O ato de tomar chimarrão ou
mate é um costume mui antigo o qual não se pode precisar quando iniciou, o que
se sabe é que foram os índios Guaranis os primeiros a tomarem esta infusão
maravilhosa, feita a partir da erva mate a Ilex Paraguariensis.
Escrever sobre o costume de
tomar chimarrão ao povo Gaúcho, seja do Rio Grande, do Uruguai ou da Argentina
é malhar em ferro frio, mas o faço em atenção a um amigo que mora na cidade do
Porto em Portugal, que é nosso leitor assíduo, chamado Carlos Romao, o qual tem
dois ótimos blogues, o “A Cidade Surpreendente e A Cidade Deprimente”, os quais
valem a pena visitá-los, pois a genialidade portuguesa nos brinda com
maravilhosas fotografias, verdadeiras obras de arte.
O chimarrão não é uma bebida
de toda a América do Sul, como alguns afirmam, ela se restringe a grande parte
do Cone Sul , ou seja,
é uma bebida mui apreciada no Paraguai, onde ela surgiu, porém, na forma de tererê. Na Argentina, Uruguai, Sul do Brasil (Rio Grande do Sul, Santa
Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, e hoje o chimarrão, por conta da migração
do povo rio-grandense é encontrado em menor número também no Mato Grosso, Goiás
e outros Estados), também vamos encontrar o chimarrão no Chile, principalmente
no sul do país e no sul da Bolívia.
Tererê.
O tererê é a versão fria ou
gelada do chimarrão que é tomado quente, porém não pode ser fervido. A água
apenas tem que chiar na cambona ou na chaleira e nunca ferver, pois a fervura
queima a erva, tirando o gosto e as propriedades nutricionais.
Presidente Getúlio Vargas tomando mate.
Indubitavelmente o Rio
Grande do Sul é o Estado Brasileiro o que mais se toma chimarrão, é uma
característica e símbolo do Estado, porém este hábito é no Uruguai que mais
chama a atenção, onde o consumo per capta é muito superior que em outros
lugares. É um hábito tão arraigado que durante todo o dia tu encontrarás pelas
ruas, fazendo compras, indo ou vindo do serviço, homens, mulheres, jovens e até
crianças tomando o mate quente, pelas ruas e parques.
O argentino Che Guevara e seu chimarrão
Em nosso Estado o chimarrão
é muito apreciado na Fronteira Oeste, Campanha e Missões. Sempre digo que
Uruguaiana é a Capital do Chimarrão.
O também argentino Papa Francisco tomando o amargo.
No Rio Grande do Sul
especificamente, a roda de chimarrão é um acontecimento social diário, onde o
cevador, aquele que prepara o chimarrão e por educação, cortesia e costume é o
primeiro a tomar não só por ter preparado, mas para sentir a temperatura e o gosto
do mate antes de passar a cuia ao segundo da roda de chimarrão.
Bombas modernas de prata, aço e ouro.
A roda de chimarrão sempre
deve andar pela direita do cevador e nunca ao contrário, e a ele cabe a função de servir e distribuir o mate, e também deve ser o único a mexer na bomba, arrumar a erva e quando necessário encilhar o chimarrão.
Encilhar o chimarrão é o ato de renovar o mate quando a erva vai se tornando mais fraca, tirando um pouco da erva usada e colocando erva nova por cima. Por isto chama-se encilhar o chimarrão. Ou seja, colocar as encilhas. (Figurativo).
Encilhar o chimarrão é o ato de renovar o mate quando a erva vai se tornando mais fraca, tirando um pouco da erva usada e colocando erva nova por cima. Por isto chama-se encilhar o chimarrão. Ou seja, colocar as encilhas. (Figurativo).
Em minha mão uma bomba rústica feita de taquara.
O chimarrão é uma bebida tão
apreciada que outros povos que migraram para o Rio Grande do Sul, tomaram gosto
de tal forma pela beberagem que hoje são grandes consumidores de erva mate, como
os alemães que aqui começaram a chegar em 1824 e os italianos que somente
despontaram no Estado em 1875, que são Rio-Grandenses por nascimento, porém não
podem ser considerados Gaúchos por origem, pois os Gaúchos surgiram do amálgama
Ibérico, notadamente o espanhol, Charrua, Minuano e outros índios pampeanos,
com percentuais baixíssimos de mães negras que vão de zero a 9% em algumas
regiões.
Sendo que tanto no Rio Grande do Sul como no Uruguai a participação portuguesa na composição do povo Gaúcho é bastante expressiva, principalmente de portugueses oriundo dos Açores.
Sendo que tanto no Rio Grande do Sul como no Uruguai a participação portuguesa na composição do povo Gaúcho é bastante expressiva, principalmente de portugueses oriundo dos Açores.
Cuia de porongo.
Os mais tradicionais Gaúchos
passam a cuia com a mão direita e com a direita deve ser recebida. Para esses é
falta de educação pegar a cuia no momento e que se está recebendo o mate com a mão esquerda.
Outra coisa é que o chimarrão uma vez recebido por alguém deve ser a água sorvida totalmente da cuia. Dizem aqui na minha querência que o mate deve ser sorvido até a bomba roncar, o que não é feio nem deselegante e sim prova de que o vivente gostou do mate.
