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terça-feira, 27 de novembro de 2018

Negro não Dança!




Por longos e duros 24 anos, meu pai servira no antigo 9º Regimento de Infantaria, sediado em Pelotas-RS.


Sentara praça no ano de 1936, por forte insistência da namorada, minha futura mamãe, que lhe dizia:

- Um dia tu serás Sargento!

                 Papai em frente ao Regimento


Papai pouco atenção dava aos reclames de mamãe, pois não acreditava que um dia poderia fazer uma carreira sólida no Exército, porém foi tanta a insistência que ele apresentou-se para o serviço militar e aos poucos foi galgando promoção após de promoção. Segundo Cabo, Primeiro Cabo, graduações que não mais existem, pois hoje simplesmente é Cabo, finalmente chegou a Terceiro Sargento, conforme mamãe, na época uma jovenzinha macanuda havia sonhado.

Só para lembrar.


Ainda nos anos 40, estava ele em uma barbearia cortando o seu cabelo, quando adentrou àquela barbearia um senhor negro, bem trajado, que ao entrar foi recebido pelo barbeiro que secamente sem ao menos cumprimentá-lo, disse:


- Não corto cabelo de negro!


O senhor saiu sem nada dizer e papai ficou estarrecido, mas nada podia fazer.


Tempo depois Afonso Arinos de Melo Franco, que foi jurista, político, professor historiador e crítico, Imortal da Academia Brasileira de Letras, apresentou a Lei 1309, promulgada por Getúlio Vargas no ano de 1951, que regia e rege a igualdade racial no Brasil. Conhecida até hoje como Lei Arinos.

                  Afonso Arinos de Melo Franco

Contava papai que por volta daqueles mesmos anos 1940, houve uma grande festa em comemoração ao dia do Soldado, comemorado a 25 de agosto, desde o ano de 1923. Ao quartel, famílias inteiras de militares ou não, acorreram para ver uma exposição de armamentos, como as antigas metralhadoras Hotchkiss, de fabricação francesa, canhões e morteiros Krupp, feitos na Alemanha e uma enorme gama de outros petrechos usados por aquela Unidade do Exército, como os famosos fuzis Mauser, de invenção alemã, mas já fabricados no Brasil, o pesado fuzil modelo brasileiro com telha de madeira que protegia a mão do atirador do cano que aquecia conforme os disparos e que somente em 1966 foram substituídos pelos modernos fuzis FAL, além de outras atrações que estariam à disposição daquele público sem quase nenhuma opção de lazer a não ser ir aos Cinemas, que sempre foram a tônica de Pelotas, pois Teatros sempre foram elitizados.


Civis e militares, alegres, compartilhavam daquele local, hoje praticamente vedado aos paisanos.

O segundo alojamento a esquerda da avenida central, com suas paredes externas ainda feitas de grossas chapas de aço ondulado, fora todo enfeitado por seu Subtenente para servir de salão para recreações. Suas camas foram desmontadas e transportadas para um depósito e naquele amplo salão, com tábuas e muitos pregos improvisou um palco, enfeitado com papel crepom, o qual seria utilizado pela Banda daquela Unidade.

Essa Banda era composta quase que absolutamente por militares, Soldados, Cabos e Sargento negros e tinha como Mestre um Segundo Sargento também negro. Hábil na batuta, competente e sério.

Por volta das quinze horas, sob a batuta de tal Mestre Negro, a Banda começou a entoar músicas. Marchinhas, modinhas, valsas e sambas.

