PS

PS

SEGUIDORES

quinta-feira, 16 de abril de 2015

A Estudante.


Havia no início dos anos setenta, uma jovem que morava na cidade de Canoas, onde trabalhava e que a noite estudava na PUC, em Porto Alegre.


Naquela época ainda não havia a linha de metrô de superfície que hoje liga Porto Alegre a Novo Hamburgo, portanto diariamente a jovem fazia este percurso de quase vinte quilômetros em duas linhas de ônibus.

Na volta da faculdade ela descia no hoje Largo Glênio Peres, em frente ao Mercado Público de Porto Alegre, e caminhava três quadras até a Praça Rui Barbosa para finalmente tomar o ônibus que a levaria de volta a Canoas.

A via de acesso entre as duas Praças era pela Rua Voluntários da Pátria, que apesar de sua péssima reputação era um lugar mais seguro e iluminado, por aonde a jovem rapidamente chegaria ao local de sua última etapa de todas as noites.

E diariamente, de segunda a sexta-feira a referida jovem, cansada, porém confiante fazia aquele extenuante trajeto em busca de sua formação superior o que lhe abriria portas para uma vida melhor.

A péssima reputação da Rua Voluntários da Pátria era a de ser nesta via um local onde se acotovelavam prostitutas em busca de seus clientes.


Havia inclusive em alguns prédios antigos, sobre lojas e bares que se espraiavam pela rua, diversos quartos e hoteizinhos baratos, para aonde as meninas de dita vida fácil levavam e atendiam a clientela.

Devido as constantes reclamações dos comerciantes quando em vez, por tratar-se de uma rua bem no centro da Capital a policia fazia alguma incursões e era uma correria, mas nada resultava de positivo. Tão logo a polícia passava as meretrizes voltavam para as esquinas.

Certa vez a Policia Civil e a Brigada Militar resolveram fazer uma grande operação para prender e identificar as prostitutas que por ali trabalhavam.

Por volta das 22 horas a Brigada Militar cercou o perímetro e a Policia Civil ia recolhendo em suas viaturas as prostitutas que pudessem prender.

Porém minutos antes do início da operação a jovenzinha estudante, cansada, vindo de sua aula na Faculdade desceu na antiga Praça XV e se dirigiu despreocupada pela Rua Voluntários da Pátria como fazia todas as noites para alcançar finalmente a Praça Rui Barbosa, para, após um dia exaustivo de trabalho e estudos, chegar em sua casa e ter o seu merecido descanso.

Antes mesmo de percorrer a primeira quadra da Rua Voluntários da Pátria viu vários viatura da Polícia Civil e caminhões e caminhonetes da Brigada Militar cercando a área, e como eram tempos de Ditadura a mesma não ligou que o objetivo das Policias era a de tirar das ruas as prostitutas que ali labutavam.

Correria em toda a extensão das primeiras duas quadras, momento em que um policial segurou-a pelo braço e a conduziu aos trambolhões para uma viatura, enjaulando-a.

Assustada nada pode dizer, e mais outras mulheres foram sendo amontoadas na mesma viatura policial.


Mais de uma hora depois a jovenzinha estudante estava dentro de um grande salão em uma delegacia na Avenida Ipiranga, prostituas e policiais civis falavam alto e uma a uma iam sendo identificadas, Boletins de Ocorrência eram lavrados e as “meninas” iam sendo conduzidas para as selas onde eram detidas para que no outro dia dessem continuidade nos casos.

Quase duas horas depois, ou seja, mais de três horas após ser detida, na presença de um Delegado a jovenzinha foi chamada aos gritos por um truculento policial, fê-la sentar em uma cadeira e começou a identificação.


Neste momento, perplexa e assustada a jovem disse que era estudante e estava voltando da Faculdade, instante em que abriu sua pasta e mostrou seus cadernos e livro, assim como sua identidade e carteira de estudante da PUC e Carteira de Trabalho.

Surpreso o Delegado convidou-a para ir até sua sala, onde após uma rápida conversa essa autoridade, condoído pela situação da estudante, pediu-lhe mil desculpas e para minimizar o ocorrido solicitou uma viatura oficial da Policia Civil para que conduzisse a jovem até sua residência em Canoas.

Passado o susto o difícil deve ter sido explicar porque chegara em casa, na madrugada conduzida por uma viatura da Policia Civil, que para ser rápida ainda foi com as sirenes acionadas.


Coisas da vida.


Nenhum comentário:

Postar um comentário