Eu Pum.
Nos anos 80 fiz uma longa e
cansativa viagem para o norte do Brasil.
Fui para a cidade de
Dianópolis na época no Estado de Goiás, hoje Tocantins, lembrando que o Estado
de Tocantins foi criado por uma Constituição, a de 1988, que desmembrou o grande
e comprido Estado de Goiás, onde, de sua parte norte surgiu então essa
maravilhosa e próspera Unidade da Federação.
Após cansativa viagem, até Brasília,
me aventurei em um ônibus por estradas de terras até chegar a Mimoso do Oeste,
hoje denominada Luís Eduardo Magalhães, numa viagem que durou a noite inteira,
chegando lá por volta das 4,30 horas da matina.
Ali o ônibus seguiria para o
leste, indo para a cidade de Barreiras, portanto para mim era o fim da linha.
No próprio ponto de parado do ônibus, havia um restaurante e um posto de
gasolina.
Mimoso era uma pequena vila
no meio do nada. Um quase nada no meio do nada. Meia dúzia de casas.
Dianopolis - TO
Procurei então saber se
havia algum transporte que me levasse até Dianópolis, porém fui informado que
com muita sorte poderia arrumar uma carona, pois não havia nenhum tipo de
transporte oficial para aquelas canhadas.
Aconselharam-me a aguardar
em uma bifurcação perto do Posto de Gasolina, pois geralmente alguém, sabendo
da impossibilidade de transporte desse uma carona.
Eram outros tempos e isso
era normal e possível, o que hoje e temerário e quase impossível.
Lá pelas tanta um senhor que
também iria para Dianópolis se aproximou, era madrugada e o mesmo dando um
bom dia ficou ali dizendo que também estava jogando com a sorte.
Mais algum tempo saiu do
Posto de Gasolina um Onze-Onze Baú azul que já veio meio parando, pois fora avisado
no posto que havia duas pessoas aguardando uma carona.
Onze-Onze (1111) é um modelo
de caminhão da Mercedes Benz, o famoso MB 1111.
Vinha esse caminhão com o
seu motorista, obviamente e um ajudante, e aperta daqui, aperta de lá fomos os
quatro mais apertados que sardinha enlatada.
Depois de muita estrada de
terra, sede, cansaço e dores pelo corpo, chegamos finalmente a cidade de
Dianópolis, e tão logo o caminhão passou a ponte no início da cidade pedi ao
motorista que parasse em frente ao Hotel Atalaia, e ali fiquei.
Era um hotelzinho simples,
todo branco, mas que daria bem para descansar. Um bom banho para aliviar o
cansaço e tirar a poeira foi imediato e logo após almocei no próprio Hotel.
Cansado e doído fui direto
para a cama, porém não consegui dormir, pois chegou a minha procura a pessoa
que me levaria para conhecer duas fazendas da família e que estava nos planos
de eu ir para lá tomar conta das mesmas.
Tudo bem, isto é página
virada. Vamos de vereda ao hilário.
Naquela noite, após mais um
dia cansativo dormi ferradíssimo sendo acordado com estranhos sons que vinham
de "mui lejo".
Afinei os ouvidos, o dia
começava a clarear e aqueles gritos vinham de muito longe. Mal dava para
entender.
Continuei por um tempo
deitado tentando entender o que gritava. E aos poucos comecei e ouvir mais
claro o que, pela voz era menino.
E Gritava:
Eu pum!
Eu pum!
Conforme um se aproximava mais
claro ficava o som:
Eu pum!
Eu pum!
Levantei-me, coloquei uma
calça, e como estava bem fresquinho, coloquei também uma campeira de brim
cinza, passei rapidamente uma água no rosto, escovei-me e saí pela lateral do
hotel, era um terreno ao lado que servia de estacionamento para os raros
automóveis, e fui até a frente do Hotel.
Os gritos continuavam, só
que agora mais altos:
Eu pum!
Eu pum!
Notei também que não era
apenas um menino que gritava, pois em outros sentidos da pequena cidade outros
também gritavam, e era aquela profusão de:
Eu pum!
Eu pum!
E quanto mais se aproximavam
mais alto ficava:
Eu pum!
Eu pum!
Lá pelas tantas avistei na
quadra acima, um menino descendo rapidamente, com um balaio ao braço, coberto
com um pano branco gritando:
Eu pum!
Eu pum!
Quando o menino ia passando
do outro lado da rua chamei-o para saber o que era, e o menino atendendo o meu
chamado se aproximou enquanto gritava:
Eu pum!
Eu pum!
- Bom dia "piá", "me" digas
o que "tu " levas aí "neste" balaio.
O piá levou um simbronaço
quando ouviu meu sotaque, e mais desconfiado do que cavalo aporreado me
respondeu:
Eu pum!
- Deixe-me ver. - Disse
então.
Ai o menino levantou o pano
branco e eu pude ver o que o guri vendia naquela, ainda madrugada.
Pão!
Porém em vez de gritarem “é
o pão” eles gritavam “eu pum”.
Êta Brazilzão e seus
sotaques...
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