Não é obrigado aceitar o chimarrão, basta para tal declinar do convite com educação e pronto. Passa-se então a cuia para o seguinte. O Participante da roda de chimarrão que se sentir satisfeito e não querendo mais tomar mate, basta no momento da entrega da cuia ao cevador dizer, muito obrigado, que o cevador não mais passará a cuia a ele, e tudo bem dentro deste ritual.
Outra coisa é que o chimarrão uma vez recebido por alguém deve ser a água sorvida totalmente da cuia. Dizem aqui na minha querência que o mate deve ser sorvido até a bomba roncar, o que não é feio nem deselegante e sim prova de que o vivente gostou do mate.
Não é obrigado aceitar o chimarrão, basta para tal declinar do convite com educação e pronto. Passa-se então a cuia para o seguinte. O Participante da roda de chimarrão que se sentir satisfeito e não querendo mais tomar mate, basta no momento da entrega da cuia ao cevador dizer, muito obrigado, que o cevador não mais passará a cuia a ele, e tudo bem dentro deste ritual.
Certa feita, no ano de 1976,
estava numa roda de chimarrão na Fazenda Bonanza, em Dourados no Mato Grosso do
Sul, e o cevador era o meu caro e sempre lembrado amigo Adi Fortes, gaúcho missioneiro típico que lá gerenciava essa Fazenda, e ao passar a cuia
um da roda pegou-a com a mão canhota. Adi, virou-se para mim e confidenciou a
meu ouvido:
- Se este “baiquara” pegar o
mate “denovamente” com a canhota vai ficar sem tomar o mate, pois de relancina não vou lhe
entregar a cuia.
Discretamente falei para o
referido que o mate se pega com a direita e ele todo desconcertado, mesmo sendo
canhoto passou a pegar a cuia com a mão direita.
Gajeta (do castelhano gayeta)
Lembrei-me de minha velha
avó Bibira, com a “gajeta” bem segura em suas mãos magras, tomando mate o dia
inteiro e pitando seus “paiêros”. Era uma biguana meio charrua, atilada como um caburé, de coração estreleiro e de espírito haragano e sempre cercada por uma penca de jaguaras.
Jaguaras.
O chimarrão visto pelos
europeus quando aqui chegaram como uma beberagem selvagem é rico em vitaminas
B, C, D, cálcio, manganês e potássio, Combate os radicais livres, auxilia na
digestão, produz efeitos antirreumáticos, diurético, estimulante e laxante,
melhora a libido, no que é muito importante.
Paiêro. Cigarro feito com fumo de corda e palha de milho.
O chimarrão não é só um hábito é sobretudo uma mostra cultural, onde todas as hierarquias são esquecidas pois na mesma bomba que sorve o soldado sorverá o coronel, ou na mesma bomba tomará mate o peão como o patrão.
Cansei de ver sentados em volta de uma fogueira de acampamento a cuia passando de mão de sargento para mão de capitão e logo para as mãos de um cabo e assim todos participavam deste acontecimento horizontal e democrático, onde não há precedência.
O amigo Carlos Romao, lá de Portugal.
Assim sendo, caríssimo Carlos Romao, o chimarrão é
uma bebida bagual de buenacha, que a indiada do meu pago toma diariamente e um
dia terei o maior prazer em cevar um amargo para tomar junto com o caro amigo, aí em Portugal, mesmo que tenha que atravessar o Atlântico a nado.
A nado e de poncho.
Mas tche! Que barbaridade!
Mas tche! Que barbaridade!
Gaúcho, seu poncho colorado, seu chimarrão e seu flete, um tordilho blanco.
Por que Tordilho Blanco? Muitos hão de achar que todos os tordilhos são Blancos ou Brancos, porém há o Tordilho Negro, que na verdade é o Tordilho Branco levemente acinzentado.
Amigo Pedro,
ResponderExcluirvi o post há dias mas só hoje me é possível responder à simpatia de uma tão exaustiva explicação personificada. Com direito a retrato e tudo. Muito obrigado. Nunca mais poderei afirmar não saber o que é ceivar o chimarrão. A curiosidade que me despertou foi tanta que até dei uma espreitadela a Canoas, através do Google Earth.
Por cá, na cultura portuguesa, não vejo nada que se assemelhe ao costume gaúcho. Há a história do chá, que os meus conterrâneos quinhentistas trouxeram do Oriente e espalharam pela Europa. O hábito de tomar chá em Inglaterra foi introduzido por Catarina de Bragança, mulher de Carlos II. Fomos também os primeiros a cultivá-lo no chamado velho continente, na Ilha de S. Miguel, Açores.
De resto, parece-me que a planta não se adapta ao clima europeu. Há, isso sim, inúmeras outras infusões que preparamos e que são bebidas normalmente quentes: tília, menta, jasmim, limão, camomila, cidreira, pés-de-cereja, erva-príncipe… e outras de que não me lembro.
Um abraço fraterno, a partir do inverno europeu.
Olá caríssimo amigo Carlos.
ResponderExcluirFico imensamente feliz que tenhas gostado deste post sobre El Cevador. O mate ou chimarrão é uma das tantas coisa boas deste nosso Rio Grande do Sul, assim como sua música tradicional que mescla diversas raízes, tanto de Espanha quanto de Portugal como por exemplo a Chimarrita. Deste entrevero musical vai surgir a música típica dos Gaúchos no Cone Sul, riquíssima.
Veja neste blogue - "Gauchês - Como o Gaúcho Fala", publicado em 6 de agosto de 2014. que quando em vez vou acrescentando novas palavra. Bem diferente do resto do Brasil.
Um grande abraço.