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segunda-feira, 21 de abril de 2014

Histórias, Contos e Causos - III




Antes de iniciar esse “causo” vamos ver o que quer dizer causo.


Los Gauchos de la Campaña dizem que uma determinada história é um “causo” e não um caso. Na verdade causo é o mesmo que caso em gauchês, faz parte do folclore, da maneira diferente do Gaúcho charlar.


Portanto aqueles que acham que eu esteja escrevendo errado se equivocam de agusero.


Mas vamos ao causo.




As Almas

Nas cidades da Campanha quando o Minuano sopra é coisa mui feia. Assovia nas frestas dos ranchos e até os cuscos se recolhem para os galpões, rengos de frio.

A noite cobrira toda a região e uma névoa densa repentinamente tomara conta de toda a cidadezinha de casas baixas ao estilo português. Quatro ou cinco eram do estilo espanhol, as famosas casas conhecidas como cachorro sentado.

Numa delas morava uma viúva e seu filho de uns 16 anos, quando muito, que bem recomendado não abria um postigo de janela a partir das 22 horas, na época do Minuano.




Haviam muitas histórias de assombrações que rondavam aquela cidade esquecida no pago e no tempo.

Essas histórias eram sobre assombrações que em determinadas sextas-feiras reuniam-se em procissão  a meia noite em ponto e se dirigiam a capelinha minúscula do local.

O menino dormia em seu quartinho quando foi acordado por uma cantoria que vinha da rua.

E como a curiosidade é maior que a sensatez o piá, contrariando os conselhos da mãe foi até a janela da frente e abriu uma fresta no postigo para ver o que estava acontecendo.




Viu então um grande cortejo de seres desfigurados passando em frente a sua casa. E ali no escuro ficou observando por aquela fresta.

Quando o cortejo estava já terminando, uma daquelas figuras espectrais caminhou em direção à janela e antes que o menino pudesse fechar o postigo ouviu aquela cadavérica forma lhe dizer:

- Sexta-feira próxima viemos te buscar.

Aterrorizado, tremendo como vara verde o guri ficou atônito, mais quieto que piá mijado em porta de rancho.

Ao clarear do dia, não aguentando o pavor, o jovenzinho resolveu contar para a sua mãe o que acontecera.

A mãe apavorada não sabia o que fazer, apenas lembrava o filho de suas recomendações e lhe dizia que muitas pessoas haviam sido realmente levadas pelas almas.




Antes do meio-dia a mulher resolveu ir até a casa de uma negra batuqueira que tinha um terreiro de umbanda no fim da rua.

Ao chegar lá relatou o causo para a negra que de tão velha já havia branqueado a carapinha.

A negra, pitando um charuto disse a mãe do menino, enquanto coçava uma verruga no queixo, que as almas viriam e levariam o seu filho para o outro mundo. Pois as almas quando prometem cumprem o prometido.


Porém havia uma maneira de quebrar esse encanto.

A mãe deveria arrumar com alguém uma criança recém-nascida, e que o seu filho deveria ficar com essa no colo a meia-noite marcada, junto à janela e quando as almas voltassem a sua casa, entes de se dirigirem ao jovem, a criança deveria chorar. Só assim seria o menino liberto daquela maldição.

A mãe, mulher honesta e mui conhecida, conseguiu com uma amiga que morava do outro lado da cidade, que há três ou quatro dias havia parido uma bela e rosada menininha, que lha emprestasse.

Chorando a mãe implorou que tal criança lhe fosse emprestada para desfazer esse encanto.

Meio a contra gosto a amiga concordou em ajudar e ambas foram novamente falar com a negra batuqueira que lhes entregou algumas ervas para que fizessem um banho na menina antes da aparição das almas.

Na sexta-feira marcada o menino solito em casa com a menininha ao colo esperou junto à janela que o cortejo saísse  às ruas e viesse para lhe buscar.

As duas mães procuraram proteção na casa da negra velha que entre fumaredas e batuques evocava seus orixás. 




Dito e feito. Pontualmente a meia-noite começou a cantoria e  começaram  as almas a se reunirem em procissão.

Quando se aproximavam da casa o jovem sacudiu a menina para que essa começasse a chorar. Mas não adiantou. A menininha continuava em seu soninho profundo.

Quando a procissão das almas já estava quase chegando à porta da casa, o menino desesperado deu uma palmada na menininha, e esta assustada começou a chorar.




A mesma aparição que havia com o menino falado na semana anterior parou, olhou para o bebezinho e disse que aquele serzinho com seu choro havia alegrado as almas e essas iriam embora sem o levar.

Aliviado o menino chorou muito e nunca mais desobedeceu as recomendações de sua mãe.

2 comentários:

  1. Assunto muito explorado nos causos regionais em todo o nosso pais, onde se mostra de maneira bem cotidiana as crenças que formaram o folclore e a fé de nosso povo. Gostei do estilo provocante da história.]

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    1. Caríssimo Celso Humaytá, me quedei feliz e honrado com teu comentário e de listo te digo que as coisas que cá escrevo são para que não caiam no esquecimento, pois como sabes pertencemos a um pueblo de curta memória.
      Desejo ao caro Humaytá muita saúde e paz e que continue a comentar neste espaço.

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