O povo aglomerado no pátio do quartel foi aos poucos se dirigindo àquela Companhia, cuja nomenclatura da época não sei qual era, mas quando papai  fora promovido a Subtenente em 1955, para ela foi destacado, e se chamava CPP/1 – Companhia de Petrechos Pesados do 1º Batalhão, que também eu, quando fui promovido a Cabo, para ela fui transferido e lá permaneci por mais de ano sob o Comando do Capitão, sério, introspectivo e competente, José Fernando Mariú Mariani, maçom, que sofreu agruras durante a Ditadura Militar e que ao se aposentar como Coronel, abriu seu próprio consultório de Psicologia em Porto Alegre, ao qual nos anos 80, presenteei com o livro “O Tenente Vermelho” escrito por José Wilson da Silva. Após servir nesta Companhia fui transferido à CC/1 – Companhia de Comando do 1º Batalhão, cujo seu comandante era o então Capitão Álvaro Simões da Conceição Junior, que anos após, já como Coronel foi designado para ser o Comandante Geral da Polícia Militar de Rondônia e depois o Capitão mato-grossense Clerion Dias Faro, de quem guardo boníssima e até hilária recordação. Encerrei meus serviços ao Exército, na 4ª Companhia de Fuzileros, que era comandada pelo competente Capitão Justo Botelho Santiago.

           Papai - Floribal Farias Teixeira, como Subtenente da CPP/1

Contava papai que naquele dia, o povo dentro do alojamento de tal Companhia assistia alegre a Banda tocar, conversavam, riam num congraçamento e camaradagem ímpar.


Espontaneamente formaram-se alguns casais e começaram a dançar e o fandango se generalizou e todos, fugindo ao pétreo regulamento, Soldados, Cabos, Sargentos e Oficiais dançavam alegres e descontraídos com suas parceiras fixas ou ocasionais, numa miscigenação bonita e cidadã. Uma grande família de brancos, negros e muitos com traços nitidamente indígenas.

A Banda tocava alto o que ainda mais chamava a atenção.


Nesse momento, o Coronel Comandante, maleva e arrogante, acompanhado de seu Subcomandante, um Tenente Coronel e um Major, adentraram ao alegre recinto.

O Coronel ao ver negros e brancos confraternizando, juntos, alegres e felizes, naquele surungo, num berro ensurdecedor gritou da porta, mostrando todo o seu rançoso racismo:

- Negro não dança!

Silêncio.


Silêncio absoluto e sepulcral.


O Mestre da Banda, aquele taura e bravo Sargento negro, de sangue nas ventas, corajoso e “topetudo”, ao ouvir aquela mesquinha ordem, gritou inesperadamente do palco improvisado:

- Coronel!
 
- Se Negro não dança, Negro não toca!

O silêncio foi maior ainda, e o Coronel vendo a bobagem que dissera, e assistindo todos os músicos negros e inclusive todos os poucos brancos, soltando seus instrumentos, virou às costas e sumiu com o rabo entre as pernas, feito jaguara desguaritado.

E o baile?

O baile continuou ainda com mais graça e ânimo, graças a um homem negro que teve a coragem, mesmo sendo apenas um Segundo Sargento de comprar camorra com o Comandante, metido a facão sem cabo.

Elucidário:

Comprar camorra - Comprar briga. Chamar para si a responsabilidade.
Facão sem cabo – Metido a corajoso.
Fandango – Baile.
Jaguara desguaritado – Cachorro sem dono. Sem abrigo.
Macanuda – Bonita, atraente, bacana.
Maleva – Mau, desapiedado, ruim.
Paisanos – Cidadãos civis.
Sangue nas ventas – Bravo, irritado, corajoso.
Surungo – Baile, bailanta, festa de campanha.
Taura – Homem valente e destemido.
Topetudo – Sem medo, corajoso, impetuoso.

domingo, 25 de novembro de 2018

A Professora.




Em decorrência de uma resposta a um comentário feito pela amiga de Blogosfera, Anajá Schmitz, do belo blogue Minha Vida de Campo, comentários esses sempre bem-vindos e atenciosos, com tanta educação e carinho, que passo, então a relatar um fato especial que comigo aconteceu, lembrando agora que foi em 1978. 
 

