Antes de iniciar esse
“causo” vamos ver o que quer dizer causo.
Los Gauchos de la Campaña
dizem que uma determinada história é um “causo” e não um caso. Na verdade causo
é o mesmo que caso em gauchês, faz parte do folclore, da maneira diferente do
Gaúcho charlar.
Portanto aqueles que acham
que eu esteja escrevendo errado se equivocam de agusero.
Mas vamos ao causo.
As Almas
Nas cidades da Campanha
quando o Minuano sopra é coisa mui feia. Assovia nas frestas dos ranchos e até
os cuscos se recolhem para os galpões, rengos de frio.
A noite cobrira toda a
região e uma névoa densa repentinamente tomara conta de toda a cidadezinha de casas baixas ao
estilo português. Quatro ou cinco eram do estilo espanhol, as famosas casas
conhecidas como cachorro sentado.
Numa delas morava uma viúva
e seu filho de uns 16 anos, quando muito, que bem recomendado não abria um
postigo de janela a partir das 22 horas, na época do Minuano.
Haviam muitas histórias de
assombrações que rondavam aquela cidade esquecida no pago e no tempo.
Essas histórias eram sobre
assombrações que em determinadas sextas-feiras reuniam-se em procissão a meia noite em ponto e se dirigiam a capelinha
minúscula do local.
O menino dormia em seu
quartinho quando foi acordado por uma cantoria que vinha da rua.
E como a curiosidade é maior
que a sensatez o piá, contrariando os conselhos da mãe foi até a janela da
frente e abriu uma fresta no postigo para ver o que estava acontecendo.
Viu então um grande cortejo de
seres desfigurados passando em frente a sua casa. E ali no escuro ficou
observando por aquela fresta.
Quando o cortejo estava já
terminando, uma daquelas figuras espectrais caminhou em direção à janela e
antes que o menino pudesse fechar o postigo ouviu aquela cadavérica forma lhe
dizer:
- Sexta-feira próxima viemos
te buscar.
Aterrorizado, tremendo como
vara verde o guri ficou atônito, mais quieto que piá mijado em porta de rancho.
Ao clarear do dia, não
aguentando o pavor, o jovenzinho resolveu contar para a sua mãe o que
acontecera.
A mãe apavorada não sabia o
que fazer, apenas lembrava o filho de suas recomendações e lhe dizia que muitas
pessoas haviam sido realmente levadas pelas almas.
Antes do meio-dia a mulher
resolveu ir até a casa de uma negra batuqueira que tinha um terreiro de
umbanda no fim da rua.
Ao chegar lá relatou o causo
para a negra que de tão velha já havia branqueado a carapinha.
A negra, pitando um charuto
disse a mãe do menino, enquanto coçava uma verruga no queixo, que as almas
viriam e levariam o seu filho para o outro mundo. Pois as almas quando prometem
cumprem o prometido.
Porém havia uma maneira de
quebrar esse encanto.
A mãe deveria arrumar com
alguém uma criança recém-nascida, e que o seu filho deveria ficar com essa no
colo a meia-noite marcada, junto à janela e quando as almas voltassem a sua
casa, entes de se dirigirem ao jovem, a criança deveria chorar. Só assim seria
o menino liberto daquela maldição.
A mãe, mulher honesta e mui
conhecida, conseguiu com uma amiga que morava do outro lado da cidade, que há
três ou quatro dias havia parido uma bela e rosada menininha, que lha emprestasse.
Chorando a mãe implorou que tal criança lhe
fosse emprestada para desfazer esse encanto.
Meio a contra gosto a amiga
concordou em ajudar e ambas foram novamente falar com a negra batuqueira que
lhes entregou algumas ervas para que fizessem um banho na menina antes da
aparição das almas.
Na sexta-feira marcada o
menino solito em casa com a menininha ao colo esperou junto à janela que o
cortejo saísse às ruas e viesse para lhe buscar.
As duas mães procuraram proteção na casa da negra velha que entre fumaredas e batuques evocava seus orixás.
Dito e feito. Pontualmente a
meia-noite começou a cantoria e começaram as
almas a se reunirem em procissão.
Quando se aproximavam da
casa o jovem sacudiu a menina para que essa começasse a chorar. Mas não
adiantou. A menininha continuava em seu soninho profundo.
Quando a procissão das almas
já estava quase chegando à porta da casa, o menino desesperado deu uma palmada
na menininha, e esta assustada começou a chorar.
A mesma aparição que havia
com o menino falado na semana anterior parou, olhou para o bebezinho e disse
que aquele serzinho com seu choro havia alegrado as almas e essas iriam embora
sem o levar.
Aliviado o menino chorou
muito e nunca mais desobedeceu as recomendações de sua mãe.
Assunto muito explorado nos causos regionais em todo o nosso pais, onde se mostra de maneira bem cotidiana as crenças que formaram o folclore e a fé de nosso povo. Gostei do estilo provocante da história.]
ResponderExcluirCaríssimo Celso Humaytá, me quedei feliz e honrado com teu comentário e de listo te digo que as coisas que cá escrevo são para que não caiam no esquecimento, pois como sabes pertencemos a um pueblo de curta memória.
ExcluirDesejo ao caro Humaytá muita saúde e paz e que continue a comentar neste espaço.