Na visão budista, a morte é
como um renascimento. A morte vem para recarregar energias para um novo
período, assim como o sono noturno nos habilita para um novo e radiante dia, a
morte também vem para nos levar a um novo e maravilhoso mundo, a vida não acaba
com a morte, pois ela é bela e eterna.
Diz à lenda que uma mulher
desesperada ao ver o filho morto foi até Buda e pediu que esse restituísse a
vida do filho. Ele calmamente lhe disse:
- Sim, farei isto, mas é preciso que me tragas um punhado
de sementes de mostardas de uma casa (família) aonde ninguém tenha morrido.
A mulher refletiu e
resignou-se com a morte do amado filho.
Platão dizia que a morte era
a libertação dos grilhões da matéria.
Na visão religiosa ocidental
liga a morte com as coisas maléficas, ruins, onde haverá danações eternas e
sofrimentos. Na visão ocidental a morte está associada à escuridão. A própria palavra
morte nos remete ao medo. Somos educados a temer a morte. Somos impiedosamente
trabalhados para temer o desconhecido. E desta forma também vê o Islamismo,
pois todos serão um dia julgados e se for o caso punidos. Afinal tanto o
Cristianismo quanto o Islamismo são cópias, nada mais do que cópias do Judaísmo
que assim encara a morte, com sofrimentos, danações e fogo do inferno.
Uma maneira pela qual as
religiões acharam para controlar a mente e os atos das pessoas, mantendo rígido
controle social.
Tanto que os católicos por séculos rezavam o “Creio em Deus Pai”, jogando Cristo ao fogo do inferno. Temor que mantinha principalmente as crianças apavoradas quando rezavam o Creio.
Isto me foi ensinado nas
aulas de “catecismo” ministradas pelo Padre Jorge, no início dos aos 50, um
velho capuchinho, na Igrejinha do Fragata, e assim ele orava com as crianças e
também assim oravam os padres nas missas dominicais em todos os lugares:
Crucifixus, mortus, et sepultus
Descendit as ínferos
...
Foi crucificado, morto e sepultado
Desceu ao inferno
...
Entretanto há meio século foi
mudado, pois caiu a ficha desses religiosos e viram em suas mentes embotadas
pelas fantasias que o seu Jesus jamais poderia ir para o inferno e substituíram
o desceu ao
inferno pelo desceu a mansão dos mortos, o que a maioria das crianças com menos
de 60 anos desconhece.
Ou seja, o horror cristão à
morte era e continua sendo doentio, pois até mesmo o seu “líder” espiritual
teve que enfrentar danações infernais.
A morte, o grande medo da
humanidade é da própria natureza e é a única certeza que temos.
Quase todos os que teimam em
viver, morrem de maneira trágica, sofrida e amarga, pouquíssimo morrerão sem
sofrer e a tristeza abaterá a todos que se aproximam da morte, não por
saberem que vão morrer, mas porque aos velhos foi reservado pela natureza essa
saga, não por castigo divino, mas porque a velhice leva o organismo a um estado
de tal e irreversível debilitação que os sofrimentos são inevitáveis.
Lembrando que por volta dos
40 anos inicia a idade do “Condor". E a cada ano que passa as dores vão
aumentando em intensidade e lugares.
Muitíssimos morrerão antes
do tempo, se é que tempo tem antes. São os jovens que infelizmente morrem a
todo o momento vítimas de acidentes, homicídios, doenças e drogas. Esses não percorrerão
a longa estrada, suas vidas serão abreviadas e não terão a chance de
envelhecer, aprender, ensinar, ter com quem se preocupar, criar filhos e netos,
ver aos poucos o companheiro ou a companheira quase que imperceptivelmente
envelhecendo a seu lado.
Crianças que em tenra idade
vierem a falecer por enfermidades e acidentes passarão nesta vida tão
rapidamente que não terão a chance de realizar nada ou quase nada.
Outros. Os que ousarem a
envelhecer, passarão por esta experiência dura, mas ao mesmo tempo maravilhosa
e sem notarem o tempo, estarão velhos e alquebrados, mas terão vivido o
suficiente para terem aprendido e gozado as coisas boas da vida, que
inexoravelmente acabarão com a morte.
A velhice é sábia, mas é
extremamente dura para os que têm a sorte e a coragem de viver a cada dia e
morrer aos poucos a cada momento. Dura sina de todos os seres vivos seja um
vegetal ou um animal.
