Há quase cinco anos trabalhava na Casa da Ordem, como datilógrafo do Boletim Interno, documento oficial de tiragem diária, dando ao Regimento todas as informações atinente ao serviço, como Escalas de Oficial-de-Dia, Adjunto, Comandantes das Guardas 1 e 2 e outros serviços, Apresentações de Militares, Transferências, Ordens Superiores, Serviços Médicos, Administração e Justiça e Disciplina. Fazia tudo sozinho, páginas e páginas, muitas vezes o Sargento Ariano de Paiva Rodeghiero sentava-se ao meu lado, quando havia muita coisa para ser publicada e ditava sem parar e eu datilografava as matrizes sem parar numa velocidade extrema, sendo muitas vezes assistido por Oficiais que ficavam hipnotizados com a minha rapidez.
Muitos Primeiros-Sargentos desempenhavam a funções de Sub-Tenentes, na falta desses e após na lista de antiguidade um Primeiro-Sargento era nomeado Sargento Ajudante de Ordens, como era chamado na época de Sargento Brigada ou seja, a ele era competido principalmente às escalas de serviço, e desempenhava suas funções nessa Casa da Ordem. Era então o Sargento mais antigo que não estivesse desempenhando as funções de Sub-Tenente, pois aí passava a receber a diferença em seu soldo.
Belo dia foi indicado para essa função o Primeiro-Sargento Pedro Arides Fernandes, homem antipático que poucos mesmo, Sargentos gostavam dele.
Havia uma grande camaradagem nessa Seção, onde Cabos, Sargentos e até mesmo o Capitão Ajudante de Ordens entravam na divisão do café, pois houve uma época que tal regalia havia sido proibida como contenção de despesas. E todos os dias era aquela ladainha de quem pagaria o café, que era comprado em frente ao Quartel no antigo Bar do Udo.
Tão logo esse Sargento assumiu como Ajudante, vendo aquele, até hilário jogo de empurra, resolveu botar ordem no galinheiro e em tom seco disse a todos, com exceção do Capitão S/1 que não estava presente.
- A partir de hoje vou botar ordem nessa discussão diária sobre o café. Vou organizar da seguinte forma:
- Todos entrarão na lista de compra, e não será apenas um café. Traremos por semana uma lata de café solúvel, um quilo de açúcar e uma lata de leite em pó. Melhorando assim o nosso café:
Fez uma breve pausa e concluiu:
- A partir da próxima semana vou fazer uma lista com todos os nomes, sendo que o Capitão vai ficar fora do rateio (puxa saco, pensei eu).
- Hoje é sexta-feira, então começará na próxima semana e eu como o mais graduado serei o primeiro, depois o Segundo-Sargento Raul e assim até o Cabo mais moderno, que no caso era o Cabo Jader Fernandes Umpierre, que dois anos após, passou a desertor e foi expulso do Exército.
Na Segunda-Feira seguinte chegou à Casa da Ordem o Primeiro Sargento Arides com uma sacola contendo todo o material para o café.
Foi uma semana que todos tomaram café suculento com muito leite em pó.
Na Sexta-feira seguinte, antes do toque de debandar o Primeiro Sargento Arides disse em tom alto e como de praxe antipático, ao Sargento Raul Rocha, na Segunda-feira é teu dia de trazer os ingredientes para o café, mas o Sargento Raul lhe respondeu.
- Sargento Arides, me tire da lista, pois eu não quero participar mais deste café.
O Sargento Arides, sem nada entender, pois nada havia sido combinado ouviu a mesma coisa do Sargento Rodeghiero, do Sargento Adroaldo, de mim e dos demais Cabos.
Ou seja, o Sargento Arides ficou atônito, com a cara no chão e nada disse, só ele pagou pela arrogância e mandonismo.
Passada aquela semana o Capitão S/1 falou com o Coronel Comandante e esse liberou o café para todas as Seções.
ORRE TASCA, só ele pagou.