Havia voltado do Mato Grosso do Sul onde morei por algum tempo e em uma manhã estava em frente à extinta CEE – Caixa Econômica Estadual, na Avenida Júlio de Castilhos em Porto Alegre.


Aguardava a abertura desse Banco, pois precisava sacar um dinheiro, lembrando que o horário de atendimento, naquela época dava-se a partir das nove horas, e não como hoje, que os bancos abrem somente às 11h.


Cinco ou seis pessoas aguardavam as portas serem abertas para resolverem seus problemas. Enquanto esperava observei uma senhora, bem vestida, esguia, bonita, roupas claras e um semblante sereno e com ela comecei a conversar, dizendo estar vindo do Mato Grosso do Sul e iria morar em Canoas, pois provisoriamente estava residindo em Pelotas, a minha terra natal.



Naquele ano eu era ainda um jovem de 30 e poucos anos, vastos bigodes negros e ainda tinha cabelos e ela uma senhora de mais de 50 primaveras, muito educada o que me chamou a atenção o que me fez perguntar qual era sua profissão.


Ela, educadíssima, disse que era professora e o assunto estendeu-se até serem abertas as portas, quando perguntei o seu nome e onde ela residia.


Ela educadamente passou às minhas mãos um papel onde havia anotado seu nome e endereço.


Pensei comigo: - Jamais verei essa senhora tão meiga, educada e de fina estampa.


Passaram-se dias, ou até mês, quando em uma certa noite, estando em Porto Alegre providenciando minha mudança para Canoas, ia em uma lotação da Companhia Carris, pois pernoitaria na casa de meus pais e essa lotação me deixaria em frente a casa.


Ao passar pela Avenida Protásio Alves, lembrei-me que aquela simpática senhora morava na Rua Coronel Corte Real, pedi ao motorista parar em uma das estações, quase em frente a essa rua e desci decidido a visitar aquela meiga senhora. Levei a mão à carteira de documentos e ali estava o papel dobradinho com o nome e o endereço.


Ao chegar, pelo interfone identifiquei-me e ela imediatamente desceu para abrir-me a porta do edifício que estava sempre chaveada, e surpresa, alegre e educadamente convidou-me a entrar. 


Ao chegar a seu apartamento, no primeiro andar, encontrei na sala dois jovens, sua sobrinha e seu namorado, ambos com idade entre 19 e 23 anos, que alegremente foram apresentados e entabulamos uma conversa amistosa e civilizada. Era um casalzinho muito bonito.

             Foi no velho Mato Grosso, há muito tempo atrás,
             Naqueles tempos queridos, que não voltam nunca mais..,
 

Falei a eles sobre minhas viagens pelo Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná...


Nesse momento ela educadamente perguntou se eu conhecia bem o Paraná. Eu respondi que sim, pois conhecia quase todos os Municípios daquele Estado.


Ela então disse que tinha um irmão que morava no Paraná.


Neste momento, não sei por que, interrompi e perguntei a educada senhora:

- Aquele que está sendo ameaçado de morte?

Silêncio total naquela sala, os jovenzinhos enamorados entreolharam-se e ela perguntou estarrecida, como eu sabia?


- Não sei! – Respondi – Mas sei quem são os homens que estão ameaçando o teu irmão.


Eu a conhecia pouquíssimo, não conhecia o seu irmão, mas fleches em minha memória, mostravam as imagens de dois desafetos.


Disse então a ela:


- Um deles é um homem gordo, cara de índio, imberbe, vive com a camisa desabotoada e tem uma enorme e profunda cicatriz na barriga, que desce pelo lado esquerdo do umbigo e vai quase até a virilha direita e o outro é um sujeito magro, rosto chupado por falta de dentes, tem os cabelos crespos grisalhos e barba rala e também grisalha.


Ela, num pulo pôs-se em pé, abriu a porta de seu apartamento e saiu ligeiro, sendo seguida pela sobrinha.


Sem entender fiquei naquela sala conversando com o rapaz, tenso e incrédulo.


