Muito li sobre essa fatídica
guerra. E como já publicado neste blog, um dos livros que mais me marcou foi a
Retirada da Laguna, escrito por Alfredo D’Escragnolle Taunay, Visconde e
Militar Brasileiro, Tenente Engenheiro, que participou da Campanha do Mato
Grosso sob o Comando do Coronel e Presidente da Província do Mato Grosso Carlos
de Morais Camisão.
Entre outros tive a
oportunidade de ler o Genocídio Americano de Julio José Chiavenatto, bem como o
Retrato de Uma Rendição de Carlos Fonttes, uruguaianense, escritor, historiador
e militar da reserva do Exército, o qual acabo de ler, entre dezenas de outros
e também para se ter uma base inicial de todo o conflito e da história
magnífica da Primeira Republica Sul-Americana o livro de Augusto Roa Bastos,
“Yo el Supremo”, este editado no Paraguai.
Tão interessado fiquei por
essa Guerra que no ano de 1977 empreendi uma viagem, obviamente não a fiz a pé
como as tropas brasileiras, mas percorri de Uberaba em Minas Gerais até o
Paraguai, passando pelas cidades de Santa Rita, Coxim, Miranda, Nioac, Jardim,
Aquidauana, Bela Vista (Brasileira) e Bela Vista Norte (Paraguaia) visitando o Parque
Nacional de Cerro Corá, e parte desse país, saindo por Pedro Juan Caballero,
entrando novamente no Brasil por Ponta Porã e rumando dessa para Dourados, aonde
as forças brasileiras sob o comando de Antônio João Ribeiro tentaram resistir a um
ataque Guarani à Colônia de Dourados, cidade onde morei e terra natal de minha
filha Monica.
Tal viagem foi mais ou menos
seguindo a rota das tropas brasileiras envolvidas ao ataque ao norte do
Paraguai, um ataque diversionista que não resultou em nada, a não ser no
sofrimento e morte de milhares de brasileiros e alguns paraguaios.
Outras viagens empreendi
pelo Paraguai, visitando bibliotecas e museus, e sempre as fiz conversando com
o povo, simples, pobre, orgulhoso e também com muitos homens cultos e bem
situados.
Portanto ao se falar de um
conflito temos que ouvir os dois lados, pois a história Oficial Brasileira fala
da visão do VENCEDOR e não de quem foi derrotado. Derrotado, espezinhado e
torpemente destruído.
Aliás, é sempre bom lembrar
que os fatos históricos narrados pela historiografia oficial são sempre da
visão de quem está no poder. As guerras são vistas pela visão do vencedor e
nunca do vencido.
Portanto não tenho a
intensão de mensurar atos ou motivos dessa insanidade, porém apenas questionar
certos pontos de vista, feitos notadamente pelos compatriotas brasileiros.
Solano López.
Ora, pois, afirmar que no
Paraguai havia uma ditadura, e que Solano Lopes era um carniceiro, despótico e
cruel, a pergunta que fica no ar é - Com quem?
El Supremo - Francia.
O povo paraguaio, hoje
pobre, mas que ainda possui um rendimento escolar muito superior ao nosso, onde
a população analfabeta e muitíssimo inferior em percentuais que a nossa, tem outra
visão do conflito. Para eles Solano López é Herói Nacional, assim como seu pai
Antônio Carlos López e José Gaspar Rodrígues de Francia “El Supremo”. - O que
também não vamos entrar na questão, pois poderão dizer que cada um puxa a brasa
para a sua sardinha.
Antonio Carlos López.
Entretanto há de se saber
que quando os nossos historiadores achincalham o Paraguai acusando-o de uma
torpe ditadura deixam de dizer que se no Paraguai havia uma ditadura no Brasil
a maioria da população era composta de famélicos, miseráveis que viviam na
penúria e que grande parte da população era escravizada, e que esses escravos,
negros e mestiços, viviam apanhando, sofrendo todo o tipo de maldade e
torturas. Piores sofrimentos dos que encontrados nas mais tiranas ditaduras.
