A Morte de Ary.
Corria o ano de 1989, o
Partido Comunista Brasileiro, depois de anos na clandestinidade, perseguido e
tendo seus melhores quadros presos, torturados e assassinados, respirava os
ares da insipiente democracia trazida ao Brasil com o sepultamento da Ditadura
Militar. Coisa que muitos inocentes úteis e analfabetos políticos querem de
volta.
Reestruturado, passou a atuar
como sempre fez, organizando categorias, inserindo-se nos movimentos sociais,
criando espaços e agora publicamente filiando sua combativa e coerente
militância.
Nesse ano chegou ao Brasil
uma comitiva do Partido Comunista Francês, que viera à República do Rio Grande
do Sul visitar a sede do PCB, que funcionava na Avenida Borges de Medeiros, no
Edifício Fronteira, sexto andar, bem no centro da Capital.
Na manhã do dia 28 de agosto foi feita na sede do PCB, em uma espaçosa sala um circulo de cadeiras onde conversariam os comunistas franceses com os comunistas da Direção Estadual do Partido, entre eles estavam Domingos Todero, Hilário Pinha e Ary Mallmann Saldanha (1), além de mais alguns poucos. Na sala ao lado, recepção estava o coerente e combativo Antônio Augusto Ruschel, também histórico e até folclórico quadro do PCB, homem sério que deixou o Partidão repleto de histórias incríveis, como a de ser o único em uma redação de um jornal da capital a fazer uma greve.
Durante essa reunião, Ary
pediu educadamente licença aos companheiros franceses e aos camaradas da Direção do PCB-RS dizendo que precisava
sair, pois havia uma missão do partido a ser cumprida.
Hilário Gonçalves Pinha que
exercia a função de Presidente do PCB, Secretário Geral pela antiga nomenclatura partidária, disse a Ary que ele como Vice-Presidente deveria ficar, afinal uma
reunião com os Camaradas franceses de certo seria a única e que ele deveria
participar deste histórico encontro.
Ary, um homem grande, forte
que contava nessa época mais de sessenta anos, com um grande sorriso disse aos
comunistas franceses que o perdoassem, porém ele sempre cumpriu as tarefas do
partido e só não o faria se a morte o impedisse.
E sem levantar da cadeira
tombou em fulminante infarto. (2)
Coisas que muitas vezes são
esquecidas, mas que deveriam ficar gravadas para sempre na história. A emoção.
O amor partidário. O dever a ser cumprido. Nada poderia impedi-lo de executar sua missão, a não ser como ele vaticinara, a morte.
Exemplos dignos que só
grandes homens deixam.
(1) Procurei em meu acervo, porém não encontrei nenhuma foto de Ary M. Saldanha. Se alguém tiver e quiser compartilhar, entre em contato.
(2) As palavras infarto, do latim infarctu ou enfarte, derivação do verbo enfartar tem o mesmo significado e encontram-se dicionarizadas.
FELIPE SALDANHA:
ResponderExcluirFELIPE SALDANHA
FELIPE SALDANHA, mandou-me uma oferta irrecusável, conforme pedido feito neste Post. Felipe fiquei muito feliz com teu comentário e a possível remessa das fotos deste grande amigo Ary Mallmann Saldanha, sempre lembrado camarada. Não publiquei teu comentário para não expor publicamente teu telefone, mas sabes o quanto estou grato e feliz com esta doação que enriquecerá a história deste guerreiro, lutador e idealista chamado Ary. Aguarde meu telefonema. Com honra e carinho mando um abraço ao neto deste inesquecível amigo e camarada.
Olá FELIPE SALDANHA:
ResponderExcluirEntre por favor em contato através de meu meu blogue ou E-mail. Tento teu telefone e não consigo ligação.
Boa entrada de ano novo, muita saúde e paz.
Um grande abraço.