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domingo, 22 de outubro de 2017

Lamento




Foi um namoro que durara pouco mais de um ano e já havia terminado há mais de cinco. Fora para ela um vendaval de paixões que marcara muito seu jovem e terno coração adolescente. Neste tempo muito sofrera e permanecera só, triste e cultivando uma impossível esperança que a consumia.

Tornara-se triste e amarga, sonhando com um reatamento que não tinha como acontecer, mas ela sonhava e sofria.

Numa tarde ensolarada de primavera, há pouco havia chegado do quartel do Exército no qual servia há quase seis anos, não encontrei meus pais, pois haviam saído para fazer algumas compras e a casa apresentava um silêncio melancólico como jamais ocorrera. A luz do Sol entrava pela janela e o movimentar sereno da leve cortina fez-me por um instante parar e contemplar aquele tranquilo canto da sala, enquanto tirava a gandola e a colocava na guarda de uma cadeira.

Antes mesmo de ir para o banho, parado em meio da sala, vestido apenas com a calça de campanha e coturnos, com o peito nu, ouvi barulho no portão social. Pequeno e leve portão de ferro pintado em cor azul claro. Parei por um instante ao lado da mesinha de centro como se auscultasse o próprio silêncio que após se fizera.

Em atenção permaneci e antes de tirar o cinturão com a pesada pistola da cintura para colocar sobre a cadeira onde havia deixado em sua guarda a suada camisa de campanha, conhecida como gandola, soou a campainha.

Imediatamente fui até a porta e quando a abri uma surpresa muito grande tomou conta de mim. Com alegria vi ali parada, linda e serena aquela, agora, doce mulher, que ainda não completara os 23 anos com um conjunto leve de saia e casaquinho cor-de-rosa clarinho, blusa branca, sapatinhos baixos, brancos.

Ostentava uma corrente de ouro em volta de seu fino e delicado pescoço, que pendia sobre o peito arfante.

Bonita e formosa, jovem maravilhosa, bem vestida e com seus negros cabelos ondulados e belos, porém carregava o mesmo semblante extremamente triste de quando a deixei anos antes.

Surpresa e encantamento, saudades dos bons e quentes momentos que passamos junto. Agora mais amizade e respeito do que qualquer outro sentimento.

Aos poucos ela foi levantando o pálido rosto e seus olhos negros brilharam como duas estrelas contemplando-me a sua frente. Não sorriu. Seu rosto tornou-se pesado e com uma profunda tristeza. Tive a impressão de que ela iria chorar. Titubeante e engasgando-se nas palavras quase não conseguia falar, mas seus olhos percorriam meu pleito e braços.

Meus pensamentos confusos deixaram-me sem ação, mas contendo-me em total respeito àquela mulher tão frágil e submissa. Tão terna e passiva a qualquer vontade, a qualquer loucura, porém nada podia fazer para não machucar mais aquele já estraçalhado coração, apenas sorri e perguntei como ela estava.

Sem dizer nenhuma palavra, de olhos baixos, limitou-se a entregar, com as mãos trêmulas um envelope e com esforço e ternura, uma ternura quase suplicante disse que era para os meus pais, mas que eu podia abrir e ver.

Olhando-me fixamente permaneceu enquanto eu abria o envelope e dele tirava um belo convite. Era o convite de seu casamento.

Meu coração foi tomado de uma grande alegria. Agora me sentia livre daquelas nostálgicas amarras que insistiam em prendê-la a mim. Um sentimento inexplicável de culpa parecia ter se apagado de meus pensamentos.


Mas que culpa teria eu?

Que dor e sofrimento teria causado àquela bela mulher?

Uma coisa insana que há muito me atormentava via naquele momento esvair-se. Ela finalmente havia encontrado alguém que a amasse verdadeiramente e a fizesse feliz. Era o que eu esperava realmente.

Com os olhos baixos despediu-se sem nada dizer, dando-me a mão trêmula, hesitante e confusa.

Por um bom tempo permaneceu segura a minha, parecia não conseguir ou não querer soltá-la. Titubeante levantou os olhos e aos meus fitaram com afeto e ternura, coisa difícil de descrever. Seus olhos negros brilhavam profundos e tristes, sua mão macia e delicada apertava a minha como num pedido de misericórdia e por um bom tempo permaneceu fitando-me com um carinho intenso, devastador e extremamente submisso. Pendeu levemente a cabeça quase encostando a meu tórax. Ela nada disse apenas me contemplava e eu calado permaneci, pois nada que dissesse aliviaria o seu coração.