Minutos depois ela voltou com a sobrinha. A menina sentou no sofá, com as mãos entre os joelhos, ao lado do namorado e ficou pasma me olhando, enquanto que essa senhora sentou-se em uma poltrona amarela e ficou serena e intrigada, olhando-me.


Perguntei-lhe então, o que havia acontecido e ela, incrédula, disse que fora ao apartamento de uma vizinha telefonar para o irmão do Paraná, já que naquela época não possuía telefone e que esse havia confirmado tudo o que eu dissera.


Quis saber mais coisas e eu disse que isto acontece não é quando a gente quer, acontece espontaneamente e eu não saberia dizer por quê.  São fleches que ocorrem comigo nos mais variados momentos e a eles contei outros casos semelhantes, como o caso da morte de Silvinho, o atropelamento em Dourados, o carro desgovernado, o acidente com o motociclista, a morte de Juca, dono do Hotel Iguaçu em Campo Grande, o caso do Cabo Rancheiro, o Soldado que me acordou e outros fatos que com minutos, dias ou anos de antecedência que vieram acontecer.


Após tomar um belo café com aquelas três amáveis pessoas, despedi-me dizendo que iria pernoitar na casa de meus pais e o jovem aproveitou que eu iria sair e despediu-se da namorada e da tia e comigo iria sair.

À porta do apartamento a gentil senhora disse que desceria as escadas para abrir a porta do edifício, e eu comentei que a porta não estava chaveada.


Não, retrucou a amável professora, esta porta está sempre fechada, todos do prédio chaveiam a porta ao entrar e ao sair.


A sobrinha resolveu ir junto ao namorado até à porta de saída despedir-se mais uma vez do jovem e certificar-se do que eu havia vaticinado quanto à porta. No momento em que a professora pegava sua chave para abrir a porta, antecipei-me e girei a maçaneta e a porta estava realmente aberta.


Mais uma vez ficaram sem entender.


Nunca mais os vi.


Nuca mais vi aquela educada e serena senhora que tanto me cativou por sua educação esmerada e sua invejável simplicidade e simpatia, mas que nunca saiu de meu bons pensamentos.

Como?

- Não faço a mínima ideia, mas como dizia John Coffey, no filme “À Espera de Um Milagre”, são como cacos de vidros perfurando minha mente.

            John Coffey  - (falecido Michael Clarke Duncan)

Quantas vezes vejo uma amiga saindo do edifício em que mora em Lisboa; quantas vezes vejo um casal de Osório no pátio de sua casa; quantas vezes vejo meu amigo Manoel, que reside em Albatroz saindo pelo portão de sua casa ou sentado à varanda; quantas vezes vejo certos “parentes” em suas residências; quantas vezes vejo coisas que vão acontecer em diferentes partes do mundo. 


Quantas vezes...



A maioria das pessoas é incapaz de compreender as forças que vêm da Terra o do próprio Universo, porém os animais, ditos irracionais têm essa capacidade mui desenvolvida, pois conseguem detectar muitos desastres naturais com antecedência, mas essa maioria esmagadora dos seres humanos perdeu essa sensibilidade. Essas forças naturais são pelas ciências chamadas de Energias Telúricas, que nada tem a ver com religiões, deuses ou demônios, mas nos conectam com diferentes coisas e indivíduos, cuja Física Quântica, ainda engatinhando, tenta explicar essas interações que estão entre nós, basta nos religarmos a natureza. E esta está chegando a um ponto crítico, destruída pelo imediatismo e irresponsabilidade humana. Cada experiência atômica modifica essa interação e levará a humanidade ao extermínio.


Não reclamem depois.


