No
tempo de adolescência tudo é bonito e motivo para risos despregados e conflitos
e do “ninguém me entende”.
Começávamos
a ter nossos primeiros encontros com as guarias, na saída do colégio, no footing
da Praça Coronel Pedro Osório ou nos cinemas Capitólio, Guarani, Sete de Abril
e bem mais tarde no Cine Rádio Pelotense.
E
lá estávamos nós de terninho azul marinho de tergal, gravata discreta e camisa
alvíssima, no aguardo das supimpas meninas com seus vestidos rodados, casaquinho
de banlon, sapatinhos maria-mole e carpins brancos, algumas até de luvas
rendadas e laço nos cabelos.
Assistíamos
ao filme e depois íamos comer algumas guloseimas na confeitaria Almeida e tomar
uma gasosa da Telma ou uma garrafa de Crush. A maioria nem fazia isso, pois só
tinha dinheiro para as entradas do cinema.
Durante
a semana o encontro era no colégio onde elas, em seus uniformes de saia
azul-marinho plissada, blusa branca, tope de tafetá azul fechando a gola,
sapatinhos preto e meias brancas, abraçadas em seu arquivo e livros, não só
para melhor carregá-los como e principalmente para esconder com vergonha e
delicadeza os seus seios ainda em desenvolvimento.
E
nós, os guris, de calça azul-marinho, camisa branca e gravata e sapatos pretos
e carpins brancos, caneta-tinteiro no bolso, ficávamos com o coração disparado ao vê-las e muitas vezes
não sabíamos nem o que dizer. Muitos desses encontros geralmente eram
silenciosos onde somente o olhar vigorava, risinhos simplórios e monossílabos.
Já
aos fins de semana, no footing da praça, lá estávamos com os cabelos brilhando
de tanta brilhantina Glostora, calças de brim coringa ou nycron, camisa volta
ao mundo, mas ainda não se usavam os guids nem camisetas, era uma coisa não
social reservado apenas para atividades esportivas, fora disto era vergonhoso
usar.
As
meninas comportadas com saias godês, blusas e cinturita, sapatinhos baixos, e
ainda sob as vestes usavam anáguas e corpinho, os quais não podiam aparecer.
Poucas
eram as gurias mais modernas que usavam slack, e as saias eram bem abaixo do
joelho, que se por acaso aparecessem em algum movimento mais brusco era a festa
para a rapaziada que passava dias sem tirar aqueles joelhos de seus pensamentos,
principalmente na hora do banho.
Os
rapazes sonhavam com os motociclos que viam nos primeiros filmes, onde uma
juventude transviada assombrava as elites mais conservadoras, ou sonhavam com
as velozes baratinhas de corrida.
Tudo era muito simplório, onde muitas palavras
eram vergonhosas de se dizer ou ouvir como, por exemplo, “coxa”.
Hoje as
primeiras palavras do vocabulário infantil deixariam os próprios jovens
transviados dos anos 50 rubros de vergonha.
Alguns
rapazotes, vestidos de blazers ou suéter iam para o cinema com suas
namoradinhas que usavam vestidos rodados e saias de armação, lindas e
maravilhosas.
Alguns
mais ousados ao caminhar ao lado da namorada faziam movimentos mais longos com
os braços, para com sua a ponta de seus dedos tocar levemente no braço da
menina, não havia esse “esfrega-esfrega” de hoje. Eram tempos de respeito, pois
todos achavam feio certas atitudes como, por exemplo, falar alto.
Vez
em quando havia um baile familiar, com musicas de long-play em modernas
eletrolas, onde as meninas e meninos dançavam respeitosamente sob o olhar
vigilante de suas mães, porém hoje elas, a partir dos 12 anos vão para os
bailes funk e tem relações sexuais em público com dez ou mais “amigos” ou
estranhos, pois os pais perderam totalmente a moral e o controle sobre os
filhos.
Saudades
dos tempos da brilhantina.
Saudades,
não pelo “purismo”, mas, pelas coisas tão simples que deixavam a gurizada
feliz, pois mesmo muitos andando mal vestidos, com rotos sapatos eram incapazes
de roubar, de agredir e de matar. Hoje se faz isso para roubar um tênis.
Saudades
de um tempo que se foi como as águas de um rio, águas que jamais voltarão, pois
sabiamente diziam os filósofos gregos “o rio nunca é o mesmo”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário