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terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Amor e Morte.

                                          1976 - No aeroporto de Campo Grande (MS) 
                                      aguardando um voo para Porto Alegre (RS).


Em 1975 assumi a gerência de uma grande e conceituada empresa Rio-grandense fabricante de maquinários específicos para a agricultura na cidade de Dourados, no hoje Mato Grosso do Sul, desmembrado do Mato Grosso em 1979. Dourados, em pleno Cerrado, bioma típico do Brasil central, diversificado e lindo, já era na época uma cidade de grande progresso na agricultura. A gauchada para lá já vinha migrando desde os anos 60, derrubando o Cerrado e instalando grandes fazendas para produção em larga escala de arroz de sequeiro e muita soja.


            Ivonete, Sandrinha e Franco, filho mais velho, ainda bebê.

Assim que estabeleci o escritório, contando com seis vendedores, passei a também viajar muito, deixando Sandrinha com o filho mais velho que tinha pouco mais de um mês de vida, sozinha em casa, em companhia de uma menina de nome Ivonete, que servia de babá, já que Sandrinha, além das tarefas de mãe fora contratada por essa mesma empresa para a Chefia desse Escritório. Nessas viagens fui a todos os recantos do então Mato Grosso, Goiás e São Paulo, adentrando também ao Paraguai.

             1975 - Com índios Guaranis em Rio Brilhante. MS.

Em minhas visitas ao Pantanal Mato-grossense muitas histórias da região ouvi contar, por habitantes nativos dos locais por onde passava.

                 1977 - Franco com seu amiguinho Cuca.



Uma delas, que passo a relatar é muito chocante e nunca saiu de minhas lembranças.

Contavam que um pantaneiro, certa manhã deixara seu filho de uns três anos sozinho em casa, já que a esposa e a filha mais velha haviam viajado em uma lancha para uma cidade próxima de sua propriedade, para, na menina ser aplicada alguma vacina.


Como havia um serviço que deveria ser feito foi-se o pantaneiro a pé, levando ao ombro uma enxada e uma foice, na cintura levava um facão e em uma das mãos uma espingarda de grosso calibre, já que a região à época era cheia de animais como suçuaranas (onça parda), onças pintadas, jaguatiricas e outros animais, deixando o menino dentro de casa, mas teve o cuidado de deixar a mão da criança alguns alimentos, caso o petiz sentisse fome enquanto ele, com afinco iria para um roçado aonde plantaria uma bela gleba de milho. Teve a precaução de fechar a porta deixando apenas uma janela aberta.

           SUÇUARANA - conhecida também por onça parda ou puma.


Do lado de fora da casa deixou solto seu fiel amigo, um belo cachorro, grande e feroz. Companheiro de todos os momentos, grande farejador que o auxiliava nas diversas incursões para caçar algum animal para a alimentação da família. Tal cachorro muitas vezes não esperava que seu dono atirasse na caça e enfurecidamente se atracava feito louco, conseguindo muitas vezes dominar o animal que iria ser abatido.

                  Onça - Onça pintada.


O trabalho, no roçado, lhe tomou muita atenção e tempo e quando se deu por conta já era quase meio dia e em sua cabeça começaram a brotar mil e um pensamentos, pois se esquecera de alimentar seu valoroso e fiel amigo.


Porém os pensamentos começaram a atormentá-lo e um desespero tomou conta de sua mente. Pensava e pensava.


Será que esse cachorro ao sentir muita fome não poderia atacar a pequena criança?


Seus pensamentos turvos levaram a um quase desespero.

Largou o que estava fazendo e as pressas voltou para casa com aquele pensamento que corroía sua mente.

                 Feroz amigo.


Pensava e pensava numa cena terrível, pois o seu amigo era um animal fiel, companheiro, porém muito feroz.


Ao aproximar-se de sua casinha, como um louco quase correndo viu o cachorro pular pela janela, saindo de dentro de sua casa e em sua direção correu sacudindo alegre seu rabo, numa felicidade sem igual ao pressentir a aproximação do dono e amigo em quem tanto confiava e protegia.


Quando o animal chegou perto, o homem estarrecido, com sua espingarda na mão, viu seu amigo de todas as horas todo ensanguentado. Sangue escorria de sua boca e seu pelo estava vermelho de sangue.


Pavor total.


O cachorro ao sentir fome teria atacado o seu amado filho?


No desespero não titubeou e com raiva e maus pensamentos levantou a espingarda e ali mesmo atirou, ferindo mortalmente seu fiel companheiro, que estirado ficou no campo que tanto guarnecia.


Com os olhos cheios de lágrimas, já quase em prantos, correu o mais que podia para ver seu desafortunado filho.


Ao abrir a porta de sua simples casa deparou com o menino em um canto da sala, chorando, assustado e com muito medo. 


