Nossos Filhos ou Filhos do Mundo.

Mesmo com atraso ou não, pois todos os dias são dia das Crianças, sim, porque filhos por mais que cresçam serão sempre as nossas crianças.

Criar filhos é uma tarefa complicada, ou deixamos correr a coisa solta, ou reprimimos demais.

Se correr solto é um caminho aberto para a delinquência, perdidos para as drogas ou qualquer outra coisa que nos fará sofrer, e sofrer muito.

Se reprimirmos demais, teremos filhos infelizes, perdidos na vida, incapazes de resolver seus problemas sozinhos, dependentes e carentes. Infelizes e cheios de traumas e medo, frustrações e angústias.

O meio termo é complicado, porém foi nesse meio termo que criei meus três filhos e nenhum dos três jamais se envolveu com o que não prestava, são trabalhadores incansáveis, honestos e acima de tudo amigos e parceiros. Decidem por eles mesmos. Voam livres, acertam e erram, mas aprendem por eles mesmos.

Meu filho, o mais velho trabalha de segunda a sábado, sem descanso, sem férias muitas vezes, é um filho amoroso e cheio de sonhos. Politizado e encantador. Forte como um touro devido ao trabalho, porém sensível e amoroso.

A filha, a segunda, é professora, assim como o pai e a mãe. Estudiosa, aplicada, laboriosa, incansável e sempre sobra um tempo para dedicar a mãe, amigona e confidente, mesmo trabalhando dois turnos tem tempo para se divertir, fazer seu pós-graduação, produzir e dedicar-se a sua casa onde tudo é organizado. Não para, é a verdadeira formiga atômica, como era chamada pelos manos quando era pequena.

O mais novo, é um homem também responsável, honesto, trabalhador, que largou a faculdade para dedicar-se a um ramo completamente avesso ao que estudava, porém pela sua dedicação e capacidade também se deu bem. Líder nato, responsável e carismático.

Não são ricos, porém são gente e gente não necessita de títulos para ser. Gente é gente. Simples e educados.

A filha tão logo começou a trabalhar seu primeiro sonho era ter o seu cantinho, e com tenacidade e muito esforço comprou seu apartamento e para lá foi de mala e cuia, pois este é o caminho natural de pessoas normais.

Logo em seguida foi à vez do filho mais novo, que comprou um belo terreno em Gravataí, construiu uma belíssima casa, que os colegas dizem ser uma mansão. Casado com uma excelente menina, vivem numa boa, como pessoas normais e sadias.

O terceiro a sair de casa foi o filho mais velho, após comprar um apartamento mudou-se, o que é normal e natural. Lá vive com sua maravilhosa mulher e seu filho, exemplo e orgulho de jovem estudioso, que mesmo estando terminando o primeiro grau, vai para a escola à tarde ensinar matemática aos colegas que estão com dificuldades na matéria.

Criei meus filhos para o mundo, o que é natural, saudável e normal. Caso contrário teria criado filhos inseguros, medrosos, doentes, indecisos e infelizes.

Quero o melhor para os meus filhos. Mas o melhor não é mantê-los sempre debaixo de minha guarda e fiscalização.

Ter filhos normais não é tê-lo em uma redoma de vidro como biscuits que sabemos que estão em tal lugar e dali não vão sair, como no caso dos pinguins de geladeira.

Meus filhos são do mundo, mesmo sendo mundialmente desconhecidos eles são o meu orgulho, minha paixão e sempre minha preocupação. Pois uma vez pai sempre a preocupação nos acompanhará. Mas, com certeza os libertei da gaiola, pois essas não são boas nem para pássaros.

Muitíssimas vezes perco o sono e passo a noite me revirando na cama, não poucas vezes levanto-me e passo as madrugadas pensando preocupado com um ou com outro, porém os quero livres, fora das gaiolas que criamos quando somos doentes, para mantê-los sob nossa vigilância tenaz e obsessiva.

Mantê-los sob nossas asas não seria natural nem normal. Neste caso tratam-se de relações patológicas, mas tão doente que os envolvidos não têm noção de que relações afetivas exacerbadas são relações doentes e antinaturais, que necessitam de uma ajuda externa para compreenderem que não é natural, muito menos normal.

É uma doença tão grave que sufoca, tira a liberdade tornando ambos reféns das próprias armadilhas, mas esses não tem a compreensão do que se passa, é uma doença grave que necessita de ajuda especializada, pois não é normal. 

E sempre irão negar o óbvio, pois não querem ver esse óbvio.

É meu! É só meu. Ninguém tem o direito de querer o que é meu.

É um objeto que eu gerei, é meu, pois eu sou dono dele ou dela.

E não vou dividir com ninguém. Que tristeza.

Já os meus filhos, eu os amo, mas eles pertencem ao mundo.

Não sou dono deles, muito menos eles me pertencem como objetos.

Os quero voando livres para decidirem por eles próprios, errarem e acertarem sem medo. Serem e viverem como pessoas normais e saudáveis.

Os quero livres e felizes.

Amo vocês. 

                                Pássaro na gaiola não canta, lamenta.