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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

KGB – O Negro KGB





Aqui conto mais duas façanhas de Miguel Marques, o KGB, lembrando que em 24 de fevereiro do ano passado publiquei neste blogue uma breve história deste fascinante Revolucionário, nascido em Encruzilhada do Sul e falecido em Curitiba.


Durante a Ditadura Militar, o Negro KGB, Miguel Marques vivia se escondendo por tudo quanto era canto. Perseguido, preso e torturado, esteve a beira de ser mais uma das centenas ou milhares de vítimas da Ditadura Militar.


Contavam alguns presos políticos que certa noite o Negro KGB foi brutalmente torturado por um Soldado também negro da Brigada Militar, quando esteve preso na Ilha do Presídio no Lago Guaíba.



Na manhã seguinte, todo doído e cheio de hematomas foi jogado ao sol na esperança dos torturadores que morresse. Entretanto o Negro KGB mais uma vez, por ser um homem forte enganou a morte e aos pouco, deitado sobre pedras foi se recuperando e viu com um de seus olhos que pode com muito esforço abrir, pois estava com os dois olhos dentro de bolhas de sangue de tanto apanhar, a aproximação do tal Soldado que o havia torturado.


Esse soldado,  friso aqui, também negro e forte, porém arrogante e covarde, vinha todo cheio de poses, com um enorme cachorro pastor alemão preso a uma corrente.


Ao passar perto do Negro KGB, este com esforço levantou a cabeça e perguntou.

- O que tu estás fazendo com esse “macaco” preso na corrente?

O Soldado parou, olhou para o cachorro, olhou novamente para o KGB e respondeu perguntando:


- Ô seu  negrão ignorante, tu não estás vendo que isto é um cachorro?


O Negro KGB calmamente disse ao Soldado.

- Eu não estou falando contigo, eu estou falando com o cachorro!

E mais uma vez apanhou e muito do covarde soldado.


Com o tempo o Negro KGB foi solto. E tão logo em liberdade novamente voltou a se esconder, pois sabia que sua liberdade era coisa de poucos dias ou preparada para matá-lo fora de uma dependência oficial.




Certa noite estava em um barraco numa vila em que se acoitava e soube que uma tropa da Brigada Militar estava cercando a área com a ordem de prender um “Tal Negro KGB”, perigoso e terrorista, que estaria distribuindo panfletos subversivos.


Miguel Marques, o KGB, não se apavorou. Viu da porta de seu barraco que um Sargento da Brigada e mais uns seis ou sete mata-cachorros estava subindo pela viela em que se escondia em direção ao seu mocó.


Pegou uma sacola, enfiou os panfletos dentro desta e por cima botou umas batatas, cenouras, um pedaço de moranga, um maço de couve e um pacote de massa, que naquele dia havia comprado no Mercado Público,  pois em sua mente ágil já havia inventado uma história bem triste para escapar do cerco.


E saiu pela viela estreita e escura em direção aos militares, fumando seu cigarrinho ao passo lento, assoviando baixinho como se nada estivesse acontecendo.


Ao se aproximar o Sargento, cheio de autoridade e prepotente, como quase todos são mandou que ele parasse e aquele monte de soldados, tudo pau mandado com as armas prontas, cercaram o negrão porém não conheciam o Negro KGB.


Sem mostrar qualquer reação o Negro KGB, alegre e displicentemente cumprimentou com um "oi" a milicada, parou abriu a sacola, enquanto soltava uma baforada se fumaça de seu malcheiroso cigarro em cima da tropa e mostrando ao Sargento aqueles legumes e disse.

- Vou pra casa de uma tia velha fazer uma sopa, a coitada anda meio mal. Barbaridade!

O sargento balançou a cabeça e disse:

- Ah, sim! Sim! O Senhor pode passar.

Jamais o Sargento desconfiaria que aquele negro tão calmo e bondoso, se fazendo de simplório, que se propunha fazer uma sopa para uma tia velha fosse o procurado KGB. Perigoso terrorista como diziam as "autoridades".


E lá se foi o Negro KGB, assoviando rua a fora e sumiu naquela noite escura indo para outro mocó.


Grande KGB.


Como esse não teve outro igual.



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