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domingo, 13 de abril de 2014

É Proibido Fumar





Houve uma época, coisa de guri meio burro, que não sabe dos malefícios que o maldito cigarro faz ao organismo, fumava, mais por charme do que por vício, coisa meio idiota.


Havia há pouco sido promovido à primeira graduação no Exército, e andava mais metido do que Tenente novo.


No Regimento em que servia apareceram dois paisanos na Indústria de Armas Beretta, vendendo para Oficiais e Graduados, belas pistolas.




Decidi então comprar uma pistola niquelada com o cabo de madrepérola. No outro dia conversando com um, na época Terceiro Sargento que trabalhava na mesma Seção, resolvemos trocar as armas, já que ele havia comprado uma com o cano mais longo porém toda preta.


Fizemos a troca sem muito xaraxaxá, notas devidamente trocadas e assinadas e tudo bem.


Como eram tempos de ditadura e não se precisava de registro nem porte, muitos militares andavam sempre armado, e eu saía sempre com o ferro na cintura, por baixo da túnica.


Há pouco tempo havia entrado em vigor a proibição de fumar dentro dos ônibus urbanos.




(Pausa).  Era um horror, aquele povo meio bacudo fumando despregadamente dentro dos transportes coletivos e ninguém ligava se a seu lado estivesse uma senhora grávida ou qualquer outra pessoa. E era aquela fumaceira dentro dos coletivos. Êta grossura


Uma tarde saí do Regimento mais cedo, pois passaria no Quartel General onde pegaria a assinatura do Excelentíssimo Senhor General Comandante daquela Infantaria em uma guia para me afastar da guarnição no fim-de-semana. Se não me falha as catracas da moringa era o educadíssimo, gentil e competente General Flaris.



                    Antigo Quartel General.

Embarquei num ônibus da Empresa Turf, que fazia a linha Fragata-Centro, em Pelotas e haviam vários assentos disponíveis. Assentei-me no primeiro banco, ao lado da porta dianteira bem próximo do motorista.


Acima havia uma grande placa avisando – Proibido Falar com o Motorista e outra menor onde se lia Proibido Fumar.


Porém junto ao motorista, aos degraus desta porta ia um cidadão em pé, no maior bate-papo com o condutor. Falavam alto e riam, mais a vontade do que Padre em casa de carola.


Como ninguém reclamava eu resolvi então testar os nervos do motorista e dos passageiros.


Peguei um pito, coloquei nos beiços e com um antigo isqueiro de fluido o acendi e de vereda soltei aquela baforada que empesteou todo o ônibus.


De vereda o incauto cobrador, em sua cadeirinha lá no fundo do coletivo, junto à porta traseira resolveu estrilar.


Mas o fez mais sestroso do que gato de cozinha de quartel, dizendo.


- Por favor, militar, é proibido fumar dentro do ônibus.


Levantei-me calmamente, aprumando a pistola na cintura, enquanto o povo, assim como o motorista e o conversador paravam de prosear e também me observavam. Então perguntei ao cobrado se existia algum aviso dentro do coletivo sobre tal proibição.


O cobrador sem pestanejar foi logo dizendo:


- Mas ali está a placa avisando que é proibido fumar.


Aí eu mais empinado do que Cadete lhe disse de relancina:


- Mas tche! Ali também tem uma placa de Proibido Falar com o Motorista , e ele não a respeita e vem trovando com esse passageiro.


Bueno! O Motorista enfiou a cara no saco; o alcaide que ia com ele charlando foi logo procurando um lugarzinho para se aboletar, o cobrador ficou sem nenhuma reação, com cara de guri mijado em porta de rancho enquanto que os demais passageiros riam e aprovavam minha atitude.





Joguei fora o cigarro, olhei a todos seriamente e voltei a me acomodar em meu assento, e o maior silêncio se estabeleceu naquela condução, que seguiu sem incidentes até o centro da Princesa do Sul, cujo ponto final ficava ente o Mercado Público e a Prefeitura.





Nos dedos, mas tapado de nojo.







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