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domingo, 21 de junho de 2020

A Nave.



Na busca do conhecimento embarquei na Nave do Tempo e mexendo em mil botões esta se movimentou para o longínquo passado.

- Ora bolas!

Gritei.

- Eu queria ir para o Futuro!

Mas via pela escotilha o tempo voltando numa velocidade sem igual. E quando em vez via em flashes cada vez mais rápidos as imagens de coisas que o próprio homem, em sua saga pela Terra construiu. Vi a chegada do homem à Lua, a explosão da primeira bomba atômica, a Revolução Russa, a construção do Canal do Panamá, as três embarcações de Colombo chegando à América, a Construção das Pirâmides do Egito, a Inundação do Mar Negro, que os celerados acreditam que foi um dilúvio universal, os primeiros homens chegando ao continente Americano, os povos isolados na Mama África, os primeiros Sapiens, nus correndo pelas savanas, antigos seres proto-humanos tentando acender fogueiras, mas num impulso rápido consegui frear a Nave e pela escotilha observava não só os nossos mais antigos ancestrais como miríades de animais, que a vaidade e soberba humana chamam de irracionais.

Num canto de uma primitiva savana no centro a África pude observar uma imensa manada de elefantes a volta de um dos seus, morto, jogado ao chão e todos eles como se entendessem a morte o cheiravam com respeito, grunhidos eram soltos como lamentos e organizadamente davam espaço para outros chegarem perto do morto e uma elefanta, que me pareceu ser a mãe daquele corpo inerte, nele com carinho passava sua tromba, num misto de dor e recordações. Tocante, mas real.


E em frente aquela cena tocante me perguntava:

-Eles, os animais sentem a morte?

Foi uma cena tão dura e comovente que meus olhos transbordaram em fluídas e sentidas lágrimas.

Com dor no coração dirigi a invisível nave para outro lugar da floresta e vi um grupo de babuínos ao redor de uma fêmea que carregava em seus braços o seu filhinho morto e com muito amor o olhava, cheirava, lamentava e o acariciava. Naquele dia passou com o filho morto aos braços e o bando, cada vez que algum dela se aproximava, mudava sua expressão, de uma aparente euforia para uma grande tristeza. Calavam-se e observavam a dor daquela mãe.


Acelerei a Nave para escapar daquela tristeza, mas percebi por uma escotilha lateral uma Gorila, triste carregando em sua mão o seu filhinho também morto.


Mais e mais sentia a dor daqueles animais e assim passei aquele primeiro dia, no passado, vendo com profunda tristeza e dor, que a maioria dos animais sente a morte.


Mas me sobressaiu uma pergunta:

- Será que eles entendem a morte?

E Pensando afirmei a mim mesmo: Sim!

Acelerei a nave um pouquinho para o futuro e pude ver um grupo de homens e mulheres seminus, atarracados, com peles sobre os ombros (1), protegendo-se do frio, num ritual triste e cheio de choros e objetos. Flores, lanças, bordunas, pedras, colares de dentes e peles. Eram Neandertais que estavam em uma cerimônia de sepultamento de um ente de seu bando, de seu clã, que tivera uma morte natural ou fora morto em algum acidente, seria uma queda, quebrado uma perna, ou se ferido profundamente?


Mas todos com muita dor e respeito, lamentavam gesticulavam e num caminhar de ir e vir vociferavam pela perda. Criancinhas, agarradinhas uma as outras, algumas choravam baixinho, outras olhavam com medo em seus olhinhos, sem entenderem viam aquele homem ser enterrado sob um monte de pedras.


O não entendimento da morte, ver um ente querido sem vida, sem sua força vital levou o homem a conjeturar sobre a morte. 

O que é a morte?


Será que tudo termina?


Para onde vão os mortos? 


Será um lugar bom ou ruim?


Haverá vida em outro lugar?


Na vã esperança perguntariam: - Haverá vida após a morte?


Um lugar claro como o dia ou escuro como a noite?


Será um lugar seguro ou cheio de feras perigosas?

E com o passar de centenas de milhares de anos em dúvidas e sentimentos o homem foi construindo uma explicação, se não, lógica, pela menos satisfatória que viesse a serenar seus corações e com o tempo foram como se faz com as fábulas, enfeitando, aumentando, diversificado, mesmo que viesse a ser uma total e completa histeria.


