Era um belo domingo,
ensolarado, 2 de janeiro de 1955, ou seja, 60 anos passados, levantamos cedo e
todos foram sendo chamados à mesa para o nosso desjejum.
Café com leite, manteiga e
pão francês de meio quilo, cortados em fatias generosas, onde em nossa
imaginação de criança víamos coelhinhos. Eu não era mui chegado à manteiga,
preferia banha de porco que já tivesse sido usada em alguma fritura para passar
grossa camada na fatia de pão. Muitas vezes ainda colocava açúcar sobre a banha.
Uhhh! Que delícia!
Todos estavam mais faceiros do que guria de vestido novo aguardávamos com ansiedade a chegada do amigo, mais que amigo, Vital Porep da Silva, um taura macanudo em seu caminhão QT sobra de guerra cor de cenoura, que nos levaria junto a outros familiares para um passeio inesquecível ao Passo dos Carros.
Lá pelas tantas apontou na
cabeceira da rua o Caminhãozão de Vital, e foi aquele alarido e corre-corre.
Todos correndo e levando coisas para frente da casa, mais parecendo um enxame de
lichiguanas algariadas.
O caminhão era imensamente
grande devido não ao seu tamanho, mas ao nosso.
Papai correu e começou
também a carregar para frente da casa alguns sacos, engradado de refrigerante,
e outras coisas, pois passaríamos o dia acampados a beira do arroio no meio do
mato, junto a natureza que aos poucos está sumindo.
De imediato, ao parar o
caminhão, Vital, homem magro e muito alto desceu sorrindo e a todos
cumprimentou no seu jeito peculiar. Vital era casado com Ivorema, uma filha de
criação de minha avó Idelvira, a vovó Bibira.
Vovô Garcia, homem
corpulento e alto, que vinha também na cabine do caminhão desceu lépido, mesmo
tendo sua perna direita sem articulação devido a um acidente que sofrera,
estava eufórico e já nos foi mostrando uma bela ovelha bem maneada e deitada
dentro da carroceria.
Seria o belo bichinho o
nosso almoço daquele domingo especial.
Estavam na carroceria além
da ovelha, o Manuel e sua irmã Neraci, também filhos de criação de vovó, Tia Maria
Rafaela, Tio Floricio Costa e Ivorema.
1 - Florício - 3 Tia Maria - 5 vovó - 6 Lúcia - 7 Joaquim - 8 Vovô -
9 Papai - 10 Eu - 11 Mamãe - 12 Ieda. ( o 2 e 4 - Ceci e Jorge não
estavam nesse passeio.
9 Papai - 10 Eu - 11 Mamãe - 12 Ieda. ( o 2 e 4 - Ceci e Jorge não
estavam nesse passeio.
Obviamente a matriarca Vovò
Bibira estava na cabine de onde só saíra para cumprimentar os netos, o filho e
a nora.
Antes mesmo de carregarem o
caminhão a ele subi em primeiro lugar, seguido de Joaquim, após o Vital ajudou
Lúcia a subir, depois Ieda e Mamãe.
Enquanto vovô Garcia,
juntamente com papai carregavam os badulaques, sacos e bebidas que iam sendo
erguidos para dentro do caminhão, onde Manuel e Joaquim os arrumavam bem junto
ao fundo da enorme carroceria.
Manoel é da idade de meu
irmão Joaquim, portanto crescemos praticamente juntos e sempre brincávamos
juntos.
Era tal a amizade que quanto
íamos, por exemplo, jogar bola, eu perguntava para meu irmão:
- Quem vai jogar?
E ele respondia:
- Eu, tu e o Manuel.
Ou:
- Pedro, vamos buscar as
éguas no campo.
- Quem vai buscar?
- Eu, tu e o Manuel.
Ou:
- Vamos até o Parque Souza
Soares.
- Quem vai?
- Eu, tu e o Manuel.
O mais incrível é que quando perguntávamos ao próprio Manuel quem iria brincar ou fazer alguma coisa ele respondia alto e rápido: Eu, tu e o Manuel.
O mais incrível é que quando perguntávamos ao próprio Manuel quem iria brincar ou fazer alguma coisa ele respondia alto e rápido: Eu, tu e o Manuel.
