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segunda-feira, 7 de abril de 2014

História, Contos e Causos - II



O Trato.


Contavam os mais antigos, que certa feita um grupo de Gaúchos conversava em um bolicho de campanha, sobre histórias horripilantes que envolviam um velho carreteiro, chamado Aderbal, que havia batido as botas há muito tempo, mas que andava por aí assustando os vivos.




Dizia que tal e pobre homem nas noites de lua-cheia saía de seu túmulo e caminhava por entre as sepulturas do velho cemitério no alto de uma coxilha e gostava de assustar os que por ventura se aproximassem do campo santo.


Ponciano, um taura metido a facão-sem-cabo, que já havia tomada várias doses de buena cachaça de Santo Antônio, deu um forte simbronaço com a mão canhota espalmada sobre o balcão de tábua do bolicho e foi dizendo sem meias palavras:


- Não acredito nessas bobagens. Isto é história de algum maula que se assustou com alguma coruja, ou mesmo com algum gato-do-mato, e mijado de medo inventou essa lorota.


- Mas che! – falou o velho Matoso – Tem gente mui macanuda que disse ter visto o Aderbal em noites de lua-cheia, bem a meia-noite andando pelo cemitério.


- Não acredito – Respondeu Ponciano dizendo – Vou provar para vocês que isto não passa de bobagem.




O grupo meio desorientado ouviu o velho amigo Ponciano dizer que na primeira noite de lua-cheia, exatamente a meia-noite, entraria no cemitério e iria até a sepultura de Aderbal, e ficaria ali esperando pela alma penada, mas para se garantir iria levar sua adaga com a qual retalharia a aparição.


Todos riram, mas o velho e atilado senhor Matoso disse do alto de usa sapiência de índio matreiro.


- Bueno! Se vais nós não ficaremos sabendo, pois nenhum de nós irá até o cemitério para provar que lá estivestes, porém vou providenciar uma estaca, que será por nós marcada, e no outro dia, depois de clarear o dia iremos até lá para ver se tu esteves lá ou não.


Pois podem providenciar, e que seja uma estaca de bom camboím, que é dura e resistente.


Dito e feito.


No outro dia chegou ao bolicho o velho Matoso carregando uma bela estaca de um cinquenta centímetros, a qual todos do grupo escreveram os seus nomes.



E era noite de lua-cheia. E ali no bolicho o grupo de amigos bebeu cachaça até perto da meia-noite.


Entregaram a estaca a Ponciano e disseram:


- Buenas! Agora é a tua vez de cumprir o trato.


E lá se foi o taura Ponciano enroladito em seu longo poncho.

A menos de cem metros do bolicho, todos estavam à porta, não viram mais a figura do amigo tão destemido.


Era noite mui escura,  e aquela escuridão engoliu o taura melenudo, com seu vasto mustache negro que caía pelo canto da boca até o queixo.


Ponciano resoluto entrou no cemitério e nem te ligo para os maulas que ficaram no bolicho, e foi direto para a sepultura do carreteiro Aderbal.


Identificada a cova do falecido, Ponciano se acocorou e batendo com uma pedra enterrou bem a estaca no local determinado.


Ao levantar-se alguém segurou firmemente o seu poncho.


O Susto foi tão grande que Ponciano nada mais viu.


No dia seguinte os amigos, protegidos pelos raios do Sol foram até o Cemitério, não só para ver a estaca, como porque ficaram intrigados, pois o amigo Ponciano não voltara para o bolicho.




Ao chegarem perto da sepultura de Aderbal viram de longe o amigo Ponciano deitado sobre a sepultura e correram para saber o que estava acontecendo.


Ponciano estava morto.


Ao enterrar a estaca na cova de Aderbal, naquela noite escura como breu, o pobre Ponciano espetara junto o seu poncho e ao levantar-se sentiu como se alguém houvesse puxado o seu poncho. O susto foi tão grande que o mesmo teve um infarto fulminante.


 

2 comentários:

  1. Buenaço!!! Mas acho que foi o outro que lhe deu um tirão! Só pra não se meter a besta...
    Abraços. Ana

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  2. Olá Ana.
    Gracias pela visita e comentário, pero o acaso é o pai de muitas crendices. Certa feita, quando ainda morava na cidade de Dourados no Mato Grosso do Sul, em uma noite que uma tempestade se formava, deitei-me por volta das 23 horas, luzes apagadas e fiquei pensando no filme "O Exorcista", nesse exato momento um forte vento soprou inesperadamente fazendo com que uma tampa de amianto de uma caixa d'água voasse e caísse sobre o telhado de minha casa, dando-me enorme susto.
    Assim surgem as lendas.
    Grande e respeitoso abraço.

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