Aqui conto mais duas
façanhas de Miguel Marques, o KGB, lembrando que em 24 de fevereiro do ano
passado publiquei neste blogue uma breve história deste fascinante
Revolucionário, nascido em Encruzilhada do Sul e falecido em Curitiba.
Durante a
Ditadura Militar, o Negro KGB, Miguel Marques vivia se escondendo por tudo
quanto era canto. Perseguido, preso e torturado, esteve a beira de ser mais uma
das centenas ou milhares de vítimas da Ditadura Militar.
Contavam alguns presos políticos que certa
noite o Negro KGB foi brutalmente torturado por um Soldado também negro da Brigada Militar,
quando esteve preso na Ilha do Presídio no Lago Guaíba.
Na manhã seguinte, todo
doído e cheio de hematomas foi jogado ao sol na esperança dos torturadores que morresse.
Entretanto o Negro KGB mais uma vez, por ser um homem forte enganou a morte e
aos pouco, deitado sobre pedras foi se recuperando e viu com um de seus olhos
que pode com muito esforço abrir, pois estava com os dois olhos dentro de
bolhas de sangue de tanto apanhar, a aproximação do tal Soldado que o havia
torturado.
Esse soldado, friso aqui, também negro e
forte, porém arrogante e covarde, vinha todo cheio de poses, com um enorme cachorro
pastor alemão preso a uma corrente.
Ao passar perto do Negro
KGB, este com esforço levantou a cabeça e perguntou.
- O que tu estás fazendo com
esse “macaco” preso na corrente?
O Soldado parou, olhou para
o cachorro, olhou novamente para o KGB e respondeu perguntando:
- Ô seu negrão ignorante, tu não
estás vendo que isto é um cachorro?
O Negro KGB calmamente
disse ao Soldado.
- Eu não estou falando
contigo, eu estou falando com o cachorro!
E mais uma vez apanhou e
muito do covarde soldado.
Com o tempo o Negro KGB foi
solto. E tão logo em liberdade novamente voltou a se esconder, pois sabia que
sua liberdade era coisa de poucos dias ou preparada para matá-lo fora de uma
dependência oficial.
Certa noite estava em um
barraco numa vila em que se acoitava e soube que uma tropa da Brigada Militar
estava cercando a área com a ordem de prender um “Tal Negro KGB”, perigoso e terrorista, que estaria
distribuindo panfletos subversivos.
Miguel Marques, o KGB, não
se apavorou. Viu da porta de seu barraco que um Sargento da Brigada e mais uns
seis ou sete mata-cachorros estava subindo pela viela em que se escondia em direção ao seu mocó.
Pegou uma sacola, enfiou os
panfletos dentro desta e por cima botou umas batatas, cenouras, um pedaço de
moranga, um maço de couve e um pacote de massa, que naquele dia havia comprado
no Mercado Público, pois em sua mente ágil já havia inventado uma história bem triste para escapar do cerco.
E saiu pela viela estreita e
escura em direção aos militares, fumando seu cigarrinho ao passo lento, assoviando baixinho como se nada estivesse acontecendo.
Ao se aproximar o Sargento, cheio de autoridade e prepotente, como quase todos são
mandou que ele parasse e aquele monte de soldados, tudo pau mandado com as armas prontas, cercaram o negrão porém não
conheciam o Negro KGB.
Sem mostrar qualquer reação
o Negro KGB, alegre e displicentemente cumprimentou com um "oi" a milicada, parou abriu a sacola, enquanto soltava uma baforada se fumaça de seu malcheiroso cigarro em cima da tropa e mostrando ao Sargento aqueles legumes e disse.
- Vou pra casa de uma tia
velha fazer uma sopa, a coitada anda meio mal. Barbaridade!
O sargento balançou a cabeça
e disse:
- Ah, sim! Sim! O Senhor pode passar.
Jamais o Sargento
desconfiaria que aquele negro tão calmo e bondoso, se fazendo de simplório, que se propunha fazer uma
sopa para uma tia velha fosse o procurado KGB. Perigoso terrorista como diziam
as "autoridades".
E lá se foi o Negro KGB,
assoviando rua a fora e sumiu naquela noite escura indo para outro mocó.
Grande KGB.
Como esse não teve outro
igual.
Nenhum comentário:
Postar um comentário