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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Banana de Ouro.


Na Secretaria do antigo 9º Regimento de Infantaria, trabalhavam além do Capitão Secretário, um Segundo Sargento e um jovem e competente Terceiro Sargento.

                      Terceiro Sargento.

O referido Terceiro Sargento, jovem magro, pele morena, cabelos negros e lisos, era de uma simpatia muito grande, apesar de ser sério e levar o serviço acima de qualquer coisa.

Mesmo não sendo sua obrigação, o referido Terceiro Sargento preparava os Requerimentos de Engajamento dos Aspirantes-a-Oficial, e procurava um a um para que esses assinassem tal documento o qual ele mesmo já protocolizava(*) e dava andamento no processo de engajamento, coisa que é rigorosa, onde o militar tem um prazo máximo para dar entrada nesse documento, caso queira continuar na carreira militar. O atraso de um dia na entrega desse Requerimento faz com que o Militar seja exonerado em 30 dias, chova ou faça sol. Não há como reverter. É por que é, e ponto.

Havia sempre no Regimento um número grande de Aspirantes, principalmente os oriundos do NPOR, Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva, sediado em Pelotas, que na época poderiam servir até no máximo quatro anos (?) no posto de Segundo Tenente se aprovados no estágio.
                       Aspirante-a-Oficial.

Pouquíssimos eram os Aspirante-a-Oficial procedentes da Academia Militar das Agulhas Negras, tanto que no período em que servi nessa Unidade passaram por ela apenas seis Aspirantes oriundos da famosa AMAN. Esses por seu turno podem galgar as mais altas patentes, muitos dos quais chegam ao Generalato.

Por saberem que o Terceiro Sargento era pontual, muitos Aspirante nem se preocupavam com seus requerimentos, pois sabiam que o Terceiro Sargento faria com presteza o serviço e não deixaria passar da data. Isto era de conhecimento geral.

Certa vez, ano 70, estava este Sargento de Serviço em sua Companhia, a de Comando Regimental, mais conhecida como CCS, na função de Sargento-de-Dia, o que não impedia exercer suas funções junto à Secretaria.

Pouco antes do meio dia desceu calmamente para a sua Subunidade, onde O Cabo-de-Dia já havia colocado a Companhia em forma e feito a chamada dos Soldados que iriam almoçar no quartel, em forma e em passo cadenciado conduzi-los ao rancho. (refeitório).

Ali, as companhias eram apresentadas ao Oficial-de-Dia, conforme fossem sendo chamadas ao toque de corneta. Cada Companhia tem um toque específico.

Havia uma rígida ordem de acesso ao referido Rancho.

Uma vez o Oficial-de-Dia autorizasse, o Sargento-de-Dia dava ordem à companhia ir em direção ao Rancho, e uma fila ordeira era formada, com os soldados com suas bandejas de alumínio iam para receber a boia, que era excelente na época.
                      
A fila de soldados ia passando pelas enormes panelas, aonde os soldados do Rancho iam servindo a farta e variada refeição. Os Sargentos, Cabos e Soldados que trabalhavam no Rancho eram de gozação chamados de graxeiros.

Ao chegar junto as grandes panelas o referido Sargento, como de praxe juntou-se aos demais Sargentos-de-Dia até que toda sua Companhia fosse servida, nesse local os Sargentos-de-Dia de diversas companhia ficavam em um grupo conversando, entre os quais havia alguns Cabos que executavam o serviço de Sargento-de-Dia.


Sargentos e Cabos ficavam conversando e logo após os Sargentos iam para seu Cassino (refeitório) almoçar.

Um Aspirante-a-Oficial R/2, que desempenhava a função de Oficial Aprovisionador, a todos observava, e ninguém a ele dava atenção, pois era um homem amargo, ruim, antipático, protagonizador da história hilária e cruel, publicada anteriormente com o título “Aspirante X Subtenente – A Virada de Mesa”.

O Terceiro Sargento em questão saiu do grupo e como todos faziam aproximou-se de um enorme panelão cheio de bananas que eram distribuídas à vontade aos Soldados na hora do rancho, e pegou uma para comer, centenas dessas bananas muitas vezes, por estragarem eram levadas em um carroção da granja para alimentar porcos.


                     

O Oficial Aprovisionador num pulo tirou a banana da mão do Terceiro Sargento, jogou-a com violência dentro da panela e disse com aspereza.
               
- Se quiseres comer banana, vá pegar lá no teu Cassino.

Tanto faz, todas as bananas pertenciam a União, portanto o Aspirante assim procedeu por puro autoritarismo, ódio e antipatia que nutria por todo o mundo.

Sargentos e Cabos que ali estavam juntamente com o referido Terceiro Sargento dirigiram-se em silêncio para dentro do Rancho aonde os Soldados almoçavam e ali permaneceriam até o último Soldado de suas Companhias acabarem de almoçar.

Nenhum Sargento de Dia falou nada, e chateados todos os Sargentos e Cabos apenas se entreolharam. O educadíssimo Terceiro Sargento cabisbaixo ficou em silêncio em um canto do Rancho, sequer foi para o seu Cassino almoçar de tão constrangido que ficara.

Passada uma semana adentrou à Secretaria do Regimento o tal Aspirante Aprovisionador, como uma fera, bufando e nervoso.

Ao entrar estavam apenas nesta Seção, o Segundo e o Terceiro Sargento, e o Aspirante foi direto ao Terceiro Sargento e perguntou:


- Por que tu não fizeste o meu Requerimento de Engajamento que expirou ontem:


O Terceiro Sargento calmamente olhou para o “Aspirina” e respondeu que não era de sua obrigação fazer tais Requerimentos, isto é de obrigação do militar interessado.

- Mas tu fazes pra todo o mundo. – Disse o Aspirante.

O Sargento respondeu que sim, mas não era sua obrigação e que se o Aspirante achasse que era obrigação dele que comunicasse ao Comando, pois o regulamento é óbvio e claro.

O Aspirante, nervoso, pois perdera o prazo de solicitar o engajamento, disse:

- E agora o que é que eu vou fazer.

O Segundo Sargento que a tudo assistia, e que já havia sido inteirado do que acontecera no Rancho, disse:

- Nada Aspirante, não é obrigação do Terceiro Sargento, a obrigação era sua, e em trinta dias o senhor será excluído do serviço militar e pronto.

O aspirante, relutante, sem saber o que ia fazer, pois precisava continuar por mais um tempo no Exército, pois estava na Faculdade cursando Direito, recém-casado e cheio de contas a pagar, balançou a cabeça e em desespero virou-se para sair, quase chorando.

Neste momento o Terceiro Sargento chamou:

- Senhor Aspirante!

Este junto à porta virou-se e com os olhos vermelhos olhou com ódio para o Terceiro Sargento que lhe disse:

  Banana de ouro.

- Aquela banana que o senhor arrancou de minha mão, foi a mais cara banana de toda a sua vida.

O Aspirante engolindo as palavras e vermelho de raiva retirou-se em desespero.

Trinta dias depois seria exonerado do serviço ativo do Exército.




Toma! Só para aprender!


(*) O verbo é Protocolar ou Protocolizar.
Apesar da resistência de muitos, as duas maneiras estão corretas:

Eu protocolo ou Eu Protocolizo
Tu protocolas ou Tu protocolizas
Ele Protocola ou Ele protocoliza


Porém, apesar de não ser catedrático em língua portuguesa sempre optei pela segunda forma, a qual acho a mais correta.




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