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quinta-feira, 29 de março de 2012

O Cuca

                  
Em 1976 visitava Itiquira, no Estado do Mato Grosso e a tarde passava por uma de suas ruas, sem calçamento daquela então pequenina e pobre cidade e vi uma menininha cercada por vários cachorros que brincavam no meio da rua.
                 
Um animal chamou minha atenção, pois brincava também em meio aos cachorros, saltando e dando cabeçadas na guaipecada, era um veadinho campeiro.
                 
Parei o carro e falei com a menininha, perguntando se ela não gostaria de vender-me o seu animalzinho de estimação.
                 
A menininha correu até sua, sendo seguida pelo veadinho e pelos cachorros, voltando logo após com sua mãe.
                
Feliz da vida a senhora pediu pelo animal, vinte e cinco cruzeiros, que era um bom dinheiro para a época, e eu consternado com a menina, dei-lhe cinqüenta cruzeiros.
               
Alegre e com os olhinhos brilhando a menina passou as mãos de sua mãe aquela quantia de dinheiro que para ambas era muita grana, muito pila.
               
Eu tinha em mente outra coisa para o animalzinho, a de reintroduzi-lo à natureza.

               
Fiz uma viagem de mais de novecentos quilômetros com o animalzinho dentro de uma grande caixa de tela que um marceneiro na cidade de Rondonópolis fez a meu pedido, e lá rumei de volta para casa na cidade de Dourados, no Mato Grosso do Sul.
               
Por um mês, Cuca como fora apelidado por Franco, meu filho mais velho que na época contava pouco mais de um aninho, ficou em nossa casa, sendo bem tratado e bem alimentado.
               
Um belo dia fomos até a cidade de Itahum, visitar o grande amigo Adi Fortes, velho taura, legítimo Gaúcho, de gadelhas compridas, azuladas de tão negras e pele cor de cuia, típica dos missioneiros, natural de São Luís Gonzaga e que era o capataz da Fazenda Campo Triste, pertencente a outro rio-grandense de origem alemã, chamado Lauro Dieling.
               
A ele, Adi Fortes dei de presente o Cuca, dizendo que o aquerenciasse preso e bem alimentado e depois de acostumado com a casa o deixasse livre e solto, para ver se o animalzinho por sua conta fosse viver livre como nascera.
                
Passado pouco mais de um mês, o Cuca, avistou um bando de veados da mesma espécie, a esse grupo se juntou e nunca mais foi visto. Seguiu seu caminho, o caminho que a natureza escolheu para cada espécie e que a animalidade humana destrói todos os dias.

2 comentários:

  1. Tu és rapidinha, mal postei e tu já estás aí. É minha filha, a vida nos leva invariavelmente ao passado, um passado que nunca mais voltará, um tempo melhor que o atual, não no sentido de progresso, mas no sentido de natureza. as coisas estão mesmo acabando por culpa deste sitema extremamente cruel que é o capitalismo. Pois tudo é matéria vendável, até a natureza. Viva o Cuca e que tenha sido feliz enquanto viveu.

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