Animais ditos irracionais, vacas, ovelhas, cachorros, gorilas, elefantes, girafas, homem, macacos, cavalos, sentem a morte e tentam entender com dor e sentimentos, mas o homem, dito racional, faz com fantasias.


É preciso dizer o que surgiu deste não entendimento da morte.


É preciso explicar aos mais sensíveis o que surgiu para explicar a morte?


Não.

Todos sabem, mas se deixam enganar por sua próprias dores e sentimentos ou por vivaldinos que se aproveitando da dor usam-na para explorar os que ficaram e enriquecem do dia para noite iludindo os pobrezinhos que acreditam em larápios contumazes, pois as pessoas preferem mentiras acalentadoras do que verdades cruas e acreditam em bobagens pelo próprio homem inventadas, como::

- Seu filho que acaba de morrer está feliz, nos braços de deus, conforme-se.


Em minha volta ao nosso tempo pude passar por milhões de coisas que foram construídas no mundo para iludir os incautos. Passei por totens, pirâmides, capelas, templos, basílicas, igrejas, palácios suntuosos e uma porção de espertalhões com símbolos falsos, livros cheios de fábulas, mãos carregadas de objetos inócuos a frente de multidões de pessoas boas, simples, honestas, mas extremamente manobráveis por meia dúzia de ladinos que mentem, extorquem, exploram, enganam e levam as massas ao delírio e a histeria.


A morte é tão natural como respirar. Porém matar por matar e ainda agradecer a deus por sua bandidagem não é natural, é uma hipocrisia que a maioria que crê em deus comete e regozijar-se pelo seu ato, apontando para o céu em agradecimento a deus.

Esta canalha e hipócrita crê em deus e agradece pela sua covardia, pelo seu hediondo crime. Mas assim age a maioria que crê em deus e se dizem bons e humanos e criticam os ateus.

A morte natural é mais um passo e a cada minuto, a cada segundo estamos dando em direção dela e ela nada tem de divino e sim é a coisa mais natural que existe. Sentimos não a morte, mas a perda de um ente querido. E se choramos não é pelo morto e sim por nós mesmos, pois naquele momento a solidão nos deixa vulnerável e nós não suportamos ficar sós.

E apesar dos pesares a natureza foi sábia em nos esconder quando vamos morrer, pois seria um tédio saber. A qualquer momento eu posso morrer ou não. Se morrer, tudo bem. Acabou. Se não morrer muitas coisas ainda poderei ver e aproveitar. Pena que maioria usa esse bem que a natureza nos deu para fazer a maldade, espargir o ódio, brigar, ofender e perder o tempo com bobagens, sem ter tempo para aproveitar esse efêmero momento. Achamos que somos super-homens, achamos que somos o suprassumo da natureza e esquecemo-nos das coisas que poderíamos aproveitar como uma manhã de sol, (2) uma tarde de brisa amena na beira da praia. O sorriso da pessoa amada, o abraço, o beijo o aconchego. Deixamos de ver um passarinho ao entardecer, uma abelha voando a nossa volta, uma nuvem ao céu azul que se parece com um coelhinho. Deixamos de estar com nossos filhos e preferimos ficar a frente da televisão, deixamos de tantas coisas boas e nos interessamos em coisas sem nenhum sentido.


O viver bem não é acumular riquezas, o viver bem é o próprio viver bem, com alegria e disposição, vendo o mundo pelo seu lado belo, sem discriminações, sem rancores, sem racismos, sem dores e com muitos amores.



(1)      – A moral hipócrita representa os primitivos homens  vestindo uma espécie de saia de pele, como se fosse  feio para eles andarem com suas partes a mostra, como até os dias de hoje andam os índios da Amazônia. Andavam com peles protegendo as costas e a cabeça, pois apesar de serem primitivos não eram burros ao ponto de não saberem que são essas partes que instintivamente são as primeiras a serem cobertas.

(2)      - Escrevi “sol” com letra minúscula porque estou me referindo à luz do Sol. Agora sim com letra maiúscula, pois estou me referindo ao astro, centro do nosso sistema solar e como sendo o nome próprio deve ser escrito com letra maiúscula, “Sol”.