Rondonópolis, hoje.
Em 1976 entrei na agência do
Banco do Brasil em Rondonópolis no Mato Grosso para liberar um grande
financiamento de máquinas agrícolas.
Naquela época os bancos
abriam suas portas às 9 horas.
Entrei nessa agência que
funcionava em um antigo sobrado cujo piso era de madeira. Subi a escada, pois a
gerência ficava no andar superior. Calçava botas de cano alto, de tacos duros o
que fazia o meu caminhar ser cadenciado com um toc e toc irritante.
Ao chegar ao balcão junto à
carteira agrícola, mais ou menos as nove e quinze, deparei-me com o balcão
cheio de simples e pacientes agricultores mato-grossenses que ali estavam para
resolver seus problemas junto aquele banco.
1976 - assim eu era neste ano.
Debrucei-me no balcão a fim
de ser atendido, porém nenhum dos funcionários atendia. Notei que junto à mesa
do chefe da Carteira Agrícola um número expressivo de funcionários conversavam,
tomavam cafezinho e riam.
E como não sou pavio curto,
pois não o tenho pavio, o sangue subiu para a cabeça imediatamente. Sabem como
é um Gaúcho, pois além de ser monarca é soberbo e metido a facão sem cabo.
Afinal de contas o balcão
estava cheio e ninguém se dispunha a atender a clientela.
Nesse momento do grupo de funcionários
que conversavam e riam junto à mesa da carteira agrícola um deles saiu e veio
em direção do balcão de atendimento, e desse tentou sair, porém parei-me em sua
frente, praticamente peitando-o.
Todos dentro daquele salão
viraram-se e nos observaram atentamente, inclusive os funcionários que
continuavam em redor da mesa.
O tal “funcionário”, um
homem baixinho de feições orientais, sem entender olhou-me surpreso, momento em
que pegando meu cartão de visita entreguei-lhe dizendo que levasse imediatamente
ao gerente, pois com ele precisava falar.
O homem meio gaguejando tentou
falar, porém intempestivamente o interrompi com o indicador em riste dizendo
alto e em bom tom:
- Leve-o agora, vocês estão
aqui para trabalhar e não para ficar de conversinhas e piadas.
O homem pasmo em minha
frente pegou o cartão, apavorado enquanto todos dentro daquele salão observavam
incrédulos.
Virei-lhe as costas e
dirigi-me para a sala de espera.
Quando muito dois minutos
passaram e o tal “funcionário” chegou à porta da sala de espera, olhou-me
desconfiado e ligeirinho sentou-se em uma poltrona ao lado da porta, apavorado
me olhando.
Um frio correu pelo meu
corpo, e meio sem graça perguntei:
- O senhor não é funcionário
do Banco?
O “japinha” apavorado
respondeu:
- Não senhor, eu sou
correntista.
Tche, não sabia o que ia
dizer ao pobre homem e limitei-me a perguntar:
E o cartão?
Ele me respondeu que havia
entregue para o Chefe da Carteira Agrícola e que o Gerente iria me atender
logo.
Mil desculpas pedi a esse
senhor que pensei ser funcionário do Banco.
Logo fui gentilmente
atendido pelo gerente, que mandou liberar o vultoso financiamento.
Até aí tudo bem.
O problema era sair da sala
de gerência e ter que passar pelo imenso salão onde as pessoas que assistiram a
cena tragicômica continuavam a espera de atendimento.
Como fazê-lo em silêncio se as
botas eram de tacos duros.
Nem pisando mais macio que
peru no trevo iria conseguir passar despercebido.
Oh dor. Oh dor!
Ginásio de esportes de Rondonópolis.
Hahahaha... só o senhor mesmo professor Pedro!
ResponderExcluirOi amada Binha.
ResponderExcluirPois é. Essas coisas acontecem, fiquei naquele momento muito envergonhado, mas depois conversando com esse senhor, fui me descontraindo, porém como escrevi, o difícil foi sair sob os olhares de todos os que assistiram aquela cena de pura comédia.
Beijos meu amor.
Vamos marcar outro encontro com o pessoal.