O “depois” não haverá volta.



quarta-feira, 21 de novembro de 2018

O Incrível Poder da Mente



Novamente volto a esse assunto tão delicado quanto desconhecido, ainda. Um dia vamos ter explicações sérias feitas pelas ciências, mas que ainda causa dúvidas e controvérsias, mesmo dentre cientistas, psicólogos e mesmo, psiquiatras, pois estamos engatinhando nesse campo tão fascinante e para alguns, assombroso.


Como funciona a nossa mente.


Para começarmos vou dar um exemplo ocorrido em outubro de 1975.

                Com o Eng. Plentz em Cascavel, Paraná.

Viajava pela primeira vez ao Mato Grosso, pois somente em 1º de janeiro de 1979, foi o Mato Grosso do Sul, finalmente desmembrado do Velho Mato Grosso.


Viajava ao Sul do Estado, com o Engenheiro Plentz, para escolhermos uma cidade para nela instalar uma Filial da Empresa que o mesmo era o Gerente Geral e que eu viria a ser o primeiro Gerente dessa filial.

             Como era a Av. Marcelino Pires, em Dourados. MS

Entramos no Estado, por volta de 9 horas da manhã, pela cidade de Mundo Novo e dali seguimos para Eldorado, depois Naviraí, Caarapó e após Dourados . Mas a viagem se estenderia às cidades de Rio Brilhante, Rondonópolis, Brasília, Triângulo Mineiro e por diversas cidades passaríamos. Em Dourados pretendíamos instalar essa filial o que se concretizou em novembro daquele mesmo ano. Outra fora instalada em Cascavel, no Paraná.

                 Com índios Guaranis-Kaiowás - Rio Brilhante. MS

Seguíamos então por aquela estrada em direção a Dourados, estrada ainda de terra, pelo meio do Cerrado, mata nativa e escura, o que contrastava com as terras avermelhadas de tal carreteira. Estávamos entre Eldorado e Naviraí, quando eu disse ao companheiro de viagem que aquela região me era mui familiar, pois tinha a nítida impressão de conhecê-la.

            Como eram as terras que eu já as conhecia, sem que 
                            nunca estivesse lá - Caarapó - MS

O Eng. Plentz, na direção do automóvel, olhou-me e disse que nossa mente vê, esquece e em milésimos de segundos vemos novamente e achamos que já estivemos nesses locais.


Estávamos em um aclive de mais de 600 metros e o que se podia ver era o topo da estrada entre o mato.


Disse então ao Engenheiro Plentz:


- Lá no alto haverá uma curva a direita e um declive. Poucos metros deste declive tem uma estreita ponte de madeira, sobre um pequeno arroio. Ao passar a ponte observe à esquerda, haverá um campo queimado e no meio das cinzas terá um único e enorme touro zebu malhado de preto e cinza deitado calmamente.


O Eng. Plentz, balançou a cabeça e riu, porém quando chegou ao alto daquele aclive entrou em uma curva à direita, em seguida freou o carro, pois havia a ponte estreita e de madeira, ao passar a ponte a sua esquerda estendia-se o vasto campo queimado, com alguns trocos de arvores ainda fumegando levemente e no meio das cinzas, quase imperceptível o animal pacificamente deitado.


Olhou-me surpreso e ficou perdido em pensamentos, pois tudo estava conforme havia vaticinado.


Lembro-me dele ter me chamado de Uri Geller, um judeu naturalizado britânico, que fazia sucesso na televisão, com a sua paranormalidade naquela época.



Paranormalidade:

O termo paranormalidade é popularmente usado para explicar acontecimentos não naturais e que ainda não existe uma explicação científica, apesar de ser muito usada até na resolução de fatos e crimes quase insolúveis.


Para os esotéricos, a paranormalidade é um fenômeno natural, porém para alguns cientistas isto não existe e para outros é um assunto de interesse e estudos, como ocorre principalmente nos Estados Unidos da América, Reino Unido e Rússia.


