“De manhezita, nem clareara o dia, ainda com a
Boieira brilhando no infinito negro do céu, saí do quente dos pelegos, onde
dormia enroladito numas enxergas riunas, velhas, ainda do tempo do quartel e já
deixei a tarimba prontita, prá siesta habitual, no ranchito de leiva, coberto
de santa-fé. Solito no meio do campo, onde passava quatro ou cinco noites por
semana, ouvindo o nada silencioso, temperando a triste sina que nos conduz
pelos peraus da vida.
Há alguns metros do
rancho, passando uma coronilha, mui antiga e frondosa, ficava uma velha latrina
de tábua, coberta com uma folha de zinco, toda esburacada pelo tempo, mas que
servia bem, principalmente no inverno inclemente, que não dava muito sossego
por aquelas bibocas perdidas no meio das coxilhas, para tirar água do joelho
ou lavar as fuças e escovar as canjicas numa velha tina que ficava a seu lado,
bem servida com uma água que corria de um manantial cerquito, no alto de umas
pedras, envoltas em um capãozito nativo.
Parei por um instante,
largando a escova na borda da tina carcomida pelo tempo e fiquei tentando ver
naquela escuridão onde estava um caburé que havia piado ao pressentir meu
movimento. Piou como se houvesse me avisado de alguma coisa ruim, que me
arrepiou os pelos. Mas nada avistei, a não ser o breu daquela madrugada negra
como mamangava.
Aprumei a daga que
trazia atravessada as costas por baixo da rastra, e ainda segurando o recavem
com a destra calejada, peguei com a canhota a escova e voltei ao rancho, todo
espiado, para vestir uma campeira, pois o frio estava de cortar os ossos.
Logo após me fui a galopito, meio escorregando nas
flechilhas de grama geadas do campo, ao galpão de chão batido, feito de
costaneira, coberto de quincha, aonde a peonada, meio sonolenta ia todas as
manhãs tomar o amargo bem quente, pitar os paiêros, e jogar prosa fora em volta
do fogão, que “fumaceava” feito uma maria-fumaça, daquelas tocadas a carvão de
pedra, que hoje não se vê mais cortando la pampa, com suas rodas batendo no
ferro, num “tac-tac” infinito”.
Assim
inicio um conto cujo título é “La Pampa”, ainda em fase de acabamento e revisão,
que aos poucos vai saindo da casca e que pretendo, quando coragem me sobrar,
lançá-lo neste mundo maravilhoso dos livros, Um conto cheio de erros
propositais conforme charlam os homens simples do campo. Homens bacudos, mas
honestos e trabalhadores.
Sou
meio enrolado, pois estou com três livros prontos, porém o difícil e parir o
primeiro, lembrando que tal já está pronto para ir para uma editora há mais de
quatro anos, porém sempre falta alguma coisa.
Mas
se tiverem paciência um dia poderão comprá-los e lê-los, e o que é mais
importante, bater uns “dindins” na minha conta bancária.
Mas que tal?
Minha
cabeça não para, estou sempre escrevendo, lendo, relembrando “causos” passados
ou inventando algo para por no papel, hoje não mais no papel e sim nos arquivos
do computador e meus dedos não param e vivem, hoje, digitando, mas no passado
viviam “datilografando”.
Êta
ataso!
Muitas
vezes minha prenda, que comigo convive há mais de 40 anos diz meio abichornada:
-
Tche louco! Sai da frente deste computador e venha assistir televisão.
E
eu lhe pergunto:
-
O que ganho com isso?
Há
pouquíssimas coisas aproveitáveis na programação dessa nossa péssima televisão,
até mesmo os telejornais são um amontoado de coisas tendenciosas e com
mensagens sub-reptícias. Informações veladas e mascaradas que deixam uma dúbia
impressão. Coisa que te prendem pelas imagens, porém não carregam nada que
acrescente. São notícias sensacionalistas e vazias.
Tanto
que a maioria esmagadora dos que assistem telejornais, uma hora após terem-no
assistido não se lembram de 90% das notícias assistidas.
Prefiro
então ler, tanto o jornal impresso ou mesmo ler e assistir coisas na Internet, o
que também não são lá essas coisas.
Ou
seja, inundaram a televisão de porcarias. Programas ridículos, DNAs e
baixarias. Exorcismos fantasiosos, teatrais, de enésima categoria, que
imbecilizam mais quem os assistem.
Grupelhos
de desconhecidos maus-caracteres em constantes barracos e que são chamados por
um apresentador com a maior cara-de-pau, de heróis e que passam um tempo em uma
mansão que é uma afronta ao pobre trabalhador que muitas vezes não tem onde
morar. E o que é pior. Quem paga essa trupe de vagais é o povo que assiste e
vota neste ou naquele, pois o dinheiro do prêmio sai dos telefonemas que são
dados aos milhões por inocente úteis.
Novelas
repetitivas que não levam a nada, somente às fofocas, brigas, gritarias e
ensinam bem como uma pessoa pode se tornar torpe, e dizem os imbecis que é o
retrato da vida real. Porém basta essas porcarias irem ao ar para que as
meninas passem a agir conforme a vilã da história e não como a boazinha. Digo
isto porque por muitos anos dei aula e via em meio de minhas alunas o mal que
essa droga chamada novela fazia e faz às cabecinhas ainda em formação.
E
o povão fica preso a essas porcarias e deixa de pensar, deixa de ler, deixa de
viver para ficar bitolado em frente à tela alienante.
E
bota alienante nisto.
Ler
ainda é uma coisa boa, salutar, que te ensina a escrever, falar e se comportar
como cidadão, além do conhecimento que te traz.
Faça
uma boa leitura e deixe as alienações de lado, pois um bom livro te leva a
mundos novos, cheios de aventuras. Leva a um mundo de contos e fábulas, onde
podemos em devaneios viajar montados em unicórnios por bosques encantados e
passar a ser o salvador da bela e adormecida Talia e acordá-la de seu profundo
sono.
Os
livros te levam a voar montado em um gigantesco e bom dragão e ver do alto os
vales verdejantes e com ele participar de aventuras fantásticas, onde
cavaleiros em suas armaduras reluzindo ao Sol serão teus aliados na luta contra
o mal.
Esses
mesmos livros poderão te levar ao fundo das águas cristalinas do Reno, onde
verás as belas ninfas Woglinde, a ruiva; Floisshilde, a loira e Wellgude, a
morena ou penetrar nos profundos túneis e ver o feio e asqueroso anão Alberich, chicoteando um exército de escravos tão grandes quanto ele.
Ou
trará muito conhecimento e tu serás agraciado com o que quiseres, pois fica sob
a tua vontade o assunto que quiseres ler. Basta ter vontade.
Pois
os que não leem deixam de aprender, os que acham que ler é “palha” serão
aqueles que ficarão sempre por fora das boas rodas de conversas úteis.
E
esses, desprovidos de conhecimentos se consideram malandros.
Dá até pena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário