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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Os Cabos - 1


Havia no antigo 9º Regimento de Infantaria sediado em Pelotas, dois Cabos velhos, o Gonzaga e o Argemiro.

Cabo velho é um jargão do Exército que se refere ao Cabo engajado. Aquele Cabo que após o serviço obrigatório, se houver vaga em sua QM (Qualificação Militar) permanece no serviço ativo, engajando a cada dois anos.

Na época em que eu servia, poderia o cabo ficar até seis anos ou nos casos de QM que tivessem estabilidade ficarem até se aposentarem por tempo de serviço.


Os dois Cabos pertenciam a QM que tinham estabilidade. O Cabo Gonzaga era Mecânico enquanto que o Cabo Argemiro era Cozinheiro.
Gonzaga era um negro de mais de 1,78 de altura e Argemiro tinha 1,75. Eram, portanto dois homens altos para a época de um país que começava a deixar de ser um país de nanicos e famélicos.

Ambos, se não me falha a memória eram efetivos da mesma Companhia, a CPP/1 – Companhia de Petrechos Pesados do 1º Batalhão, do então 9º Regimento de Infantaria, os “pés-de-poeira”.

Com a modernização do Exército, tal regimento que possuía dois Batalhões, passou a ser apenas 9º Batalhão de Infantaria Motorizada.
Voltando aos Cabos.


Gonzaga e Argemiro, seguidamente davam espetáculos dignos de medalhas olímpicas.

Ambos excelentes, diria, os melhores jogadores de pingue-pongue que já havia assistido. Feras de altíssima qualidade.

Quando em vez os dois resolviam tirar as dúvidas no jogo, e a notícia corria depressa dentro do regimento.


Era uma coisa tão espetacular ver os dois jogarem que o alojamento da CPP/1, logo após encerrado o expediente da tarde ficava abarrotado de Soldados, Cabos e Sargentos de outras Subunidades que estando de serviço iam assistir os dois dando verdadeiro “show” de bolinha.

Muitas vezes pode assistir muitos Oficiais Subalternos, Capitães e Oficiais Superiores em pé, junto à soldadesca assistindo aqueles verdadeiros duelos de Titãs.

Como os alojamentos são muito grandes, a mesa era colocada em tal posição, camas arredadas, que ambos tinham atrás de si, de seis a oito metros para se locomoverem e a bolinha não parava, e eram foguetes de um e de outro lado.

Chegavam, quando a coisa pegava, a receberem o saque a mais de dois metros da mesa, e o saque já era dado com violência.


As bolinhas da época eram feitas de celuloide, e numa única partida quatro ou cinco bolinhas eram descartadas para o lixo, pois não resistiam às violentas raquetadas desta dupla que fez história dentro do então 9º Regimento.

Certa tarde estando de Sargento de Dia à Companhia entrei no alojamento onde se ouvia apenas o barulho das raquetes batendo violentamente numa bolinha que como louca pipocava dos dois lados, ao entrar silenciosamente observei junto a outros Oficiais o então Tenente Coronel Eurico de Castro Neves, em pé, de braços cruzados assistindo atento aquela refrega. O único movimento que se notava eram as cabeças girando de um para outro lado, rapidamente para não perder nenhum lance.


Solicitei meu desligamento do Exército em 1971, os anos passaram, pelo tempo já deveriam estar aposentados, o que aconteceu, porém soube com tristeza que o Cabo Gonzaga não mais existe.


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