Dentro da psicologia há um ramo de estudos chamado parapsicologia e se dividem em três grupos:

A percepção extrassensorial, que acontece quando há uma transmissão sem nenhum artifício físico, as premonições, coisa mui comum e estudada, pois há fatos já comprovados desse fenômeno e neste campo podemos explorar as premonições, até certo ponto falhas encontradas nas Centúrias de Nostradamus. Falhas, pois deixam lacunas ou interpretações diversas para mesmos acontecimentos e não comprovadamente exatos, pois ele usou de relatos que levam a múltiplas interpretações, porém ainda muito estudada e defendida. 
 
A telepatia, que é o ato de se comunicar apenas com a mente  e a clarividência, quando uma pessoa percebe algo que está fora dos seus cinco sentidos, porém possuímos mais de 20 sentidos, como exemplo, o equilíbrio. Porém é comum usar o termo sexto sentido para explicar esse fenômeno que ocorre dentro de nossa mente.

Sandrinha, minha mulher, no ano de 1976, acordou em um sobressalto, pois sentia que nosso filho de apenas alguns meses se engasgava com a borrachinha da chupeta.


Correu até o quarto ao lado e no escuro passou suavemente as pontas dos dedos nos lábios do menino que dormia, não encontrando a chupeta e para sua surpresa encontrou apenas o filho chupando o bico de borracha da chupeta, pois a mesma havia se desmontado. No escuro tirou a borracha de sua boca e montou a chupeta. Constatou que estava bem firme e a colocou novamente na boca do menino. Sem a proteção externa poderia ele se engasgar.


Assim e outros fatos costumam ocorrer comigo, porém os vejo com naturalidade e sem alardes.

                  Que lindinho - Euzinho.

Outro fato interessante são minhas lembranças que vão há tempos que a própria medicina nega a possibilidade, porém tenho fleches de coisas que me levam aos primeiros meses ou dias de minha vida.  Coisas fascinantes que desde que nasci estão claras em minha memória e não foram coisas contadas já quando eu tinha capacidade de entendê-las.


Eu meu livro de Memórias que estou terminando para ficar para os meus filhos, pois não pretendo lançá-lo no mercado, há esse interessante capítulo. Sei que é um pouco longo, porém escrevo para pessoas que gostam de ler e que tenham prazer na leitura. Lembrando que somos um País que poucos leem, pois infelizmente a esmagadora maioria de nossa população não gosta de leitura, inclusive há na família uma aparentada política que quando chegou a nossa casa e viu montanhas de livros em estantes, prateleiras, sobre mesas ou colocados nos mais diferentes lugares, perguntou com desdém e absoluta ignorância:

- “Pra quê esse monte de porcarias?”.

Fazer o quê? 


A ignorância sufoca. A ignorância torna as pessoas brutas e as mantém sufocadas nesta contínua e mesma ignorância. 
 

Leia neste mesmo espaço o post com o título “Houve um Tempo”, publicado em 28 de fevereiro de 2012. Fascinante.


Aos bons leitores dedico abaixo parte de meu livro de memórias: 


Paz e amor a todos. Boa leitura.

                       Em 1946 no colo de mamãe em Porto Alegre - RS.
                                       Papai já fazendo o Curso de Aperfeiçoamento.



