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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Batalhão Tuiuti e a Bola de Pano





Transcorria o ano 70, ano em que o inverno foi muito rigoroso. No pátio do 9º Regimento de Infantaria, hoje 9º BIM, Batalhão Tuiuti o frio daquelas manhãs era congelante assim como em toda Pelotas.

Havia passado à disposição da Comissão de Seleção, que faria a identificação de centenas de conscritos para o Exército. 

Tal Comissão era presidida pelo Oficial Chefe da SMob, na época o Primeiro Tenente Niederauer e como identificadores haviam dois Segundos Sargentos (Mattos e Osvino) e seis cabos datilógrafos, onde um era eu
.
No final do expediente, à tarde, estava no alojamento da Companhia de Comando do 1º Batalhã, em frente a meu armário quando tive a excelente idéia de fazer uma bola de pano.


Para tal usando umas folhas de jornal, moldei uma bola que foi cuidadosamente envolta em uma ceroula de lã, chamada no Rio Grande do Sul de cueção.

Ficou perfeita, porém faltava algum cordão ou linha para costurá-la.

Para tal, peguei em meu armário um rolo de fita de máquina de escrever, preta e vermelha, já gasta de tanto uso, e com um clipe a guisa de agulha, fui envolvendo tal pelota, numa verdadeira teia e em cada cruzamento da fita dava um nó.

Esta bola até hoje está bem guardada em meus pertences, porém já muito velha, pois vão-se quarenta e três anos.

Mas o que isso tem de importante.

Vou lhes contar:

Na manhã seguinte, bem cedo, cheguei à Escola Regimental, onde uma sala havia sido esvaziada para servir de local para a identificação daqueles conscritos. Havia três mesas, algumas classes ou carteiras e oito ou nove cadeiras.

Tal serviço era feito a partir das 9 horas, onde os dois sargentos colhiam as digitais, sinais característicos de cada homem, e após transcritos em uma ficha iam sendo repassadas aos cabos datilógrafos para que as datilografassem conforme as anotações feitas, juntadas a farta documentação pessoal.

Porém para evitar o acúmulo de serviço os seis cabos iam para tal dependência antes da formatura do Regimento, inclusive sendo desta dispensados pelo comando devido ao serviço que executavam.

Ao chegar a esta sala, tiritando de frio, lá estavam os outros cinco cabos, verificando o fichário para iniciar suas tarefas, um ou dois já datilografando tais fichas com os dedos ainda congelados, momento em que tirei debaixo de minha grossa japona a tal bola.

Imediatamente foram montadas duas equipes de três contra três e como goleiras seriam usadas duas carteiras escolares.

 E foi prá já.

Com a porta fechada a disputa começou.

No pátio do quartel os termômetros apontavam temperatura abaixo de zero.

Mas nossa disputa dentro da sala fechada não nos fazia sentir frio.

Ouvimos os primeiros passos cadenciados de alguma companhia entrando em forma a mais ou menos uns sessenta ou setenta metros de onde estávamos, pois tal Escola Regimental distava uns quarenta metros atrás do palanque oficial, onde o Coronel Comandante e seu Estado Maior assistiriam a parada diária.

Além dos sons normais das companhias entrando em forma e vozes de comandos, a disputa dentro da sala corria solta e com o movimento dos corpos cheios de roupas começou a aquecer o ambiente. E quanto mais corriam em disputas duras, mais o calor aumentava.

Tempo!

Foi pedido um tempo para que tirássemos as japonas de lã. E mais algum tempo, sacamos fora as gandolas, (camisa de brim) peça do uniforme de instrução que protege os braços e o tronco.

Alguns minutos depois foi a vez das camiseta de lã e das próprias camisetas de malha. O calor e o vermelhidão tomavam conta daqueles seis cabos em perfeita forma física, que disputavam, apenas de calças e coturnos, com os torsos nus e suados uma acirrada disputa, onde do pescoço para baixo tudo era canela.


No Pátio do Quartel, com um frio congelante ouvíamos vozes de comando e apresentações.

Porém no momento em que o Tenente Coronel Sub-Comandante do Regimento, num total silêncio da tropa, com essa perfilada, em obro-armas foi apresentá-la ao Coronel Comandante, um dos cabos chutou a bola de pano com força em direção a zaga adversária e a bola tomando uma direção não desejada foi bater violentamente em uma tampa de lata (capa) de uma máquina de escrever, sendo esta arremessada violentamente contra a parede, batendo logo após no chão, fazendo um enorme barulho.
  
Fizemos um silêncio total, e eu num pulo cheguei a janela, onde puxando um pouco a cortina pude ver o Coronel comandante chamar o Oficial-de-Dia, um Aspirante-à-Oficial R2 e esse acompanhado do Sargento Adjuto, um Primeiro Sargento, apontar para a Escola Regimental e mandá-los ver o que estava acontecendo.

Imediatamente mandei que cada cabo sentasse em sua respectiva mesa e começassem a datilografar as fichas do dia anterior.

E num pulo, sem colocar as peças de roupas, cada um sentou a sua mesa e eu de posse de uma vassoura comecei a varrer tal sala.

Nesse momento o Aspirante bateu à porta e eu imediatamente a abri, perfilando-me diante de tal praça-especial, sentindo em meu peito nu, o vento gélido que soprava.

Tanto o Ofical-de-dia quanto o seu Adjunto, pasmos, naquele frio polar olharam para as praças-de-pré datilografando tranquilos, seminus, vermelhos e suados e eu com uma vassoura nas mãos também vermelho escorrendo suor por todos os poros.

Foram-se os dois intrigados com a eficiência daqueles seis cabos, que em seu trabalho estafante suavam feito bestas.

Fechei a porta e fique no canto da janela para ver o que fariam.

Os dois, pelo lado do Palanque falaram com o Coronel Comandante, nada ouvi apenas vi a mão do Coronel com o dedo polegar levantado, na conhecida posição de “POSITIVO”.

Ufa!

Não cito os nomes dos envolvidos, porém se algum deles ler esta história lembrar-se-á.

Foi um momento tenso e ao mesmo tempo hilário. Muito hilário.



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