Assim sendo essa frase
tornou-se tão difundida que a gurizadinha que morava lá na Av. Pinheiro
Machado, no Fragata, quando iam brincar e se alguém perguntasse quem iria:
Um gaiato dizia “Eu,
tu e o Manuel”.
Mesmo que a brincadeira
fosse entre o Paulinho, o Mamaro e outro ou outros meninos da vizinhança.
A última coisa que
carregaram no caminhão foi o engradado de refrigerante.
Nessa época tomar
refrigerante era somente em uma ocasião muitíssimo especial, aniversário,
casamento ou Natal. Hoje quase ninguém almoça sem um copo de refri ao lado.
A primeira vez que eu bebi
um refrigerante, foi uma gasosa Telma sabor laranja, provavelmente no ano 1950.
Contava eu na época longos quatro anos de idade.
Que coisa
gostosa!!!!!!!!!!!!
Hip, Hip, Hurra!!!!!!!!!!!!
Foi no casamento de uma
prima de mamãe chamada Djanira Sedrez da Rosa, que casara com o Sargento do
Exército Antônio Oleiro e quem me levou para saborear esta gasosa foi um amigo
e vizinho chamado Batista, um negro de seus 14 anos, que morava perto de nossa
casa, cujo pai foi a segunda pessoa a construir uma casa nos campos que haviam
em frente a nossa casa, do outro lado da Rua Afonso Pena. O primeiro a
construir uma casa quase em frente a nossa foi o amigo Nicolau Cunha, esposo de
dona Teresa, pais de Eloisa e Elena, (sem H), Elena era mais conhecida como Leninha.
Após papai embarcar na carroceria e vovô Garcia, mais conhecido como Ninica embarcar na cabine, Vital Porep deu inicio a viagem, para nós uma verdadeira aventura.
Êba!
Êba!
Eu, tu e o Manuel,
fomos em pé, segurando firmemente aquela cabeceira da carroceria, junto à
cabine do Caminhão com o vento açoitando nossos cabelos, que eram curtinhos,
mas dava bem para sentir aquela delícia de vento. Tudo era alegria e
brincadeira.
Algum tempo depois chegamos
ao local onde rapidamente foi montado o acampamento e vovô Garcia, junto com
papai entraram no mato para colher galhos especiais para serem transformados em
espetos. Vovô sabia bem o que poderia ou não ser usado.
Enquanto isto Tio Florício e
Vital arrumavam, com auxilio das mulheres o local onde seria a base do referido
acampamento, que tão logo organizado, todos começaram a catar pelo chão do mato e do campo, gravetos e galhos secos para fazerem a fogueira onde seriam tostados os espetos antes de colocarem a carne e após assar o maravilhoso churrasco que se esperava com ansiedade.
Um verdadeiro churrasco campeiro no fogo de chão.
Para evitar uma queimada no campo ou no mato, antes de acenderem o fogo, papai munido de uma enxada limpou bem a área em volta do local que haviam feito a montanha de paus para serem queimados, a margem do arroio, sob a sombra de uma frondosa árvore, porém longe de suas raízes.
Um verdadeiro churrasco campeiro no fogo de chão.
Para evitar uma queimada no campo ou no mato, antes de acenderem o fogo, papai munido de uma enxada limpou bem a área em volta do local que haviam feito a montanha de paus para serem queimados, a margem do arroio, sob a sombra de uma frondosa árvore, porém longe de suas raízes.
De vereda eu,
tu e o Manuel, fomos para dentro do arroio, munidos de caniços de
taquara, linha e anzol tentar pegar algum peixe.
Só molhamos as minhocas,
pois o único peixe que caiu no anzol foi um cascudo, que não foi aproveitado,
mas tive o privilégio de ter pescado pela primeira vez em minha vida.
Tche, mas que coisa mais sem
graça.
Lá pelas nove e meia, vovô
Garcia pendurou em um galho de uma árvore, por uma pata traseira a pobre ovelha
e num golpe certeiro, com sua longa carneadeira acertou bem no sangrador e o
bichinho sem nada dizer, é claro, foi morrendo, momento em que Ieda, a irmã
mais velha, que nesse ano já contava com 15 anos abriu o tarro e chorou muito,
pois o vovô assassinara a ovelhinha, tão lindinha guti-guti.
