Em minhas constantes idas
para o laranjal, famosíssima praia de águas doces de Pelotas, a Capital
Nacional dos Doces, em doces tardes embaladas pela brisa, onde o Sol não
decepcionava encontrei uma doce menina, muito bonita, simpática e cativante.
Menina de seus 26 ou 27 anos,
portanto alguns aninhos mais velha do que eu, e com ela fui conversar e esta
conversa evoluiu para um namorico, que no segundo encontro partimos para os
“finalmentes”.
Uma quente e louca relação.
Ah, se as areias daquela
praia falassem!
Foram encontros apimentados
onde os hormônios pululavam em ambos os lados, sendo que o primeiro foi nas
areias entre a Praia de Santo Antônio e o Barro Duro, na época um lugar deserto
onde poucos caminhavam por aqueles recantos.
Após duas semanas de
encontros, em um domingo passeávamos tranquilos pela Avenida junto à praia,
quando não havia calçamento, fim dos anos 60, com os poucos automóveis
embicados entre as também poucas palmeira que ali existiam, eu vestia um calção
vermelho e ela um biquíni azul marinho e branco.
Corpos bonitos, jovens e
atraentes.
Muitas famílias sentadas em frente
a seus automóveis, raríssimo automóveis, na areia observavam o movimento
intenso de jovens e crianças correndo pelas areias da praia, outros tomando
banho de sol, muitos grupos de amigos esparramados pela praia, rindo,
conversando ou namorando.
Íamos, abraçados, dois
jovens enamorados, despreocupados e satisfeitos com nossos furtivos encontros.
Nesse momento vimos um homem
que estava junto a sua família, esposa e filhas ainda meninas, levantar-se e
com o cenho fechado dirigir-se para a avenida encostando-se a um carro, de
braços cruzados e com cara assustadora nos encarar.
Era um Capitão que servia no
antigo 9º RI, onde eu também servia como um simples Cabo burocrata.
Ao passar pelo capitão, como
não estava de uniforme, apenas o saudei com um movimento sutil com a cabeça,
mas ele se quer respondeu, ficou encarando a menina que a mim vinha abraçada, e
esta abaixou a cabeça, vermelha como um pimentão maduro.
Andamos alguns metros até
sair do campo de visão daquele Capitão momento em que desconfiado tanto com a
atitude do Oficial que me conhecia e muito bem do quartel, quanto da menina e a
inquiri sobre a atitude dos dois, momento em que ela abriu o tarro e me contou
que era sustentada por ele, o qual não só arcava com as despesas pessoais como
a mantinha estudando em uma faculdade, e completou dizendo “ele vai me matar”.
Entendi o matar, não em
matar mesmo, mas brigar e até agredir. Nada mais.
E agora?
Tudo já havia acontecido e
eu tinha agora que enfrentar a fera.
Aquele domingo passou mais
rápido que os outros, e na segunda-feira estava eu dentro do quartel, porém
naquela manhã não vi o referido capitão.
Ao meio-dia, saí do quartel
e fui almoçar com três Cabos em um restaurante perto do Regimento. Os Cabos,
Acosta, Cardoso e Renato, nada falei, nada comentei.
De volta ao quarte, após ter
passado na 4ª Cia de Fuzileiros onde fiz minha higiene bucal, subi ao Pavilhão
de Comando me dirigindo a 1ª Seção, onde trabalhava, no primeiro andar, cujo piso do corredor era de tábuas, e passaria bem a frente da Secretaria do
Regimento onde trabalhava o referido Capitão.
Dito e feito.
Ao passar diante da porta da
Secretaria, ouvi aquele grito ensurdecedor, chamando pelo meu nome de Guerra.
- Teixeira!!!!!
Parei instantaneamente e
voltei até à Secretaria.
Nesta estava o Segundo
Sargento Garrido quase em frente a porta em sua mesa, e a esquerda do mesmo
lado da porta o Terceiro Sargento Figueira, ao fundo a esquerda a mesa da fera,
digo do Capitão, sentado a sua mesa, repleta de papeis e em sua frente e fechado
estava o RDE, Regulamento Disciplinar do Exército.
Adentrei a sala, quando
observei o Sargento Garrido interrogativo, meio sem entender o por quê o Capitão
tão rispidamente e vermelho de raiva havia me chamado tão duramente, fui até a frente de sua
mesa, perfilando-me garbosamente, teso como tronqueira, bati continência
apresentando-me:
- Pronto, meu Capitão. Cabo
Teixeira do S1, as sua disposição!
Com o canto do olho observei
o Sargento Figueira atônito, sem entender também a maneira intempestiva do
Capitão ao chamar um Cabo profissional daquela maneira, ainda mais tratando-se
de um militar que tinha franco acesso em todas os setores, mesmo junto ao
Comando como, e principalmente ao Sub Comando com quem trabalhava diretamente.
Nesse momento o Capitão,
bravo e quase babando de ódio disse:
- Teixeira! Tu sabes que eu
posso te botar na cadeia?
- Sim
Senhor Capitão. Eu
sei!
Respondi.
E apontando com o dedo indicador esquerdo para o
Regulamento que estava a sua frente concluí.
- Mas sei também que o
Senhor, o Comandante deste Regimento, o Ministro do Exército, nem tampouco o
Presidente da República poderão fazer isto se não estiver enquadrado neste
livrinho.
Ele ficou mais vermelho e
embasbacado. Nada podia fazer, pois se viesse a púbico sua família de certo
saberia. Não ia correr o risco. E em nada podia se agarrar, pois eu gozava de
altíssimo conceito junto ao Comando e demais Oficiais daquela Unidade do Exército.
Novamente bati-lhe
continência dizendo:
- Permissão para me retirar
Capitão!
E não esperei sua resposta,
fiz meia-volta, rompi passo de marcha com a perna esquerda como se fazia naquela
época e fui para a 1ª Seção, para o expediente daquela tarde tensa.
Não havia chegado a minha
mesa, após saudar os militares que comigo ali trabalhavam, ouvi passos fortes, batendo os tacos dos coturnos no assoalho do corredor, era o capitão que enfurecido saíra para tomar um ar, descendo as
escadas e sumindo no pátio do Quartel.
Nisto chegou à porta da 1ª
Seção o Terceiro Sargento Figueira, que me chamou e quis saber o por quê daquela
atitude intempestiva do Capitão.
Se o Capitão não tivesse
feito àquela cena, tudo ficasse esquecido, mas aquilo foi o bastante para que
eu contasse a boca pequena ao Sargento Figueira o que havia acontecido, afinal
não deixaria minha conduta como militar ficar em suspenso.
OBS: O
Terceiro Sargento a que me refiro neste post é o mesmo do “A BANANA DE OURO”,
publicado em 23 de janeiro deste ano.
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