Ontem com o título “Fidélix
e Outros Equivocados” contei rapidamente sobre o caso do então Soldado do
Exército de nome Azevedo, o Azevedinho.
Meu pai, na Reserva da CPP/I
Em 1959 conheci esse, na
época jovem de 18 anos, pois o mesmo era auxiliar de meu pai na Reserva da
CPP/I – Companhia de Petrechos Pesados do Primeiro Batalhão, do então 9º RI.
Era eu um menino de 13 anos, meio biguano, mas muito observador.
E dentro do quartel, aonde
seguidamente ia para ficar em companhia de meu pai, em outros tempos, onde
familiares de militares tinham certa liberdade de ir aos quartéis, coisa que
começou a desaparecer, com muita propriedade a partir da Quartelada de 1964, Azevedinho tinha uma postura recatada.
Azevedinho, Soldado mui
prestativo, despertava a atenção pelo seu jeitinho educadíssimo, delicado, de
movimentos bem femininos. O que não era motivo de chacotas nem discriminações.
Víamos como uma pessoa, apenas uma pessoa diferente.
Como auxiliar de meu pai, na
época Subtenente, era um soldado exemplar em seu serviço, pontual, sério,
trabalhador, respeitador, disciplinado e organizado.
Terminado o seu tempo no
Exército, Azevedinho foi enfrentar a vida civil e quando em vez víamos pelas
ruas de Pelotas indo ou vindo do trabalho. Sempre sério, pois não era uma
algariada, cheia de trejeitos e vaporosa.
Educado, era um homem
baixinho e gordinho e sempre que nos encontrava seriamente nos cumprimentava
com muita educação e respeito.
Papai, apesar de ser um
índio meio bacudo, lá das canhadas de Canguçu, tinha também por ele muito
respeito. Respeito pela pessoa que fora por um ano seu auxiliar no Exército.
Passado o tempo, início dos
anos 70 saímos de Pelotas, casei em 73, fui para o sul Mato Grosso, que logo se
transformou em Mato Grosso do Sul.
Em 1979, após ter voltado
para o Rio Grande do Sul, soube de um rumoroso caso acorrido em Pelotas, onde
por um breve tempo voltara a residir.
Um excelente e jovem médico,
que havia se formado com muito esforço e dedicação, já que era filho de um simples
carvoeiro. Esse médico era irmão de um ex-Cabo do Exército que havia servido
comigo, também no então 9ºRI, por cinco anos, onde trabalhávamos juntos na 1ª
Seção do Regimento, fora encontrado morto em um conhecido edifício no centro da
cidade, na Rua 15 de Novembro, quase em frente ao tradicional Café Aquário,
hoje chamado “Aquários”. Bem em frente ao antigo Bazar Edson.
Polícia acionada, tempos de
Ditadura. Corre, corre...
Quem matou o médico?
Logicamente, àquela polícia
truculenta, o que pouco mudou, pegou imediatamente o zelador do prédio como
principal suspeito.
Infelizmente esse suspeito
era nada menos que o educado Azevedinho.
Segundo contavam nas rodas
do Café Aquário, o mesmo havia sido muito torturado para confessar o crime,
porém nada tinha a ver com o homicídio.
Dias depois a polícia chegou
à autora do crime. Era uma senhora casada. Casada com um antigo colega meu de
colégio. Havíamos estudado juntos no Colégio Felix da Cunha no ano de 1956, e
nossa professora tinha sido a competente professora Sibila.
Colégio Félix da Cunha.
Azevedinho logo em seguida
veio a falecer, talvez dois ou três meses após o caso ser elucidado.
Muitos disseram que o mesmo,
devido às torturas que havia sofrido caído em profunda depressão e viera em
decorrência disso a falecer.
Seja lá como for
infelizmente o seu fim foi motivado talvez nem tanto pela suspeita e sim pela
homofobia.
Pobre Azevedinho.
Uma pessoa extremamente
humana e educada, muitíssimo mais que muito troglodita estúpido e safado que
prega a violência contra os homossexuais.
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