo, eu era ainda um “mandinho” de cinco ou seis anos e de vez em quando ia para a casa de uns vizinhos e passava os dias brincando com suas filhas, que aprenderam a caminhar comigo.
           
- Ah! Ah! Acredito! Mas quem eram esses vizinhos? - Perguntou Quininha.
           
- Ué! - Respondeu o marido - Eram vizinhos de minha mãe, lá da vila Caruccio.
           
- E tu moraste na vila Caruccio ?- Perguntou Quininha.
           
- Sim! - Respondeu o marido e completou:
           
- Eram “boa gente”, simples e muito queridos pela vizinhança.
           
- E quem eram esses vizinhos? - Perguntou Quininha, novamente.
           
- Era o Alvarin e a Evalquires, pais da Sueli e da Gessi.
           
Quininha, nervosa e incrédula, aproximou-se da porta do quarto e ficou por algum tempo apenas olhando para o seu marido, num misto de surpresa e alegria.
           
O homem que ela havia casado seria o menininho das perninhas brancas que ela tanta sonhara?
           
- Eu morava em frente a casa deles, do outro lado da rua - disse Minoso à pasma esposa, que incrédula sentia o coração sair pela boca de alegria, de perplexidade, de emoção e sobretudo de um infinito amor.
           
Ele, sem entender a perplexidade da esposa, continuou:
          
- Volta e meia eu atravessava a rua para brincar com as filhas do Alvarim.
          
Quininha encostou-se ao marco da porta e com os olhos transbordando em lágrimas quis saber mais.
          
Sem entender, o marido segurando sua filha entre os braços, quis saber o que fizera sua doce mulher chegar às lágrimas.
          
Quininha, numa felicidade sem igual, numa alegria contagiante, chorando e rindo ao mesmo tempo queria ter a certeza de que aquele homem que ela havia se casado era mesmo o menininho.
           
E a cada respostas as suas inúmeras perguntas suas dúvidas foram se apagando e ela num estado de alegria, num estado de graça sufocante via que seus sonhos de menina haviam se realizado e suas brincadeiras com os bonequinhos de pano feitos pela sempre lembrada Dindinha Felizina tornavam-se realidade.
          
Foi um momento de mágica alegria e ele pouco lembrava daquele dia, para ambos tão longínquo, mas que para ela permaneceu vivo. Um sonho de menina que nem os mais lindos contos de fadas poderiam ousar em retratar.
         
E viveram num amor tão grande que os conservou juntos como dois namorados por mais de setenta anos.
               

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