Cego pelos pensamentos e pelo clarão do Sol adentrou ao recinto meio escuro, com coisas jogadas pelo chão, cadeiras derrubadas e muito sangue no soalho ou assoalho de toscas tábuas. Nesse total desespero viu em outro canto daquela mesma sala uma onça pintada moribunda e ensanguentada, com o pescoço todo dilacerado.

Quantas vezes no desespero não conseguimos concatenar nossos pensamento e agimos de forma brutal e ensandecida.




Pobre e fiel cachorro, ao defender o filho de seu grande amigo assinara sua sentença de morte e o infortúnio o levaria pelas mãos desse melhor amigo em quem ele tanto confiava e protegia.


Que isto sirva de exemplo para que nunca, de cabeça quente façamos qualquer coisa, pois o melhor e parar e pensar, esfriar a mente. Infelizmente seu melhor amigo foi morto após expor sua própria vida, em uma luta desigual contra uma onça, em defesa do filhotinho humano desprotegido, filho do amigo que num momento de desespero não pensou duas vezes e o matou. Tirou a vida do grande herói e salvador.



Nota: Desculpem a qualidade das fotos de família, são muito antigas.

sábado, 13 de janeiro de 2018

BRASIL – Um País De Faz De Contas.





Quando, em 1962, o General Charles de Gaulle, 18º Presidente da França, afirmou do alto de seu 1,96 m. quase dois e de sua postura de um verdadeiro General, que o Brasil não era um país sério, muitos brasileiros acharam-se profundamente ofendidos.


Coitadinhos.


Entretanto hoje, há bem mais de meio Século o que vemos é exatamente isto. Um país de “Faz de Contas”, das orgias e maracutaias, um país cujo povo ainda não acordou de seu sono eterno em berço esplêndido e perdido nesta profana farra com o dinheiro público não se atém aos verdadeiros canalhas que enxovalham a Nação, cuja imprensa internacional, inunda seus periódicos com sarcasmos e reproches ao outrora Pindorama.


Há na verdade dois Brasis. Um é o Brasil de faz de contas, dos marajás, dos maus brasileiros, que além da deslavada corrupção que corre solta em todas as esferas da Mãe Pátria, aonde Deputados, Senadores, Juízes, alguns Militares, Prefeitos e até os inúteis Vereadores chafurdam no erário, golpes, auxílio moradia, auxílio creche, auxilio paletó, mordomias e falcatruas, habeas-corpus que nem juiz de futebol concederia, o “Zé-povinho”, que pertence ao segundo Brasil, país de analfabetos por instrução, analfabetos políticos de enésima qualidade, analfabetos funcionais e tantas outras péssimas qualidades, continua na mesma e secular pasmaceira e deixa o barco correr sem tomar uma atitude drástica contra esses brasileiros cuja pátria é la plata, não se importando com o verdadeiro Brasil.




Estamos vendo um verdadeiro assalto aos direitos trabalhistas, instituídos nos anos 30 pelo velho caudilho Getúlio Vargas, Gaúcho de São Borja, que tomou o poder na marra, pela força das armas e nas patas dos haraganos e no poder ficou por 15 anos, sendo depois eleito por voto direto, suicidando-se em 24 de agosto de 1954, para, segundo ele, não haver derramamento de sangue, o que na verdade era o que precisava acontecer, pois chega de tantos escândalos e desmandos nesta terra tão generosa. Generosa para os ricos, já que a dita classe média que se acha rica defende com unhas e dentes esse poder podre, corroído e desavergonhado, e esquece que também está sendo lesada, já os pobres padecem o infortúnio de serem pacatos e sem memória. Enquanto o meu computador tem excelente memória esse povinho tem uma vaga lembrança.


Chega!


Enquanto o povo não acordar, esta vergonha continuará a acontecer e para eles, parece que está tudo as mil maravilhas. Pobre defendendo políticos renomadamente corruptos, pobre defendendo políticos de direita, aliás, ser pobre de direita já é prova suficiente de analfabetismo político, e ainda para defender os ricos dizem com a maior imbecilidade que se o sujeito é rico, não precisa roubar. Mais uma prova da ignorância deste povinho pobre que defende esse bando de canalhas que só vê o ganho pessoal, enquanto isto o pau que bate em Zé não bate em José. Acumulam-se processos contra Senadores, Deputados, Ministros e outros alcaides, pois essas leis carcomidas dão a eles esse famigerado Foro Privilegiado, por isso nada vai à frente e continuam os safados com poses de doutores, esquivando-se e sendo protegidos por esse verdadeiro escárnio de leis fracas, omissas e até imorais.


Portanto o povo pobre e oprimido parece-me querer viver neste país de contos de fadas.


