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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Incrível


Desde pequeno ouvia meu pai contar, quando não estava de serviço no quartel, nas noites escuras e quase sem luz em nossa pobre casa, onde a precariedade do abastecimento elétrico feito pela Cia. Light &Power era de péssima qualidade no início dos anos 50, uma história hilária. Uma história da família ocorrida em 1922, quando ele ainda era um menino de quatro para cinco anos.

  Meu pai, na época Segundo Sargento a direita de um Segundo Tenente porta-bandeira.

Esta e outras histórias relato em meu livro, ainda sem título, sobre nossa família, onde podem ser encontrados os mais hilários, trágicos e tristes “causos” ocorridos na Campanha do Rio Grande do Sul envolvendo meus ancestrais.

Nessa época de pobreza e desilusões, o amparo que tinham era quando em vez reunir a família, que morava nas cercanias da vila Caruccio e Gotuzzo e passar longas horas charlando e jogando víspora, hoje chamado de bingo, que era um sensacional jogo naqueles tempos de ignorância e miséria. A criançada divertia-se ouvindo os versinhos recitados pelo cantador das pedras.
Tia Jovem cujo nome era Jovelina de Souza, era casado com Tio João Emílio, irmão de vovó Bibira, mais conhecido como Grilo e os dois viviam as turras. Brigavam por qualquer coisa, e era um de cara virada para o outro, o que servia até de chacota no seio familiar.

        Sendo isso de conhecimento geral, não só entre os familiares como daqueles bons vizinhos que se reuniam também para jogar víspora, ora na casa de um, ora na casa de outro.

Como essas desavenças eram frequentes, ninguém mais ligava e faziam disso graça, ao ponto de terem até criado um versinho singelo para provocar o casal Grilo e Jovem que eram assíduos jogadores deste ingênuo passatempo, e quando um cantador de pedras sacava o número 69, assim ele declamava:



   É o casal brigado,

   É um pra cada lado,

              É o Grilo e a Jovem

              É o sessenta e nove



Risos eram dados e o jogo continuava no meio daquele povo simples, sem cultura que em tudo achava graça, até mesmo no próprio infortúnio.

“Cinquenta e quatro anos depois, em 1976, viajava pelo meu querido Mato Grosso, e na cidade de Tangará da Serra, fui convidado por uns mato-grossenses que me haviam dado socorro em um atoleiro na serra dos Parecis e fui com eles almoçar em um salão onde havia uma festa, e em determinado momento da tarde, daquele sábado, organizaram um jogo de Bingo e para minha surpresa e até emoção um rapaz que cantava as pedras, ao tirar da tômbola o número 69, sorriu e recitou este mesmo versinho”. 

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