            CHEGUEI

Como é chegar à vida?
Dor?
Túnel?
Prazer?
Muitos ou quase todos não sabem ou dão as mais complicadas ou esdrúxulas explicações, possíveis ou impossíveis.
Mas, nascer é como um...
                             C H E G U E I  !!!  
Esta foi a sensação que senti quando a vida me acolheu. Uma maravilhosa sensação de estar ali, em algum lugar. Lugar estranho e ao mesmo tempo familiar.
Um “DÉJÀ VU”.*
E isto que eu tinha horas ou dias de vida.
Do parto, obviamente não lembro, entretanto como num abrir de olhos, deparei-me com o mundo, um mundo novo, claro e que só enxergava o que estava acima da cama. Cama esta, bem arrumada com uma branquíssima e simples colcha.
E dizem que os bebes, nos primeiros dias não enxergam.
Enxergam sim! E muito bem!
 Só que a maioria esquece. Esquecem das coisas mais belas da vida. Esquecem de como começamos esta caminhada, esta aventura chamada vida, que sempre há de nos levar ao mesmo caminho - o fim.
Mas neste caminho outras coisas belas veremos, mas nenhuma será igual as primeiras, pois estas são únicas.
...
E tão logo percebi que enxergava e não foram poucas coisas, percorria com os olhos, às claras paredes, não lembro se eram amarelas ou verdes, mas eram bem claras. 
Algum esperto dirá: - “Foram fatos que ele ouviu falar quando pequeno”, Mas ninguém falaria de pontinhos escuros no teto de tábuas caiadas de branco, nem tão pouco de uma mancha de goteira em um canto do teto.
            Tudo lorota. Ao deparar-me com a vida, o fiz enxergando tudo dentro do meu raio de visão, limitado, mas fantástico. Límpido, sem sombras ou fleches. Algo tão novo, quanto esperado.
Aquele mundo, que pela primeira vez eu via, não foi com espanto, foi tão normal que já me sentia parte dele, sem ter a exata noção do que eu era. O que eu via no meu mundo eram coisas que não me causavam medo a não ser uma das poucas vezes que após ter mamado, pois refugava o peito, regurgitei no piso do quarto e mamãe deitou-me na cama, recostado a travesseiros e sumiu. Demorou algum tempo e nesse período um animal entrou, atraído pelo cheiro do leite regurgitado e aquilo me assustou muito e eu comecei a chorar de pavor.
Conforme entrara o animal sumira ao ser assustado pelo meu “berro”, instante após mamãe entrou ligeira no quarto, indagando:
- O quê foi?
- O que foi?
Se ela isto indagava, foi por não ter visto aquele animal, um cachorro, que não era da casa, o que descartaria a possibilidade dela ter me contado anos depois sobre aquele cachorro. Foi a experiência mais assustadora de minha vida de bebe.
Devido a posição que me colocaram sobre a cama, ficava o tempo todo olhando para cima, e em primeiro plano via um mosqueteiro, não tinha a noção do que era aquilo, mas meus olhos viajavam por aquela infinidade de minúsculos furinhos todos atados, uns aos outros por finas linhas brancas, que como uma cascata de límpidas águas, derramava-se em minha volta.
Afinal, estava tão bem enrolado, que só meus olhos podiam se movimentar, mas percebi que, com algum esforço, podia movimentar minha cabeça, o que me permitia enxergar todo o teto do quarto. E, uma pequena coisa me chamava à atenção. Estava lá, presa ao teto. A princípio sentia um misto de curiosidade e medo, mas eu permanecia bom tempo contemplando aquilo.
            Se minha atenção fosse desviada por algum movimento, logo voltava a procurar aquilo, para ver se se mexia.
            Aos poucos percebi que aquilo estava fixo, preso ao teto. Ah! Era um gancho (parecido com um anzol). Meus olhos fixos tentavam descobrir porque aquilo era tão preto.
            Com o passar do tempo percebi que um cordel dele descia e sustentava outro mosqueteiro. Este cordel tinha sua outra ponta atada a cabeceira de outra cama.
            Mas eu continuava intrigado. Por quê aquele gancho era tão preto? Tempos depois fui entender que aquele “pretume” se tratava de sujeira de moscas, inseto que naquela época enchiam as casas, já que do outro lado da rua não havia nenhuma construção e sim campos que eram usados para criação de gado.
           ...
            Meus primeiros dias foram assim, olhando para o teto do quarto e a noite me chamava à atenção aquela luz amarelada e fraca proveniente de uma lâmpada, o que dava ao ambiente um aspecto triste e quando minha querida mãe apagava aquela lâmpada, outra luz bem mais fraquinha e cambaleante ficava a iluminar tenuamente o quarto. Era uma lamparina. Pequenos pavios trespassando um flutuador também de proporções minúsculas, que ficava flutuando dentro de um copo com água, com uma camada de azeite de oliva, que servia de combustível, já que óleos de soja ou arroz não existiam, ainda.  Após setenta e dois anos, ainda conservo a caixinha oval que fora um dia verde, hoje já desbotada, e muitos pavios e flutuadores, destas lamparinas que iluminavam com sua tênue chama cambaleante o início da minha vida.
Do primeiro dia, de luz intensa na rua, a única pessoa que tenho lembrança é de minha mãe, identificada a princípio pela voz, mas logo em seguida pela sua figura tão terna e atraente. Mãe, em cujos braços me sentia seguro sob uma ternura inigualável.
            Dias depois, outra voz familiar ouvi, era uma voz bem conhecida, e de repente pela primeira vez via a imagem daquele homem que seria meu pai. Ele havia chegado do quartel para almoçar, era Segundo Sargento do Nono Regimento de Infantaria, hoje Nono Batalhão de Infantaria Motorizada, “Batalhão Tuiuti”. Chegou até a porta do quarto, sorrindo. Era um jovem magro, cabelos negros, cortados “a la milico” e sobre sua boca de enormes dentes de um branco inigualável, destacava-se um bigode fino, preto e bem aparado. Jamais esta imagem inicial saiu de minhas lembranças.
              Parado junto a porta ele permaneceu, sempre falando e sorrindo, um sorriso inconfundível, bonito, aberto e a vezes cheio de malícia. Ergueu seu braço direito e apoiou o cotovelo no marco da porta. Estava de camiseta de física branca e culotes verde oliva. Não via suas botas, mas como sempre, deveriam estar brilhando. Neste momento falou alguma coisa com alguém, que não era minha mãe, e meus olhos desviaram-se e vi chegar a porta outro homem, mais alto, mais velho, moreno, amulatado, cabelos crespos, quase sarará e também de bigodes, o que era moda naquela época. Riam, falavam em voz alta e assim como chegaram, sumiram.
            Instintivamente meus olhos procuraram o gancho no teto e nesta tarde fiz outra descoberta. Em um dos cantos do teto havia um borrão, proveniente de uma goteira, aí fiquei procurando outras coisas no teto e o que encontrei eram pequenas manchas e moscas, muitas moscas, além de outro gancho, este sustentava o mosqueteiro da cama em que eu estava.
           