Vemos agora mais um assalto aos trabalhadores, no caso específico aos trabalhadores públicos, que têm suas cestas básicas de alimentos cortadas por alguns prefeitinhos golpistas, enquanto isto Juízes, Senadores e Deputados e outros desse meio recebem auxilio para tudo, até para gasolina, não bastasse os astronômicos proventos e vantagens que extrapolam o teto constitucional. Riem, gargalham e fazem pouco deste povo “emburrecido” com o antipetismo, como se a corrupção tivesse acorrido somente nesse período, porém ela é antiga e passou pela Privataria Tucana (PSDB) e continua em todos os partidos e em todos os momentos, mas o povo não se atém aos verdadeiros canalhas, corruptos que usando de sua posição não só traficam influências como drogas. Drogas em fazendas de Senadores e helicópteros, conhecido como helicoca. Drogas na verdade são esses mandantes de assassinatos, de propinas e tantas outras coisas que levam o país para o fundo do poço, mas o povo está tão “emburrecido” que só enxerga um lado. Tenho pena, não, tenho nojo.


Senhor Charles de Gaulle, sei que se o senhor fosse vivo diria mais, não apenas que o Brasil não é um país sério e sim que o Brasil além de não ser sério é um verdadeiro escárnio, aonde a vergonha não existe, a moral foi-se água abaixo e o que impera e a safadeza, a corrupção, o desmando, a farra com o dinheiro público. Vivemos, pois neste país que não passa de uma “Never Land”, ou Ilha da Fantasia. Se preferires um país que deveria verdadeiramente ser chamado de Marmelândia.



Um país rico, que apesar de toda essa vergonhosa roubalheira consegue se manter entre as dez maiores economias do mundo, porém se não fossem as malas de dinheiros encontradas em apartamento do Deputado Geddel (PMDB), cinco vezes eleito pelo Estado da Bahia, e outros escândalos, a situação seria outra. Mas não só o povo baiano, mas todo os brasileiros precisam saber em quem votar e não votar nesses lixos.




Até quando vou viver nesta monstruosa pouca vergonha desses políticos safados que mereceriam mesmo era de um bom PAREDÓN, que pelo visto teria que funcionar 24 horas ininterruptas e que os canalhas tivessem que pagar a munição dos pelotões de fuzilamento.


Realmente, tenho vergonha de nosso povo que se deixa iludir por esses políticos canalhas e mentirosos. E quanto mais safado, autoritário, racista, misógino for mais cativa esse povinho também desavergonhado, que acredita no canto do quero-quero.


Como podemos não aceitar as sábias palavras de Charles de Gaulle, se até um Juiz da Suprema Corte, a mais alta instância do país está no alvo para ter seu impeachment aprovado pelos escândalos que o envolvem. Só mesmo num pais de mentiras, roubalheiras e de um deslavado entreguismo, orquestrado pela grande mídia, direitista e mentirosa.


Meus filhos sabem da vergonha que eu tenho de pertencer a este país de Faz de Contas, onde os mais canalhas são os mais louvados, país que não tem memória, pais que vota em Deputados e Senadores condenados por corrupção, vota em palhaço, vota em fascistas, achando que as coisas vão melhorar.




O Palhaço Tiririca fez sua campanha com o slogan “Vote em Tiririca, pior que está não fica” e foi eleito.


Mas senhor Tiririca, apesar de sua renúncia, verdadeira palhaçada, teatrinho barato, falsas lágrimas, ficou muito pior.


Hão de chorar lágrimas de sangue e por esses motivos cresce tanto o movimento “O Sul é o Meu País”. Depois não adiantará chorar o leite derramado, mas de alguma maneira temos que nos livrar dos verdadeiros bandidos que assaltam os cofres da própria Mãe Pátria.




Não esqueçam que o resultado do plebiscito não oficial, o Plebisul, ocorrido em outubro 2017 mostrou no voto que 96,26% são favoráveis a uma Republica autônoma no Sul, mas precisa esta Nova República, se vier a acontecer, mudar todas essas leis falidas e instituir a pena de morte aos políticos corruptos, pois aqui há também muitos caborteiros.


Fui!
 

Mas vou tapado de asco.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Fumaça Branca do Cigarro.



            Plantação de Tabaco - fumo.

O tabaco é uma planta originária dos Andes, portanto era desconhecido dos europeus, até a chegada de Cristovão Colombo em 1492, porém largamente utilizado em todo o Novo Mundo pelos ameríndios, em forma de charutos, cachimbos, mascado ou bebido em forma de chá.

            O velho morubixaba Raoni, fumando seu cachimbo e seu
                           tradicional botoque de madeira para esticar o lábio inferior.
 
Farta literatura há sobre esse assunto, porém, apesar dos males causados pelo seu continuado uso, o tabaco hoje é conhecido e usado no mundo inteiro e de diversas formas, popularizado principalmente durante a Primeira Grande Guerra, também encontrado em diversas publicações pertinentes ao assunto.