Após aquele devastador momento para ela, virou-se devagar como se não quisesse ir, como se suplicasse que eu não a largasse. Doído momento. Virou-se e caminhou lenta e incerta para o portão enquanto eu com dó admirava seu corpo esguio, mas cheio de provocantes sinuosidades, belo e atraente.

Ao chegar ao portão, parou e continuou por um tempo de costas, pensativa, olhando para cima onde um belo céu anil descortinava-se límpido e infinito, rogando, pedindo e implorando para que eu a chamasse para os meus braços.

Um duro momento que carrego claro em minhas lembranças, quando vagarosamente virou-se, fitou-me de longe e suavemente, como se planasse em seu caminhar delicado voltou tão incerta e titubeante quanto havia saído.

Parou de mim tão próximo que podia sentir o seu cheiro tão conhecido, embriagante e sedutor. Podia sentir o seu hálito doce e perfumado. Seus belos olhos tristes levantaram-se e aos meus penetraram tão profundamente quanto era o seu amor e com uma submissão como jamais havia visto. Imensamente submissa, escrava de uma até patológica paixão. Paixão tão doentia que a tornava refém de qualquer desejo. Refém de qualquer querer. Refém de qualquer capricho.

Seus lábios tremiam. Seu rosto já pálido transfigurou-se e quase imperceptivelmente balbuciou algumas palavras que vinham do fundo de seu sofrido e jovem coração, fazendo imenso sacrifício para não chorar.


Trêmula virou-se mansamente, como se não quisesse ir e sumiu vagarosa rua afora sem olhar para trás, carregando uma ampla tristeza, uma tristeza tão grande, sufocante e contagiante que eu tive vontade de correr em sua direção e beijá-la, envolvê-la com carinho em meus braços e pedir-lhe perdão por aquele tão grande e louco amor não correspondido.

Mas para quê?

Para fazê-la sofrer mais ainda?

Meu coração voltou às antigas amarras de culpa, dó e dor.

De meus pensamentos o que ela, num momento tão sofrido havia dito, mesmo que com palavras tão difíceis de serem ditas, sufocadas, amordaçadas, balbuciadas, quase inaudíveis, mas com tanto amor e carinho, com tanta paixão e tristeza, com tantas súplicas e submissão que jamais se apagaram e jamais se apagarão de minha memória enquanto eu viver ou eternamente.


- Estarei te esperando, suplicando, chorando e implorando que vás me buscar e mesmo que no altar esteja, largarei tudo para te acompanhar.


Lamento.


Lamento profundamente.

Lamento que um dia tenhas me amado tanto.

Lamento que eu não tenha correspondido a tanto, transbordante, magnífico e louco amor.

E o tempo passou, a dor ficou como garras em meu peito cravadas, mas infelizmente não havia o que fazer.

Perdoe-me.

Infelizmente não somos os únicos donos de nossos destinos.

sábado, 14 de outubro de 2017

Educação e Amor.





Dentre os ensinamentos bíblicos um deles fica bem claro que é o da “chantagem”, vil e cruel.

O crime e o castigo.

O bem e a graça.

O mal e a punição.

O paraíso e o inferno.



Como se treina um cachorro a bíblia faz esta chantagem com seus seguidores, pois esses vivem presos às recompensas e as punições.


Entretanto o bem deve ser praticado sem a presunção de receber algo em troca. O mal não deve ser feito, não porque haverá um castigo e sim por índole.


O humanismo é próprio dos homens de caráter, sejam eles alguns religiosos ou ateus. E neste caso temos sim que lembrar deste ensinamento budista.

             
Sendo eu ateu, não espero recompensas pelas coisas boas que posso praticar, pois isto para mim é um dever. Nem também castigos pelas coisas más, pois minha moral as impedem de serem feitas.


Trato a todos com atenção e carinho e se alguém duvidar veja as minhas mais antigas respostas a meus comentadores. A todos dispenso carinho, atenção, educação e até uma profunda compreensão e amor.


A todos, homens, mulheres, conhecidos, desconhecidos trato com extrema doação e delicadeza. Muitos nem sei quem são. Jamais os verei. Nem sei se são reais.


Caso contrário seria eu um sórdido, mal educado, insano, cruel, tendencioso, torpe e mentiroso.


Muitos agem assim. Maldosos, que veem o mal em tudo, que não sabem dividir as coisas, que acham que entre pessoas sempre haverá um interesse além. 

Coitados! Desses tenho pena.

Pode sim haver uma amizade fraterna sem a esperança de uma recompensa. Isto acontece com o cachorro que está sendo adestrado. Se fizer a coisa certa receberá uma recompensa.


Não duvido que muitos assim ajam, pois esse comportamento pequeno e asqueroso é próprio dos seres humanos que veem o mal em tudo.


