No início dos anos oitenta vovó Bibira,
já com mais de oitenta anos baixou a Santa Casa de Misericórdia de Pelotas, em estado
gravíssimo.
Minha tia Maria Rafaela acompanhava o
crítico quadro de vovó, quando o médico que dava o atendimento já há mais de
uma semana e vendo o quadro agravar-se mais ainda e sem nenhuma esperança,
disse a tia Maria que ela poderia chamar os dois outros filhos, Floribal (Minoso) e Gomercindo, pois a pobre
velhinha estava em suas derradeiras horas.
Tia Maria imediatamente telefonou para
meus pais que moravam em Porto Alegre pedindo que fossem à Pelotas, pois o
médico achava inclusive que eles não a encontrariam mais com vida avisando também a tio Gomercindo que residia na própria Pelotas.
Às pressas meus pais rumaram para a
rodoviária de Porto Alegre a fim de tomarem um ônibus para Pelotas.
Horas depois ao chegarem a Santa Casa,
em Pelotas, foram recebidos por tia Maria chorosa que os levou a falar com o
médico.
Este por sua vez disse a meu pai que
ele já poderia tratar os funerais, pois ela não mais respondia a nenhum
estímulo. E para que meus pais ainda a vissem respirando o próprio médico os
acompanhou até o quarto onde encontraram a velha vovó Bibira praticamente sem
vida.
Ficaram alguns minutos olhando para a
pobre velhinha charrua que quase nem respirava.
Nesse momento meus pais dialogaram com
o médico muito educado e solícito sobre o estado de vovó.
E na penumbra daquele quarto meus pais
ouviram do próprio médico que vovó estava irremediavelmente perdida, e que ela
não mais ouvia ou respondia a qualquer estímulo.
Em outras palavras, estava
em óbito.
Papai disse para o médico que então
iria providenciar os funerais.
Para surpresa de todos, quando vovó
ouviu a voz de seu amado filho num salto sentou-se na cama e disse:
- Minoso, meu filho querido!
Todos surpresos olharam-se sem
acreditar no inusitado, inclusive o próprio médico ficou perplexo.
- Meu filho - Continuou vovó - Eu
estou louca de fome e eles não me dão sequer um prato de comida.
Estarrecido o médico quase sem saber o
que dizer ou fazer disse:
- Dona Idelvira, não se preocupe que
eu vou mandar servir um bom almoço.
Mas antes do médico sair do quarto,
vovó pediu ao filho:
- Meu filho, enquanto ele vai me
trazer a comida, me ajude a deitar, pois eu estou muito cansada.
Papai imediatamente, segurando o corpo
esquálido de sua mãe, sob o olhar pasmo do médico, de Tia Maria e de mamãe, ajudou-a
a recostar a cabeça no travesseiro.
Ela abriu um belo e iluminado sorriso
para o filho que tanto amava, fechou os olhos e não mais os abriu.
Havia falecido.
Idelvira de Farias Teixeira - Vovó Bibira - faleceu em 20 de dezembro de 1985
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