Hoje, bem cedo, antes das 4
horas da matina levantei-me fui para a cozinha fazer meu desjejum, e enquanto a
água aquecia para o café fui até meu escritório e liguei esse vício diário que
é o computador.
Voltei para a cozinha,
preparei meu café, com pão francês e patê de fígado de galinha que eu mesmo
faço. Delícia. E após alimentar-me fui direto navegar na Internet.
Após ler algumas coisas fui
fazer uma visita ao belíssimo blogue Pelotas Capital Cultural, do caríssimo
doutor Francisco Antônio Vidal, onde li um formidável texto do Sr. Rubens
Amador sobre os filmes do herói Tarzan.
Pelotas, Capital Cultural
pelotascultural.blogspot.com/
Lembrei-me então, de duas coisas ocorridas
dentro de dois Cinemas de minha cidade natal Pelotas, onde a primeira eu estava
presente e a segunda além de estar presente, fui o protagonista.
O primeiro caso que conto
foi simplesmente uma prova da cultura do povo da minha terra natal.
Fins dos anos 60 ou início
dos 70.
Local. Cine Capitólio. (não mostro foto por estar descaracterizado)
Sessão das 20 horas, de um
domingo.
Filme. Infelizmente não
consigo lembrar o nome.
Fato. O filme foi uma
verdadeira obra de arte cinematográfica, cheio de cenas maravilhosas e de um enredo
de fazer o silêncio estabelecer-se majestoso dentro da sala de exibições, onde
não se ouvia nada além dos sons e vozes do próprio filme.
Todos embevecidos assistiam cristalizados
cada momento daquele espetáculo.
A terminar a sessão, quando
na tela apareceu o THE END e as luzes acenderam os espectadores em pé
explodiram em ruidoso aplauso.
Foi uma coisa marcante que
mesmo também ter aplaudido com entusiasmo fiquei atônito, pois jamais havia
presenciado uma demonstração de agrado tamanha.
Isto mostra a cultura do
povo de minha querida Pelotas.
O segundo caso não foi nada
legal, e aconteceu dentro do majestoso, grandioso, histórico e belíssimo Cine Teatro
Guarany, dito ser o maior Cine Teatro do mundo.
Ano 1970.
Sessão, também das 20 horas,
de um sábado.
Belíssimo filme policial.
Não me perguntem o nome do filme. Assisti tantos e tantos filmes em minha vida,
que em determinada época comecei a anotar em um caderno o nome do filme e seus principais
atores, depois o perdi e com ele foram todos os títulos.
Em minha adolescência e
juventude vivia dentro dos cinemas, e assistia às sessões de sábado, domingo,
quarta-feira, e às vezes na sexta-feira ou outro dia qualquer em cinemas
diferentes para assistir o que estava em cartaz.
Houve um sábado que assisti à
sessão das 20 horas no Cine Teatro Sete de Abril e às 22 horas no Cine
Capitólio. Ou ia à sessão das 20 horas no Guarany e às 22 horas no Capitólio.
Lembrando que nesta época
Pelotas contava com maravilhosos cinemas, onde o público acorria e formava
imensas “bichas” (*) para assistir filmes, já que televisão era coisa precária e a
esmagadora maioria não possuíam um aparelho. Hoje se tem um aparelho por peça
da casa.
Mas Pelotas tinha cinemas
para todos os lados, O Cine Teatro Guarani, Cine Capitólio, Cine Teatro Sete de
Abril, Cine Rádio Pelotense, Cine Tabajara, Cine Apolo, Cine Avenida, o São
Rafael, O Cine Fragata, que ruiu na manhã de Natal do ano de 1954 ou 55. Ruiu
antes de abrir para a sessão das 10 horas, porém a parte onde estavam os funcionários
permaneceu em pé, e o Cine Esmeralda, lá do Areal.
Mas voltando ao caso do
Guarany, ao fato “horrorível”.(**)
O Cinema estava lotadíssimo
e mal começou o espetáculo um cidadão sentado logo atrás de mim começou a falar
coisas desconexas, em voz baixa.
Não demorou muito começou a
incomodar os que estavam ao seu lado, notei então que o referido homem estava
bêbado.
Algumas pessoas reclamavam,
outras mudaram de lugar, o que estava difícil de encontrar e finalmente o homem
caiu para frente batendo sua testa em minha cabeça e rindo do nada.
Foi a gota d’água.
Gritei a todos os pulmões.
- Parem o filme.
Luzes foram acesas e ali
estava eu em pé, fardado com a verde-oliva do Exército, sob os olhares do
público.
Lanterninhas e funcionários
correram em minha direção para saber o que estava acontecendo.
Virei-me para o porteiro do
cinema, que havia corrido até onde eu estava, um senhor velho e meio gordo de cabelos aloirados, funcionário que desde a
época que eu era um mandinho de 9 anos ele ficava em seu traje azul, camisa
branca e gravata preta, à porta do cinema recebendo os ingressos e fiscalizando
os trajes.
Detalhe. Os homens maiores
de 12 anos só podiam entrar no cinema de gravata no pescoço e não adiantava chorar, se não estivesse de gravata não entrava. Era imperioso esse
costume, que permaneceu até o início dos anos 70.
Imediatamente mandei com
rompante, e com o timbre de voz militar, alto e aberto que retirassem o
indivíduo da sala, o que foi feito por dois funcionários enquanto o porteiro se
desculpava cheio de mesuras.
Sentei-me. Acalmei-me e
assisti o resto do filme sob os olhares de aprovação dos que estavam naquele
setor.
Não por este motivo, mas a
partir daí comecei a ir menos ao cinema. Hoje rarissimamente vou, e isto que o
Shopping Canoas com 10 ou 11 salas de cinema fica a cinco quadras de onde eu
moro.
Pra finalizar eu deveria
constar do Guinness Book, por ter assistido mais vezes um mesmo filme. Assisti
no cinema e na televisão ao longo de mais de quarenta anos o filme “El Dorado”,
por 84 vezes e lembro até hoje o nome do personagens e principalmente do cavalo do mocinho, o Cochise.
Guardo até hoje o nome do
cavalo, porque foi a forma nojenta e racista dos americanos demonstrarem todo o
seu ódio e desprezo aos índios, pois Cochise foi um dos mais afamados Apaches
que lutou contra a tomada de suas terras pelos ianques no Século XIX.
(*) Bichas: Em Portugal o termo bicha significa fila, e como Pelotas foi de uma intensa colonização portuguesa, onde essa cultura ficou impregnada, usa-se ainda esse termo. Tanto está Pelotas impregnada da cultura portuguesa que até os doces de Pelotas, os melhores do mundo são de origem portuguesa. Maravilhosos doces.
(**) Horrorível: não existe essa palavra, mas é legal e deveria ser dicionarizada.
Fui.
Tapado de recordações.
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