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domingo, 25 de março de 2012

Porto Alegre, Uma História Mal Contada


          
Bem no início dos anos 70, a imprensa divulgou uma ação policial, ao lado do Palácio do Comércio, entre a Julio de Castilhos e a Mauá, onde dizia que o brigadiano de tal, havia matado um homem negro de seus 50 anos com um tiro e que a bala entrou no peito e saiu pelas costas, e que o morto estava armado.
          
E tal policial militar havia assim procedido em legítima defesa.
          
Vivíamos em tempos duros de ditadura, onde se fazia e acontecia sob a capa escura do desmando e da injustiça, em nome e em prol do capitalismo, do modelo estabelecido pelos americanos.
          
Havia a pouco deixado as fileiras do Exército, onde permaneci por alguns anos, e exercia na época meu primeiro serviço civil.
         
Naquela noite, rumava para casa a bordo de um ônibus da Companhia Carris e assisti a menos de 10 metros um assassinato cruel e descabido.
         
Na verdade o pobre homem negro, calçando velhos chinelos de dedo, sem muita agilidade tentava fugir da polícia.
         
Os dois jovens policiais bastavam correr um pouco para alcançá-lo, mas para quê, se uma bala vai bem mais rápido. E foi o que fez um dos jovens brigadianos. Levantou seu revólver e sem dó nem piedade atirou pelas costa, matando o infeliz.
         
Matou-o por ser um delinqüente, ou por ser pobre e negro?
         
O contrário foi atestado e o laudo pericial apontou que o tiro foi dado pela frente do infeliz.
         
Chocado, relatei a uma autoridade policial o que havia testemunhado, mas essa me aconselhou a não mexer no caso, pois eu poderia me transformar de testemunha em próxima vítima.
         
Jovem e confuso há pouco tempo fora da farda e sabendo o que acontecia nos quartéis, nas masmorras da ditadura, onde vi muitos serem presos e sabia das torturas que aconteciam a quem pensasse diferente, calei e isso me acompanha até hoje como um pesadelo, onde vejo o covarde policial a menos de seis metros da vitima levantar com naturalidade a arma e disparar certeiramente as costas do infeliz que caiu a poucos metros da esquina da Mauá.
         
Com o tempo e com o amadurecimento fui então mudando minha visão de mundo. Sou sim a favor de leis duras contras delinqüentes, sejam eles quem forem, pobres, ricos, traficantes, assassinos, estupradores, políticos e funcionários públicos corruptos.
          
Porém sou e serei sempre contra a covardia e a mentira, dois males que me parecem ser para muitos motivo de glória.
         
Sou e serei sempre a favor de bons, treinado e honestos policiais, porém serei sempre contra a chamada banda podre da polícia, pois são bandidos fardados que ganham seus salário pagos pelos nossos impostos e agem como marginais.
          
O bom profissional não precisa ser mal educado, prepotente muito menos truculento, basta ser também cidadão e respeitar quem lhes paga o salário, que são pequenos para quem anda nas ruas pondo suas vidas em riscos, pois os de gabinetes são bem pagos.
          
E que todos me perdoem, pois calei.

4 comentários:

  1. Olá RM.
    Infelizmente assisti a esta barbárie e quantas outras foram feitas e não testemunhadas.
    Um privilégio tê-lo em meu blogue e um fraterno abraço.

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  2. Meu caro professor!

    Saudações.

    Gostei do blog e coloquei o mesmo nos meus favoritos inclusive;
    Recomendarei alguns amigos, sempre gostei de história, principalmente as dos escravos e como viveram. um fortíssimo abraço.

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  3. Olá Caríssimo RM.
    Obrigado por ler e recomendar meu blogue, assim como seus comentários sempre bem-vindos. Há muita coisa neste blogue para ser lido, analisado, comentado ou criticado. Fique sempre a vontade em dispor dele.
    Um fraterno abraço.

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