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quinta-feira, 12 de abril de 2012

Pai Mau, Pai Bom.


             
Em uma madrugada dirigia-me ao quartel do Exército onde servia em um ônibus no qual quase todos os bancos estavam ocupados por militares, jovens soldados e cabos. Logo após a roleta havia um banco no qual um cabo recém promovido estava bem acomodado e ainda sonolento, ao seu lado sentei e comentamos sobre aquela noite. Primeira noite de carnaval na cidade de Pelotas, no ano de 1967.
             
No percurso um cidadão negro, forte e jovem ainda com uma fantasia de legionário romano, entrou neste coletivo e esbarrou em um soldado.
             
Olhei para o cidadão e o reconheci, pois o mesmo havia servido naquele regimento um ano atrás, momento em que não contente com o esbarrão o referido homem, visivelmente transtornado, voltou e desferiu um soco no soldado.
              
De imediato, sendo o graduado mais antigo naquele coletivo ordenei que tal agressor fosse imobilizado e uma dezena de soldados sobre esse caiu e a ele dei voz de prisão. Eram tempos duros.
              
Pedi ao motorista que parasse o ônibus bem em frente do quartel, e o indivíduo foi levado aos trambolhões para dentro do xadrez.
             
Logo que iniciou o expediente o mesmo foi identificado e foi constatado ser filho de um Primeiro Sargento Músico agregado, que na época encontrava-se, já a mais de um ano em Licença para tratamento de saúde (LTS) que tão logo comunicado, fardou-se e foi até o Regimento, pois sua presença fora exigida pelo comando.
             
Tal elemento quando servira nesse Regimento como soldado, teria inclusive agredido um Aspirante-a-Oficial R2, da mesma companhia, a quarta de fuzileiros.
             
Tão logo o Primeiro Sargento chegou ao quartel foi encaminhado ao gabinete do Coronel Comandante o qual mandou me chamar, pois trabalhava na sala ao lado (S1) e queria o comandante que eu relatasse ao sargento o ocorrido.
             
Ao entrar no gabinete do comandante, seguindo criteriosamente o regulamento a esse me apresentei e após saudei o Primeiro Sargento que ao reconhecer-me cumprimentou-me com um forte  aperto de mão e inclusive perguntou sobre meu pai, que por longos 24 anos havia servido naquele mesmo Regimento.
            
Após relatar o fato, o Coronel Comandante deu-me ordem para que eu fosse até o Oficial-de-Dia para comunicar a esse que levasse o referido preso até seu gabinete para libertá-lo, pois esse era filho de um exemplar Sargento, que o aguardava.
             
Momento em que, o Primeiro Sargento, de uma educação esmerada disse ao Comandante:
             
- Senhor, eu ando muito doente e “esse negro” ainda vai me matar do coração, e para educá-lo pediria ao senhor que o deixasse preso durante essa semana de carnaval.  Talvez assim ele aprenda a ser educado.
             
O Coronel, surpreso e sisudo olhou para mim e mandou que eu fosse até o Oficial-de-Dia e transmitisse que tal preso deveria ser libertado somente no fim daquela semana de carnaval.
             
Se todos os pais fossem bons pais “maus”, não teríamos essa juventude atormentada, marginalizada, arrogante, deseducada e hoje, drogada.
             
Muitas vezes temos que ser pais maus. Isto é estar presente. Isto é conduzir nossos filhos pelos caminhos corretos da vida, isto é amar os filhos, pois filhos mimados são futuros delinquentes e limites são necessários. Não se faz necessário estar sempre os carregando pela mão.
              
Não mais vive esse adoentado Sargento, mas o citaria como um "bom pai mau" que a sua maneira queria ter em seu filho um cidadão. E o contrário acorre em nossa sociedade onde grande parcela de pais tenta livrar a cara de seus filhos, mesmo que esses sejam marginais como vemos seguidamente em nossa imprensa, onde esses destrambelhados estupram, matam, traficam, mas tem seus afetados papais e mamães para dizerem hipocritamente que seus filhinhos são  bons, trabalhadores e educados. E sempre culpam os outros por serem más companhias, mas nunca admitem que as más companhias são na verdade os seus própios filhos (leia neste blog a matéria com o título “Crime sem Castigo”).

2 comentários:

  1. Isto que é ser pai.....Pai enxerga os defeitos dos filhos e não passa a mão por cima, pai e mãe de verdade sabem a hora de dar carinho e a hora de castigar!
    Ainda bem que tenho pais assim.
    Obrigado por ser meu pai!

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  2. Faço das palavras de minha prima, minhas palavras,... com um pequeno acréscimo. :-)
    (..., pai e mãe de verdade sabem a hora de dar carinho, "orientar" e a hora de castigar!.)
    É um prazer e uma honra ser seu sobrinho.
    Abração tiozão !!!

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