Nota de esclarecimento aos que possam duvidar. Os nomes das coisas que cito, obviamente eu não sabia, mas os via com clareza e posso até afirmar que os animais irracionais (?) também os veem, porém não dão a eles nomes, até onde sabemos.

               

                       Quase quatro meses após meu nascimento, papai estava 
                       em Porto Alegre,  fazendo o Curso de Aperfeiçoamento 
                       de Sargentos. (02-VI-46).

Pelos anos 80, após ter voltado do Mato Grosso do Sul, onde morei algum tempo, conversando com meus velhos pais, lembrei-os deste episódio que jamais havia falado para ninguém. Meus pais, ambos de memória invejável, olharam-se, pensaram e então minha mãe lembrou, dizendo:
- Velho! Não foi o seu “fulano”? (não guardei o nome da pessoa).
Meu pai confirmou perguntando:
- Como tu podes lembrar desse fato, que ocorreu dias após o teu nascimento, pois foi à única vez que seu “fulano” esteve lá em casa!
            - Não sei! - Respondi.

* - Déjà vu - Do francês, cuja pronúncia é "dejá vi" que é a sensação de já ter visto.
           
             
           Só para recordar:


          O encontro com meu Padrinho, Capitão Schwanz, que fora
                   transferido para Campo Grande - MS em 1957 e por lá ficou,
                   após aposentar-se do Exército, exercendo a função de Tesoureiro 
                   do INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. 
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