PS

PS

SEGUIDORES

sexta-feira, 5 de junho de 2015

No Escurinho do Cinema.

Hoje, bem cedo, antes das 4 horas da matina levantei-me fui para a cozinha fazer meu desjejum, e enquanto a água aquecia para o café fui até meu escritório e liguei esse vício diário que é o computador.

Voltei para a cozinha, preparei meu café, com pão francês e patê de fígado de galinha que eu mesmo faço. Delícia. E após alimentar-me fui direto navegar na Internet.

Após ler algumas coisas fui fazer uma visita ao belíssimo blogue Pelotas Capital Cultural, do caríssimo doutor Francisco Antônio Vidal, onde li um formidável texto do Sr. Rubens Amador sobre os filmes do herói Tarzan.

Pelotas, Capital Cultural

pelotascultural.blogspot.com/

Lembrei-me então, de duas coisas ocorridas dentro de dois Cinemas de minha cidade natal Pelotas, onde a primeira eu estava presente e a segunda além de estar presente, fui o protagonista.

O primeiro caso que conto foi simplesmente uma prova da cultura do povo da minha terra natal.

Fins dos anos 60 ou início dos 70.

Local. Cine Capitólio. (não mostro foto por estar descaracterizado)

Sessão das 20 horas, de um domingo.

Filme. Infelizmente não consigo lembrar o nome.

Fato. O filme foi uma verdadeira obra de arte cinematográfica, cheio de cenas maravilhosas e de um enredo de fazer o silêncio estabelecer-se majestoso dentro da sala de exibições, onde não se ouvia nada além dos sons e vozes do próprio filme.

Todos embevecidos assistiam cristalizados cada momento daquele espetáculo.

A terminar a sessão, quando na tela apareceu o THE END e as luzes acenderam os espectadores em pé explodiram em ruidoso aplauso.

Foi uma coisa marcante que mesmo também ter aplaudido com entusiasmo fiquei atônito, pois jamais havia presenciado uma demonstração de agrado tamanha.

Isto mostra a cultura do povo de minha querida Pelotas.


O segundo caso não foi nada legal, e aconteceu dentro do majestoso, grandioso, histórico e belíssimo Cine Teatro Guarany, dito ser o maior Cine Teatro do mundo.

Ano 1970.

Sessão, também das 20 horas, de um sábado.

Belíssimo filme policial. Não me perguntem o nome do filme. Assisti tantos e tantos filmes em minha vida, que em determinada época comecei a anotar em um caderno o nome do filme e seus principais atores, depois o perdi e com ele foram todos os títulos.

Em minha adolescência e juventude vivia dentro dos cinemas, e assistia às sessões de sábado, domingo, quarta-feira, e às vezes na sexta-feira ou outro dia qualquer em cinemas diferentes para assistir o que estava em cartaz.

Houve um sábado que assisti à sessão das 20 horas no Cine Teatro Sete de Abril e às 22 horas no Cine Capitólio. Ou ia à sessão das 20 horas no Guarany e às 22 horas no Capitólio.

Lembrando que nesta época Pelotas contava com maravilhosos cinemas, onde o público acorria e formava imensas “bichas” (*) para assistir filmes, já que televisão era coisa precária e a esmagadora maioria não possuíam um aparelho. Hoje se tem um aparelho por peça da casa.


Mas Pelotas tinha cinemas para todos os lados, O Cine Teatro Guarani, Cine Capitólio, Cine Teatro Sete de Abril, Cine Rádio Pelotense, Cine Tabajara, Cine Apolo, Cine Avenida, o São Rafael, O Cine Fragata, que ruiu na manhã de Natal do ano de 1954 ou 55. Ruiu antes de abrir para a sessão das 10 horas, porém a parte onde estavam os funcionários permaneceu em pé, e o Cine Esmeralda, lá do Areal.

Mas voltando ao caso do Guarany, ao fato “horrorível”.(**)

O Cinema estava lotadíssimo e mal começou o espetáculo um cidadão sentado logo atrás de mim começou a falar coisas desconexas, em voz baixa.

Não demorou muito começou a incomodar os que estavam ao seu lado, notei então que o referido homem estava bêbado.

Algumas pessoas reclamavam, outras mudaram de lugar, o que estava difícil de encontrar e finalmente o homem caiu para frente batendo sua testa em minha cabeça e rindo do nada.

Foi a gota d’água.

Gritei a todos os pulmões.

- Parem o filme.

Luzes foram acesas e ali estava eu em pé, fardado com a verde-oliva do Exército, sob os olhares do público.

Lanterninhas e funcionários correram em minha direção para saber o que estava acontecendo.

Virei-me para o porteiro do cinema, que havia corrido até onde eu estava, um senhor velho e meio gordo de cabelos aloirados, funcionário que desde a época que eu era um mandinho de 9 anos ele ficava em seu traje azul, camisa branca e gravata preta, à porta do cinema recebendo os ingressos e fiscalizando os trajes.

Detalhe. Os homens maiores de 12 anos só podiam entrar no cinema de gravata no pescoço e não adiantava chorar, se não estivesse de gravata não entrava. Era imperioso esse costume, que permaneceu até o início dos anos 70.

Imediatamente mandei com rompante, e com o timbre de voz militar, alto e aberto que retirassem o indivíduo da sala, o que foi feito por dois funcionários enquanto o porteiro se desculpava cheio de mesuras.

Sentei-me. Acalmei-me e assisti o resto do filme sob os olhares de aprovação dos que estavam naquele setor.

Não por este motivo, mas a partir daí comecei a ir menos ao cinema. Hoje rarissimamente vou, e isto que o Shopping Canoas com 10 ou 11 salas de cinema fica a cinco quadras de onde eu moro.


Pra finalizar eu deveria constar do Guinness Book, por ter assistido mais vezes um mesmo filme. Assisti no cinema e na televisão ao longo de mais de quarenta anos o filme “El Dorado”, por 84 vezes e lembro até hoje o nome do personagens e principalmente do cavalo do mocinho, o Cochise.


Guardo até hoje o nome do cavalo, porque foi a forma nojenta e racista dos americanos demonstrarem todo o seu ódio e desprezo aos índios, pois Cochise foi um dos mais afamados Apaches que lutou contra a tomada de suas terras pelos ianques no Século XIX.



 (*) Bichas: Em Portugal o termo bicha significa fila, e como Pelotas foi de uma intensa colonização portuguesa, onde essa cultura ficou impregnada, usa-se ainda esse termo. Tanto está Pelotas impregnada da cultura portuguesa que até os doces de Pelotas, os melhores do mundo são de origem portuguesa. Maravilhosos doces.

(**) Horrorível: não existe essa palavra, mas é legal e deveria ser dicionarizada.


Fui.

Tapado de recordações.



Nenhum comentário:

Postar um comentário