“Um homem não pode ter uma amizade pura por uma mulher. Não existe uma amizade platônica”.


Coitados dos que assim pensam.


Então para evitar mal entendidos deveria eu ser lacônico, grosseiro, antipático, mesquinho e mal educado?

Não!

Absolutamente não.


Sabes por quê?


Porque tenho berço. E em dizer ter berço é dizer tudo.


Filho de um Oficial do Exército, de caserna, duro, introspectivo, reto, ilibado, cônscio, porém dedicado aos filhos e a esposa. Amoroso e educado. Filho de uma mulher meiga, educada, fina, de caráter marcante, amorosa e honesta.


Assim também sou e assim eduquei meus filhos, dentro do que é certo, sem esperar recompensas pelas coisas boas que fizeram, pois isto deve ser uma obrigação de todos e não fazer o correto na esperança de uma recompensa.


E nesta chantagem que vivemos, a hipocrisia é que norteia a maioria das pessoas que veem o mal em tudo.


Não posso chamar uma amiga de amada, pois interpretam como amante.


Não posso chamar uma amiga de querida, pois interpretam como desejo.


Não posso ser educado, pois interpretam como se houvesse interesses outros.


O mundo da hipocrisia, o mundo do faz de contas, o mundo da maldade e do desrespeito. Um mundo fétido e repugnante.


Um mundo em que as pessoas não podem formar laços fraternos de amizades, pois são mal interpretadas.


Mesmo que seja neste mundo virtual, na chamada Blogosfera, pois mesmo aqui os maldosos usando do anonimato se inserem maldosamente, urdem hipocritamente, mas perdem o respeito e a admiração que por eles possamos nutrir. 


O mesmo respeito que nutro por meus leitores, nutro por minhas leitoras. E esse respeito manterei, pois, como diz o velho ditado “enquanto a caravana passa os cães ladram”.




Entretanto além do respeito que a todos devo, um respeito maior nutro por uma mulher. Companheira, parceira, que comigo divide sua vida há mais de 45 anos e a quem não guardo segredos e participa ativamente deste espaço, mesmo que queira ficar no anonimato. Minha amada e única mulher com quem divido meus momentos mais eternizados pela cumplicidade. Sandrinha, meu eterno e único amor.


A todos os meus leitores um belo domingo.

sábado, 7 de outubro de 2017

Em Nome de Deus.





A Noite de São Bartolomeu.




Sem entrar no mérito das Cruzadas, coisa estudada na escola e provavelmente de conhecimento geral que levou os “Demônios de Olhos Azuis”, como eram chamados os Europeus pelos Árabes, a invadirem a dita Terra Santa para de lá expulsarem os muçulmanos e tentar, pela força das armas e da matança generalizada introduzir a fé Cristã, sob o beneplácito deste deus sádico que observa a maldade e não intervém, o que prova ser mais uma farsa religiosa ao estilo de Sauron, de “O Senhor dos Anéis”, vamos ver o que acontecia dentro da Europa Ocidental no período da chamada “Idade das Trevas”, Saeculum Obscurum assim dito por Caesar Baronius em 1602, referindo-se ao período de decadência cultural e econômica que se seguiu ao fim do Império Romano do Ocidente, que vai das cercanias do Século V ao Século IX. Lembrando que a Idade das Trevas está dentro da chamada Idade Média que inicia com a queda de Roma estendendo-se até o Século XV.


Permanecendo no chamado Saeculum Obscurum, vamos encontrar nesse período uma acérrima intervenção da Igreja quanto ao desenvolvimento cultural. Esta proibia tudo, medicina, matemática, astronomia e outros conhecimentos, o que levou a Europa a uma fase de total ignorância e pobreza e abriu um fértil campo para a barbárie, para as superstições e crendices. Mesmo com o passar desse período, avançando outros Séculos, a Igreja mantinha a sociedade sob sua mão de ferro, com ferozes mortandades nas fogueiras da dita Santa Inquisição, que teve seu começo no Século VII na França para combater qualquer pensamento que os católicos achassem heréticos. Coisa que continua até hoje, pois ser contrário a qualquer coisa escrita na bíblia, crivada de erros e maldades, é ser chamado pejorativamente de anticristo e por ai se estende toda a demência dos celerados que fanaticamente seguem esse amontoado de coisas erradas e contraditórias, mas não tem a capacidade de abrirem suas mentes para a razão e a primeira coisa que passa por suas cabeças é uma vontade insana de matar a quem discorde de tais e fantasiosas escrituras.