                 Fumo em corda - já curtido.

Apesar de ser o Brasil o segundo maior produtor desta praga, ele não consta entre os dez países mais consumidores e seu uso vem ano a ano caindo drasticamente. 

Que bom!

Porém esse produto me fez viajar ao tempo e chegar despacito aos anos 50, o que me trás recordações da velha índia meio Charrua, minha avó paterna.


Usava a velha Idelvira de Farias Teixeira, conhecida como Bibira o popular e tradicional “paiero”, (palheiro) cigarro cujo tabaco ou fumo é enrolado em palha de milho, por este motivo tomou esse nome tão corriqueiro no Rio Grande do Sul, aonde é consumido principalmente pelos Gaúchos.

                                         Milho

Vovó que plantava o próprio milho, tanto para sua alimentação em forma de milho verde cozido, assado na brasa, mingau, curau e canjica salgada ou doce e também para a alimentação de animais que ela possuía. Lembrando que o milho assim como o tabaco era desconhecido dos europeus, mas era o principal grão que alimentava milhões de índios, cuja sua origem é a Mesoamérica, foi sendo através de milhares de anos alcançando todo o continente e finalmente o mundo, com quase quatro mil variedades e serve também como um dos principais forrageiros que alimenta o gado em geral, de touros, galinhas e pintinhos em forma de quirela.

             Milho.

Porém vamos nos ater a velha avó, minha velha e saudosa Charrua, maleva como sua mãe, a minha bisa Maria Emília, que despachou com suas próprias mãos um caborteiro para a terra dos pés-juntos, como foi publicado neste espaço com o título “O Assassinato” em 5 de julho de 2014. Vovó, que com seus dedos encarquilhados, como num ritual mágico e cheio de regras cortava a palha do milho, preparava o fumo em corda que era meticulosamente, depois de curtido, cortado com uma boa carneadeira e após calmamente ia enrolando seus “paieros”, absorta ao mundo, absorta em seus pensamentos longínquos, mas num verdadeiro ritual quase mágico e perícia de fazer inveja.

             Enrolando o "paiêro".

Passava as tardes enrolando tranquilita seus “paieros” e quando o primeiro ficava pronto ela, de cócoras ao lado do velho fogão campeiro ou de um fogo de chão, pegava um tição e calmamente acendia o primeiro cigarro ou com o hoje desconhecido da maioria das crianças com menos de 60 anos, isqueiro de pederneira e em uma longa e serena tragada, de olhos fechados, aspirava com prazer e visível regozijo o gosto daquele tabaco que ela tanto admirava.

                 Isqueiro de pederneira-- Desenho do autor.
                                   A - Pedaço de aço.
                                   B - Pedra.
                                   C - depósito de fluido inflamável.
                                   E - Tampa que servia como apagador.
                                   D - Cordel de algodão.
                                   Para acender essa geringonça o quera (cuéra)
                                   ficava batendo a pedra no aço até uma fagulha
                                   acender a ponta do cordel.


Abria seus olhos e soltava de sua boca de lábios finos, em total êxtase nuvens de branca fumaça que a parecia hipnotizar naquele momento, até lúdico, em que ficava absorta olhando os rolos de branca fumaça espargirem-se no ar.


E assim foram anos observando as manhas da velha índia, hábil e despachada.


Lembro-me de seus finos dedos, magros como ela própria, enrolando e fumando seus “paieros” e tomando seu chimarrão o que fez até seus últimos dias.

            Outras variedades de milho.


Avozinha querida, meio biguana, porém mais atilada do que sorro em noite escura, cuidando-se dos guaipécas. Bispando qualquer movimento, astuta e matreira. Quantos são os recuerdos que de ti carrego sempre vivos em meus pensamentos.

Avozinha querida e despachada.

Da vida muitas vezes machucada.

Brilhava os olhos de alegria.

Quando alguma brincadeira comigo fazia.



Se alma existisse, seria a tua como fumaça de paiero,

Livre dos tormentos quentes de um braseiro,

Subindo ao infinito tão leve

Delicada e branca como um floco de neve



Tinhas, velha Charrua, verdadeiro esplendor,

Brilhavas mais que a Boieira no alvor.

Quando te carregava em meus braços, rias,

E sentia em meu rosto tuas mãos delicadas e frias.



Astuta e corajosa, nunca se deu acovardada.

E desta vida dura e desenfreada.

Brigou, lutou e saiu vitoriosa.

Índia Charrua esperta e valorosa,



Guapa, valente e mui gentil.

Como fumaça se espraiou e sumiu.

Rumbiando para outros pagos nos deixou.

Imensa saudade em meu coração ficou.