Quando falam na ditadura
paraguaia, omitem de dizer que no Brasil quem mandava era uma simplória corte
tão mestiça quanto o povo que fazia e acontecia de maneira mandonista,
arrogante e perversa, não ligando nem um pouco para a miséria do povo. Sequer
ligando para o povo.
Quando se fala na ditadura
Paraguaia omite-se dizer que dentro da nossa Marinha de Guerra havia o
açoitamento de marinheiros o que só terminou com a Revolta da Chibata na
segunda década do século XX, onde um marinheiro negro, nascido no nosso Rio
Grande do Sul, chamado João Cândido Felisberto, natural de Encruzilhada do Sul,
conhecido pela alcunha de Almirante Negro liderou uma revolta contra as
maldades perpetradas dentro da nossa mais antiga força militar, e que dezenas de marinheiros foram em represália mortos pela oficialidade.
Quando se fala na ditadura Paraguaia
omite-se dizer dos avanços sociais, técnicos e intelectuais do povo Paraguaio,
que foi uma das mais pungentes sociedades pós colonialismo espanhol, ou
omite-se dizer que o Paraguai foi o primeiro país latino americano a tornar-se
independente, o que aconteceu em 15 de maio de 1811, muito antes do nosso
querido Brasil.
Quando se fala desta maldita
guerra omite-se dizer que o Paraguai somente invadiu o Brasil após ter o
Império covardemente invadido o Uruguai, deposto seu legítimo presidente e
empossado um marionete chamado Venâncio Flores Barrios no poder, numa grave
provocação à Nação Guarani, que vendo seu aliado Uruguai sendo agredido a esse
correu em socorro.
Omite-se dizer que muito
antes do início atividades belicosas paraguaias em defesa do Uruguai, já corria
dentro do Ministério da Guerra do Império planos de agressão ao Paraguai, como
a própria Campanha do Mato Grosso.
Acusava-se o Paraguai de
estar se armando. Ora o que faria um cordeiro no meio de lobos. Sabia muito bem
o Governo Paraguaio das intensões, principalmente da Argentina em relação a seu
território e em relação a sua maneira de governar para o povo.
Os romanos há mais de dois
mil anos já diziam “Si vis pacem, para bellum” ou seja “Se queres a paz,
prepara-te para a guerra”
Lembrando que nesta mesma
época a Argentina queria se ver livre da população negra e fazia matando negros
em guerras, doenças propositais e fome.
E se hoje, o Capitalismo
liderado pelos Estados Unidos da América, faz guerras em todos os lugares do
mundo para manter os seus interesses econômicos sempre a seu favor, houve num
passado recente a mesma coisa liderada pela Inglaterra, usurpadora,
exploradora e genocida. E que, dentro desta visão de posse que os frios
ingleses tinham a cerca do mundo não haveria espaço para nenhum país querer
sair debaixo da asa desse reino.
Ora. Paraguai!
Diriam os iogurtes ingleses.
Sim, pois são brancos, pálidos e azedos.
Eles sim tinham o interesse
em fazer essa maldita guerra. Eles queriam todos os países submissos a seus
interesses e não seria um Paraguai que botaria frente ao carcomido reino da
Inglaterra. Hoje, um leão desdentado, porém com as garras afiadas. Se bem que a pedra principal para a construção dessa maldita guerra era a navegabilidade do Rio Paraguai, que se estende pelo território da Argentina.
Omite-se dizer também que o
Paraguai era um pequeno país realmente independente dentro da América Latina, dentro
do que bem mais tarde ficou sendo conhecido como Cone Sul, pois nem o grande
Império do Brasil era independente dos interesses econômicos e militares ingleses,
que mandavam e desmandavam dentro do nosso Império.
Era tão
vergonhosa a interferência inglesa dentro do Brasil que um cidadão inglês,
bêbado assassinou um brasileiro na cidade do Rio de
Janeiro e quando preso a marinha de guerra inglesa deu um ultimato ao Brasil para que o podre inglês fosse liberado e imediatamente ele foi solto, numa
demonstração de total subserviência das AUTORIDADES brasileiras.
As mesmas autoridades tão
covardemente violentas em relação ao Uruguai e ao Paraguai. Pois a esses
agrediam, mas em relação à Inglaterra levavam medinho. Ficavam todos com as calças
nas mãos.
E que, assim como hoje
existem guerras ideológicas o que podemos deixar para o nosso IMPÉRIO ao lado
de uma REPÚBLICA realmente independente e próspera chamada Paraguai, onde o
povo tinha toda a assistência por parte do governo. Só que para dar ao povo o
que ele precisava alguns interesses burgueses foram terminados o que revoltou a
elite paraguaia composta de meia dúzia de parasitas latifundiários, muitos dos
quais se refugiaram em Buenos Aires e de lá orquestravam todo o tipo de
propaganda contra o Governo Paraguaio, das quais a esmagadora maioria eram
farsas bem engendradas. E isto não mudou nada em todo o mundo, pois essa classe
viscosa há sempre de, para continuar com seus privilégios, manter o povo na penúria.
Chamar Solano López de
ditador é pregar moral de cuecas, pois vivíamos sob a égide do atraso, dos
mandos e desmandos de barões e condes sob a batuta de um IMPERADOR. Ele era um ditador sim, mas que democracia havia no Brasil?
Que Brasil era esse?
De negros escravos, de
índios discriminados, de povo faminto, de uma corte simplória, burra e ridícula
que se dizia europeia, onde meia dúzia de latifundiários faziam e aconteciam,
achando-se superiores aos demais, já que leis não existiam para os que delas precisassem.
Taunay.
Com que moral dizemos que a
ditadura era Paraguaia, país que na época da guerra possuía todas as crianças
em escolas, povo alfabetizado e como disse o próprio Visconde de Taunay (Toné), seus
soldados eram bem alimentados, bonitos e fortes, comparando-os a Apolo,
enquanto os nossos eram famélicos e valetudinários. (famintos, defeituosos, aleijões, desdentados).
Por outro lado era uma
sociedade diametralmente oposta aos conceitos gerais existentes, pois o
Paraguai desde Francia (1811) lutava para formar uma sociedade sem classes
sociais, aos moldes sociais das Reduções Jusuítas, só que organizadas pelo governo civil e não pela igreja que havia perdido o poder, onde todos seriam iguais e não como era no resto do mundo, (e continua
sendo) notadamente no Brasil, último país do planeta a abolir oficialmente a escravidão,
onde o povo não tinha nenhum direito, pois até o voto era um direito de quem fosse alfabetizado e possuísse riqueza.
Obedecia ou obedecia aos
poderosos, viscosos, reacionários e verdadeiramente ditadores.
Isto não é posto na balança.
Há uma visão obtusa de ver
apenas um lado da história. Só o que importa é a visão do vencedor
fazendo vistas grossas as coisas boas e belas do Paraguai. E ainda hoje
encontramos muitos equivocados para achincalhar esse maravilhoso país, que
se é pobre, vive do contrabando, dos chibeiros é porque fomos nós os
brasileiros, aliados aos argentinos que levamos o Paraguai a essa situação de
penúria e endividamento. Que foi no início, por coincidência, um endividamento com a Inglaterra.
Há notadamente a visão de
brasilidade apenas, o resto não importa.
Há inegavelmente uma visão
obtusamente ideológica, onde não há espaço para ver as coisas positivas. Onde
não há espaço para o bom senso.
Lamentável e infelizmente
continuam os mesmos ranços ideológicos, salvo raras exceções, pois basta alguém pensar diferente para
ser discriminado, se não, morto e sepultado.
Pois é assim que age quem
não tem argumentos a não ser o argumento da força bruta da perversidade.
Disse um poeta argentino –
“Quero ver meninos brancos e negros brincando juntos na mesma praça”.
E eu como gostaria de ver o
povo sul-americano unido, próspero e sem ódios. Onde todos pudessem viver em
harmonia, pois amo o Brasil, sou até muito ufanista como foi meu Avô, também
professor Lourival da Rosa Teixeira, mas não deixo me contaminar por esse
ufanismo e critico quando for preciso, e também amo o Uruguai, a Argentina, o
Paraguai, assim como todos os países desta sofrida América do Sul e também toda
a América Latina, que um dia, eu sei, despertará.
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