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quinta-feira, 19 de junho de 2014

Histórias, Contos e Causos – IV









Corria o ano de 1977, viajava juntamente com um de meus vendedores de nome Roberto Martins Leite, pelo Mato Grosso, e chegamos à cidade de Poconé, após um dia de muita estrada.




Poconé, cujos índios chamavam aquela região de Beripoconé, foi fundada em 1781, por Antônio José Pinto de Figueiredo, cuja ata de fundação traz o nome de Arraial de São Pedro d’El Rey, e somente em 1831 era criado o município com a denominação de Vila de Poconé.


Estabelecemo-nos em um antigo hotel, tão antigo que a chave do quarto, já que não haviam apartamentos, era de ferro, enorme e pesada.


Após um bom banho fomos os dois para uma sala, junto a um jardim ao lado esquerdo do corredor e ali, sentados começamos a saborear um belo chimarrão.

Após um bom tempo papeando entre um mate e outro, ouvimos passos firmes pelo corredor cujo piso era de madeira, e em instantes um grupo de três paulistas entrou naquela sala em rumo ao seu quarto.

Um dos paulistas, que parecia ser o líder do grupo, um homem de quase quarenta anos, magro e alto, parou subitamente, cumprimentou-nos e mostrando todo o seu desconhecimento dos hábitos dos tomadores de chimarrão, aproximou-se de Roberto, um mato-grossense do sul, e rapidamente tirou-lhe a cuia da mão, inclusive batendo com a bomba nos seus dentes superiores, bem no momento em que este sorvia o amargo.

Indignado e vermelho de raiva Roberto ficou chocado com aquela intempestiva atitude do paulista, mas eu discretamente o sinalizei para nada dizer nem fazer.

O paulista antes mesmo de colocar a bomba na boca disse que gostava muito de mate, e sorveu uma única ver aquela água que pelo tempo que estávamos tomando mate, já se encontrava morna.

Os outros dois paulistas, de botas de cano alto ficaram sorrindo e contemplando o estrupício.

Este, após ter dado apenas uma “chupada” no mate, entregou a cuia a Roberto, que continuava rubro de raiva.

Perguntei então ao paulista, já que ele gostava de chimarrão se eles aceitariam a tomar um mate na manhã seguinte, antes do café.

Os três sorrindo aceitaram de vereda.

Continuei conversando com Roberto enquanto os três iam-se para o seu quarto.

Disse então a Roberto, deixe comigo, que amanhã vou acordá-los cedo para um mate.

Passando a meia noite, momento em que já havia dormido um belo sono, ouvi passos e falas no corredor, eram os três paulistas chegando de algum surungo ou tasca.

Os meus pensamentos fizeram com que eu desse um sorriso maleva.

Naquela manhã, temprano acordei, era quando muito quatro horas. A noite ainda se fazia presente, e provavelmente a Boieira ainda estava no céu, espargindo brilho e beleza.

Levantai-me, acordei Roberto que dormia a sono solto e após a passagem obrigatória pelo bateclô, pedi a Roberto que fosse acordar os paulistas para estes tomarem chimarrão em nossa companhia.

Enquanto isto, dirigi-me a cozinha do hotel que já estava com o fogão caipira fumegando mais do que maria-fumaça, onde panelas de leite e chaleiras d’água já estavam sendo preparadas para o café dos hóspedes, que era servido a partir das seis horas.

Em uma chaleira pequena que me havia sido entregue pelo funcionário do hotel, botei água já quase fervida e deixei mais um pouco, para que a mesma quase chegasse ao ponto de fervura, já que os que são habituados a tomar mate sabem que a água não pode ferver para não queimar e tirar o gosto da erva.




Havia preparado um mate daqueles bem soltinhos, que o vivente não precisava nem chupar para a água folheirita verter no bocal da bamba.

Mas bah! Vai ser a coisa mais linda.

Dirigi-me então com a cuia na mão esquerda e o termo, com aquela água escaldante na mão direita, e sentei-me no mesmo lugar em que estava na tarde anterior.

O dia não havia clareado e já Roberto havia me dito que os três estavam se aprontando para a rodada de chimarrão.

KKKKK. É hoje que a égua vai sair bufando campo a fora.

Dito e feito.

Tão logo os três paulistas sonolentos chegaram àquela sala, cuja porta para o jardim estava aberta, o dia anunciava as primeiras luzes do Sol que nascia naquele belo recanto do Mato Grosso, em Poconé, a porta para o Pantanal, olhei para os três bandeirantes, os cumprimentei e calmamente servi o mate derramando suavemente a água pelo costado do cano da bomba, para deixa-la mais quente com aquela água linda de pelar porco.




Enchi a cuia e a passei diretamente para o estrupício que no dia anterior havia mostrado tanta falta de conhecimento quanto ao tomar mate.

O quera sem pestanejar, lembrando-se do mate que havia no dia anterior tomado um gole, meio frio, foi com vontade de deu um enorme chupão naquela bomba.




Com a boca cheia de água quase fervendo, queimando-lhe  a língua, esse paulista num repente passou a cuia para as mão de um de seus parceiros e saiu correndo, desesperado corredor a fora em direção a frente do hotel, seguramente para cuspir aquela brasa.

Os outros dois sem saber o que estava acontecendo ficaram com a cuia na mão indecisos sem saber o que fazer, mas por vergonha permaneceram sentados até que depois de muito e muito tempo aquele que com a cuia estava conseguiu aos poucos tomar aquele mate.

Entregou-me a cuia e com o outro pediram licença e saíram também do hotel apressaditos.

O estrupício com vergonha e talvez ódio, naquele dia, enquanto permanecemos no hotel, não voltou e nunca mais vi a lata daquele baiquara.

Orre tasca!

Deve estar até hoje tentando curar a queimadura na língua.




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