Ao responder o comentário de
caríssimo Fábio Zündler II, no post deste blogue com o título Pelotas 1947
percebi quem poderia fazer uma comparação da casa onde nasci no dia 11 de março
de 1946, Segunda-Feira de Carnaval, à Rua Afonso Penna, no Bairro Fragata em
Pelotas com o momento atual, ou seja, quase setenta anos depois.
Na primeira casa era onde
morávamos, ao lado, onde hoje está este sobrado morava o padeiro João, sua esposa
Diná, seu filho Jones e seu cachorrinho Joly. Na casa seguinte morava Seu Manuel,
Dona Dalva e seus filhos Joãozinho, Fó, Choca, Gibi, Chouriço, Teresinha de
Jesus, Bernadete, Dalvinha e acho que tinha mais um ou dois. Após morava Inácio
sua esposa Maria e sua linda filha Raquelzinha, com eles moravam as irmãs de
Maria, a doce Elisa, "la douce Élise, blanche comme fleur de pommier" e a taciturna Zilda e finalmente na esquina, na portinha atrás da árvore, era um bolicho,
um pobre armazém que foi de Tuco-Tuco, Dinarte e Cavalheiro, não sei se nesta
ordem.
Era um tempo lindo, onde nossa
diversão era ver as vacas lerdas caminhando naqueles campos ou alguns cavalos.
Ficava horas debruçado a
janela da sala olhando o verde e ouvindo centenas e centenas de pássaros que
alegravam nossas vidas com seus gorjeios, ou muitas vezes entristeciam nossos
pensamentos com o cantar melancólico das rolinhas que abundantes voavam para
todos os lados.
Sangue-de-boi
Sangues-de-boi, cardeais,
quero-queros, corujas, pardais, bem-te-vis, e tantos outros me deixavam
embevecido, porém quando via os bandos de urubus meus pensamentos tornavam-se
tristes e o medo tomava conta de mim.
Cardeal
Ouvir o canto da coruja era
mau agouro, e muitas vezes, à noite, acordava com o pio arrepiante desta ave,
porém, quase todas as noites elas piavam.
As superstições surgem
assim. Numa noite como muitas, fui acordado pelo pio da coruja. No outro dia
faleceu, pela manhã, a menina Teresinha de Jesus, nossa vizinha, aos braços de minha mãe. Ora, dirão, foi o mau
agouro da coruja. Coitada da coruja piava todas as noites.
E assim vão se criando as
crendices, nada mais do que crendices.
Nenhum comentário:
Postar um comentário