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sábado, 25 de abril de 2015

Como Funciona


A mente humana, e não é coisa redundante, pois todos os outros animais também a têm e é uma coisa ainda pouco conhecida da ciência e isto tenho como experiência própria, pois carrego em minha mente coisas que a ciência ainda não compreende, como lembranças de uma época em que muitos estudiosos, médicos e cientistas acreditam não ser possível reter em sua memória.

Mas isto é outra história.

Voltamos então à mente comum. A mente da maioria esmagadora deste povo muitas vezes desorientado.

Os povos, desde o seu alvorecer, pela incapacidade de entender, de compreender, de saber das coisas, foram ao longo de milhares e milhares de anos, e não me refiro somente ao homo sapiens, e sim aos mais antigos homens primitivos que deram a nossa origem, neandertal, homo hábilis, homo erectus e talvez outros ainda não encontrados desenvolvendo uma “sabedoria” que está aquém ou além da razão.

O que não entendo, não compreendo, busco uma explicação, mesmo que seja difícil de aceitar é o por quê desse verdadeiro desespero em acreditar em qualquer coisa, num trevo, num pé de coelho, ferraduras, santinhos e rezas, principalmente quando estão desesperados e a mente começa a fluir na contramão de qualquer razão, principalmente quando um filho ou parente muito chegado está de alguma maneira em perigo.

No primeiro lustro dos anos sessenta, soube de uma história triste, intrigante e ao mesmo tempo hilária.


Havia uma jovem senhora, mamãe de primeira viagem, que morava no Bairro Simões Lopes, na cidade de Pelotas, não muito distante da Estação Ferroviária, entrou em total desespero, coisa que qualquer pai ou mãe sentiria ao ver um filho a beira da morte.

Essa mãe, com suas filha de no máximo três anos corria em romaria aos hospitais e médicos em busca da salvação de sua menininha. E foram meses de desespero.

Visitava os médicos e entupia a criança dos mais variados remédios, e em sua mente já confusa passou a acreditar que tais medicações não faziam efeitos, não esperava nem que a composição fizesse efeito e desesperada procurava outro médico e mais e mais remédios fazia a menina tomar.

O desespero era tal, que levada pelas crendices, começou a apelar para variados Santos em busca de salvação.

Como habitualmente passava em frente a casa de minha irmã, a esta punha em constante atualização sobre o estranho caso de sua filha e dizia:

- Os médicos nada sabem.

Mas não deixava de entupir a criança de medicamentos.

Um dia confidenciou a minha irmã que fizera no quarto da menina um altar, com imagens e figuras de santos e mais santos, da “Virgem”, velas e também apelara para a umbanda, contas, incensos, milho e “marafo”.


Sua missão era salvar a menina.

Mas nada resultava positivamente.

Após muito tempo tratando a menina com remédios e rezas, passou pela casa de minha irmã e contou que finalmente havia encontrado um santo milagreiro. Um santo que ela desconhecia, mas que foi a causa da repentina melhora de sua filhinha, dizendo:

- Tão logo coloquei a imagem do santo no altar a “fulaninha” começou a melhorar. Foi um milagre.

Minha irmã quis então saber quem era esse santo tão poderoso e em uma tarde se deslocou até a casa da desesperada mãe para ver tal santo, afinal a pobre mulher estava eufórica com a repentina cura de menina.

Mas não deixava de entupir a criança de remédios.


Ao chegar a casa desta pobre mãe, essa a levou até o quarto da menina que tranquilamente dormia já quase curada.

Em um canto do quarto estava um altar, cheio de velas e contras de umbanda e pelo chão, várias imagens de santo, mas o que chamou a atenção de minha irmã, foi que sobre o altar, colado a parede estava a imagem do tal santo milagreiro que a infeliz mulher havia recortado de uma revista.

Minha irmã pasma viu colado sobre o altar nada mais nada menos que o santo que a mulher dizia ser o salvador de sua filha, o santo milagreiro.

Incrédula nada disse e deixou que a pobre e confiante mulher ficasse com sua crença.

O que tinha colado à parede era uma fotografia de Santos Dumont, o brasileiro inventor do avião em 1906.

                Deu um branco...
                             Vamos refletir...
                             Alberto Santos Dumont...

               Alberto Santos Dumont. O Santo Dumont

É assim que funciona.

As pessoas tem uma necessidade que está acima da razão, e no desespero apelam para tudo, e assim vão surgindo as seitas, as crendices e os “milagres” porque a vida é um verdadeiro -

“se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.

                             Neste caso a bichinha fica.

Pois se alguém se salvar foi um milagre, foi deus quem salvou e se morrer foi porque deus chamou.

Ou seja, não tem como escapar das crendices bobas.

E as pessoas piamente acreditam.




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