E no momento em que não mais
houver nenhum tipo de retorno ao longo desta extensa, tortuosa e dura estrada,
seja ele ou ela, um temente convicto ou até doentio, ou um ateu empedernido,
ambos passarão por momentos mais sofridos da existência. Ambos.
Não haverá compaixão com nenhum,
não haverá menor ou maior sofrimento, ambos morrerão de velhos, acabados,
enterrados no fundo de uma cama, morrendo a cada segundo, das mais diversas
formas de sofrer, falência múltipla, insuficiência renal, cardíaca ou
respiratória, dores, esquecimentos, remorsos, lágrimas, idade.
Mortos vivos que a sociedade
não tem nem mesmo a compaixão de permitir a eutanásia.
- Não há mais jeito, mas deixe-o aí sofrendo. Pois é a vontade de alguém
ou de alguma coisa, dirão os que creem.
Vontade de ver o sofrimento,
de ver a tragédia, de ver padecendo bons e maus; homens e mulheres; religiosos
e ateus.
Insanidade ou sadismo?
Com ou sem rezas morrerão aos
poucos, com ou sem dignidade, com ou sem companhia. E assim como na hora do ápice
do prazer, também a hora da morte é absurdamente solitária.
Porém no derradeiro instante
a sábia natureza fará com que ambos
tenham um momento de total serenidade, dirão os religiosos, que é uma graça
divina, onde as últimas células a morrerem serão os últimos neurônios que
ficarão produzindo substâncias para que aquele organismo tenha nessa hora o
alívio dos sofrimentos.
E a morte será finalmente a
salvação daquele ser sofredor, seja ele quem for.
A morte o libertará dos
sofrimentos.
Fecham-se para sempre as
cortinas da vida para aquele ser, e outros já estarão em seu lugar, ousando
também viver, pois viver é uma ousadia, crivada de sofrimentos, angustias e
dores, as quais teimamos em não querer ver. Viver é andar na beira do penhasco
em plena escuridão e por muitos tempo será a grande meta de todos os seres
vivos, até o momento em que, pelo menos na Terra não haverá mais condições de
sustentar a vida humana, o que ocorrerá muito em breve, não mais de mil anos,
pois o pior dos animais, o homem está terminando com o seu próprio habitat.
Talvez outros tipos de vidas
permaneçam, novas espécies poderão surgir com o passar de muito tempo, mas
também chegará um momento que a própria Terra desaparecerá, engolida pela
voracidade do Sol ou jogada para os confins gelados e escuros do Universo.
Nada é eterno como pregam as
lendas e os mitos religiosos. Nem mesmo o Universo existirá para sempre.
Somos tão insignificantes
que sem o homem no planeta, este continuará vivo por muitos milhões de anos ou
quiçá bilhões, pois o bicho homem não fará a mínima falta a este planeta
chamado Terra.
Achamos que somos algo
especial, que podemos fazer e acontecer com o nosso mundo, mas na verdade somos
restos estelares.
Somos a consequência da
morte de alguma estrela, num passado distante e que lançou matéria cósmica para
todos os cantos do Universo, e nós somos nada mais, nada menos que ínfimas
partículas dessas estrelas.
E um dia o que sobrar de nós
estará em outro lugar, ou num ser vivo, animal ou vegetal, ou em alguma forma inanimada, pois temos a mesma e original composição.
Viemos da água e para a água voltaremos. Isto é cíclico, não é divino.
Ou é para o pó? Mas aí é pouca coisa, menos de 25%.
E não mais haverá
significado a vida para quem dela sair, pois tudo, como num passe de mágica
desaparecerá. E em pouco tempo seremos totalmente esquecidos, alguns ficarão
apenas nas lembranças da História, mas a esmagadora maioria nada restará.
Dolorido, cruel, triste, nada
romântico e nem um pouco esperançoso, mas infelizmente assim será. A vida é
assim, selvagem e sem compaixão.
Por essa crueza é que o
homem busca na eternidade a esperança de continuar vivendo, mas isso é uma vã
ilusão, que para muitos dá força, porém a razão nos mostra outro lado, tão duro
e cruel quanto a própria existência.
Muitos, desde os primórdios
da humanidade, buscam nessa ilusão uma maneira de encarar com otimismo o fim
terreno achando assim que terão outra vida após a morte, mas a morte significa
simples e duramente o fim da estrada chamada existência.
Nada mais.
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