Houve uma época, coisa de
guri meio burro, que não sabe dos malefícios que o maldito cigarro faz ao
organismo, fumava, mais por charme do que por vício, coisa meio idiota.
Havia há pouco sido
promovido à primeira graduação no Exército, e andava mais metido do que
Tenente novo.
No Regimento em que servia
apareceram dois paisanos na Indústria de Armas Beretta, vendendo para Oficiais
e Graduados, belas pistolas.
Decidi então comprar uma
pistola niquelada com o cabo de madrepérola. No outro dia conversando com um,
na época Terceiro Sargento que trabalhava na mesma Seção, resolvemos trocar as
armas, já que ele havia comprado uma com o cano mais longo porém toda preta.
Fizemos a troca sem muito
xaraxaxá, notas devidamente trocadas e assinadas e tudo bem.
Como eram tempos de ditadura
e não se precisava de registro nem porte, muitos militares andavam sempre
armado, e eu saía sempre com o ferro na cintura, por baixo da túnica.
Há pouco tempo havia entrado
em vigor a proibição de fumar dentro dos ônibus urbanos.
(Pausa). Era um horror, aquele povo meio bacudo
fumando despregadamente dentro dos transportes coletivos e ninguém ligava se a
seu lado estivesse uma senhora grávida ou qualquer outra pessoa. E era aquela
fumaceira dentro dos coletivos. Êta grossura
Uma tarde saí do Regimento
mais cedo, pois passaria no Quartel General onde pegaria a assinatura do
Excelentíssimo Senhor General Comandante daquela Infantaria em uma guia para me
afastar da guarnição no fim-de-semana. Se não me falha as catracas da moringa
era o educadíssimo, gentil e competente General Flaris.
Antigo Quartel General.
Embarquei num ônibus da
Empresa Turf, que fazia a linha Fragata-Centro, em Pelotas e haviam vários
assentos disponíveis. Assentei-me no primeiro banco, ao lado da porta dianteira
bem próximo do motorista.
Acima havia uma grande placa
avisando – Proibido Falar com o Motorista e outra menor onde se lia Proibido
Fumar.
Porém junto ao motorista,
aos degraus desta porta ia um cidadão em pé, no maior bate-papo com o condutor.
Falavam alto e riam, mais a vontade do que Padre em casa de carola.
Como ninguém reclamava eu
resolvi então testar os nervos do motorista e dos passageiros.
Peguei um pito, coloquei nos
beiços e com um antigo isqueiro de fluido o acendi e de vereda soltei aquela
baforada que empesteou todo o ônibus.
De vereda o incauto
cobrador, em sua cadeirinha lá no fundo do coletivo, junto à porta traseira
resolveu estrilar.
Mas o fez mais sestroso do
que gato de cozinha de quartel, dizendo.
- Por favor, militar, é
proibido fumar dentro do ônibus.
Levantei-me calmamente,
aprumando a pistola na cintura, enquanto o povo, assim como o motorista e o conversador
paravam de prosear e também me observavam. Então perguntei ao cobrado se
existia algum aviso dentro do coletivo sobre tal proibição.
O cobrador sem pestanejar
foi logo dizendo:
- Mas ali está a placa
avisando que é proibido fumar.
Aí eu mais empinado do que
Cadete lhe disse de relancina:
- Mas tche! Ali também tem
uma placa de Proibido Falar com o Motorista , e ele não a respeita e vem trovando
com esse passageiro.
Bueno! O Motorista enfiou a
cara no saco; o alcaide que ia com ele charlando foi logo procurando um
lugarzinho para se aboletar, o cobrador ficou sem nenhuma reação, com cara de
guri mijado em porta de rancho enquanto que os demais passageiros riam e
aprovavam minha atitude.
Joguei fora o cigarro, olhei
a todos seriamente e voltei a me acomodar em meu assento, e o maior silêncio se
estabeleceu naquela condução, que seguiu sem incidentes até o centro da
Princesa do Sul, cujo ponto final ficava ente o Mercado Público e a Prefeitura.
Nos dedos, mas tapado de
nojo.
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