Mas na hora que o velho
taura matreiro, taita por natureza, cujo coração se derretia pelos netos
começou a assar aquela ovelha, e pelo meio do mato e campo adjacente o aroma da
carne começou a subir, a tudo Ieda esqueceu, e na hora do almoço quase nada da
ovelha sobrou, saboreado em nacos grande com muita farinha de mandioca e até
arroz e saldas mamãe e vovó prepararam.
A tarde passaram pelo
acampamento dois caçadores, com suas espingardas 16, um deles ainda tinha uma
bela espingarda calibre 22, chegaram e como velhos conhecidos foram se
aboletando a sombra e conversando.
Após muito prosearem,
resolveram dar uma demonstração de tiro.
Como havia muitas tampinhas
de garrafas de refrigerante papai colocou duas tampinhas em pontas de varetas a
mais ou menos 15 metros de distância e os caçadores pegaram a tal espingarda 22
e atiraram varias vezes e nada de acertarem, momento em que Manuel chegou ao
lado dos dois caçadores, olhou para um, olhou para o outro e em dois movimento
rápidos com o seu atirador ou bodoque, vez voar as tampinhas das pontas das
varetas com pedradas certeiras.
KKKKKKK!
Todos riram despregadamente.
Os caçadores se jeito pegaram suas armas e sumiram campo a fora.
Manuel era fera no bodoque.
Certa vez uma gata de vovó deu
a luz seis belos gatinhos.
Para não ficar com aquela ninhada ela disse:
- “Manuéli”, pega esses gatos e afoga lá no
barreiro.
Barreiro era uma olaria que
existia ao fundo de sua casa, onde as escavações atrás de barro formavam açudes
permanentemente cheios d’água.
Manuel, maléva como ele só,
ao chegar ao fundo do pátio, calmamente com auxilio de Paulinho, colocou um
gatinho encima de cada moirão da cerca e detonou um a um com suas certeiras
pedras arremessadas de longe com seu bodoque.
Bueno! Esse dia no Passo dos
Carros foi tão marcante que vez em quando sonho com aquele lugar, e me sinto
caminhando em suas outrora águas límpidas embaixo de infindável túnel de árvores, que margeavam os dois lados do arroio, tão límpidas que bebíamos
diretamente do arroio, e acordo muitas vezes sentindo o cheiro gostoso daquelas
matas.
Acordo emocionado pois são
tão reais os sonhos que me sinto verdadeiramente em menininho banhando-me
naquelas águas tão maravilhosas.
Foi um tempo
maravilhosamente mágico, que não me sai das lembranças.
É pena que há mais de quinze
anos eu,
tu e o Manuel não nos reunimos mais, só eu e tu, e assim mesmo de
quando em vez, quando alguém da família morre, e olhe lá.
Eu e Vital Porep 60 anos depois. (2014)
Sempre que à Pelotas viajo, com Sandrinha, vou visitar o meu amigo, meu IRMÃO Vital Porep, como faço de duas a três vezes por ano.
Sentamos e ficamos horas conversando e não raras vezes ao relembrar as coisas boas do passado nossos olhos, não sei porque, vertem muitas lágrimas. Talvez seja por algum cisco que caia nos olhos.
No Natal liguei para a casa de Vital, conversamos, matamos a saudade e a ele prometi que em janeiro viajarei para Pelotas, especialmente para visitá-lo, rever este amigo que entrou na família quando eu ainda era um menininho meio baiquara de, quando muito sete anos.
Sempre que à Pelotas viajo, com Sandrinha, vou visitar o meu amigo, meu IRMÃO Vital Porep, como faço de duas a três vezes por ano.
Sentamos e ficamos horas conversando e não raras vezes ao relembrar as coisas boas do passado nossos olhos, não sei porque, vertem muitas lágrimas. Talvez seja por algum cisco que caia nos olhos.
No Natal liguei para a casa de Vital, conversamos, matamos a saudade e a ele prometi que em janeiro viajarei para Pelotas, especialmente para visitá-lo, rever este amigo que entrou na família quando eu ainda era um menininho meio baiquara de, quando muito sete anos.
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