Com o Renascimento, (Século XIV ao Século XVI), a Inquisição foi ampliada, alcançando outros países, resultando na Inquisição Espanhola e Portuguesa, que vai se estender pela Idade Moderna (1453-1789), principalmente nas Américas onde índios, negros e outros eram forçadamente a se converterem ao catolicismo e nesse caos milhões foram mortos em verdadeiros horrores de torturas, mutilações, castrações e sangrias desnecessárias, mas sob os olhares de um deus incompetente e celerado, que “via” a maldade e em momento algum interferiu. Essas sangrias correram soltas principalmente no Peru e no México, mas também em todo o continente, como o sucedido nos Estados Unidos da América com os negros escravizados, torturados e mutilados e os índios que foram impiedosamente dizimados pelos americanos protestantes que em uma mão levavam a surrada bíblia “suvaquenta” e na outra uma arma para matar homens, mulheres e crianças numa carnificina covarde e infame de fazer inveja a Adolf Hitler e seus séquito macabro. E isto, lembrando que estávamos já no inicio da Idade Contemporânea (1789 até hoje), mas como pretexto usavam as ditas palavras de deus, pois esta não só organizam como incentivam a escravidão, o genocídio e a morte.

            Índio mortos nas Américas, até crianças não eram poupadas.


E o que deus fez? 


Nada.

Cem anos após o Inicio da Idade Moderna, mais exatamente em 1572, em agosto daquele ano na Europa vamos ter um acontecimento digno de registro, fora outros repulsivos acontecimentos travados em nome do inefável senhor que pelo que parece se diverte com a selvageria dos que usam o seu nome, pois mostram bem do que são capazes de fazer, e aí não ficamos apenas com os católicos. A maldade foi generalizada e neste barbarismo os “protestantes” luteranos, calvinistas, batistas e outros também foram hábeis em matar, trucidar, esganar, queimar vivos, castrar, mutilar, torturar. Isto se aplica a esmagadora maioria dos que creem, pois são maus, vingativos e dominados pelas crendices absurdas que encontramos no chamado livro sagrado, dominados por farsantes que se dizem os portadores da boa nova. Boa nova que de tão velha já deveria ter morrido, mas insiste em atormentar, enganar e manter seus cordeiros na mais profunda ignorância, negando o óbvio e pregando o inverídico.




Também os seguidores do Corão dão mostra diariamente de sua violência repulsiva em atentados terroristas, guerras sangrentas, castrações, decapitações e outras maldades próprias dos que creem e pregam o amor e o perdão.





Chegamos então à Noite de São Bartolomeu:



Corria na França o ano de 1572 e Paris, mais tarde conhecida como a Cidade Luz foi o palco principal de uma violência covarde perpetrada em nome de deus. Os católicos, verdugos maléficos desta carnificina afirmam que foram apenas 2.000 mortos, porém os huguenotes dizem que foram aproximadamente 70 mil o número de mortos nesta noite sangrenta. 


Esse massacre ocorreu dois anos após Catarina de Médici ter oferecido uma trégua aos protestantes, mas nessa macabra noite de agosto, nas primeiras horas iniciou o massacre organizado dos protestantes huguenotes e se espalhou por outras cidades, como Toulouse, Bordéus, Lyon e outras.


E o que deus fez?



Nada.


Nada fez pelo mesmo motivo que ninguém consegue cavalgar em um Unicórnio. Porque como vamos cavalgar numa coisa que não existe.


Ah! Dirá um dominado por essas crendices. Não foi deus quem fez o mal. Porém esses criacionistas deveriam saber que, se deus criou o homem, ele criou a maldade animalesca, covarde e sem sentido, pois a sua dita “criatura” em sua esmagadora maioria é a coisa mais sórdida que já pisou na face da Terra. Má, agressiva, genocida, pedófila, corrupta, covarde, intolerante, desumana, prepotente, vil, misógina, racista, homofóbica, sanguinária e extremamente sádica, desonesta e despótica, mas com todos estes adjetivos tem a soberba de se dizer filho de deus.


Quantos agora, neste momento, lendo o que escrevi estão furiosos, rogando pragas para que eu morra, rogando alguma doença grave para me calar, pedindo a seu deus que me puna exemplarmente. É assim que agem os que fanaticamente creem nesse deus maléfico.


Se isso é criatura de deus o demônio poderia se aposentar, pois está bem representado.



Certa vez disse Feuerbach, “o deus do Homem é o próprio homem” e eu completo dizendo que: “o demônio do homem é o próprio homem”.



Não se pode negar que as religiões mais mal fizeram ao mundo do que bem e esse mal tende a crescer desenfreadamente e mais guerras serão feitas em nome desse omisso deus que incentiva a violência e a morte. 

Até quando?