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segunda-feira, 9 de abril de 2012

Nossos Filhos ou Filhos do Mundo?

             
Quando nasceram nossos filhos, muitas dúvidas e preocupações correram soltas em nossos pensamentos.
              
Criar filhos é uma arte, uma posse ou é um desprendimento?
              
Seremos donos deles ou seremos amigos?
              
Passados os primeiros anos, anos em que ainda são totalmente dependentes, vem o período da "aborrescência". Período em que precisamos ser tão ou mais presentes, e dar-lhes limites e limites não podem ser confundidos com opressão, e amar e se preocupar não podem ser sinônimos de castração, submissão, prisão, infelicidade, tédio e rancores.
             
Mas durante toda a existência devemos amar nossos filhos, mas eles devem seguir o caminho natural da vida.
             
 Suas venturas e desventuras.
              
Suas aventuras e seus devaneios.
              
Seus amores e desamores, suas lutas, suas paixões, seus erros e seus acertos.
              
Lutas que devem ser feitas por eles mesmos, pois se sempre estivermos amparando, cuidando, zelando, coibindo, adoecendo por eles e se martirizando por eles, não estaremos contribuindo para a sua felicidade, ao contrário estaremos conduzindo-os para um mundo sombrio do de se acharem incapazes, do de se acharem doentes, inseguros, confusos, atormentados e acima de tudo se acharem culpados pelos nossos sofrimentos que são causados pelos nossos sentimentos patológicos de posse. Pelas nossas neuroses, pelos nossos fracassos ou pelos nossos anseios doentios e zelos excessivos.
              
Nossos filhos devem quebrar suas cabeças em busca de seus caminhos. É óbvio que sempre estaremos lado a lado, aconselhando quando solicitado, tirando suas dúvidas quando de suas incertezas, ajudando quando necessário, punindo quando necessário, mas amando, muitas vezes com o coração aos sobressaltos, porém deixando-os livres para pensarem por si, resolverem por si, fazerem por si, viverem por si.
            
Noites não dormidas, onde a preocupação atormenta, devemos remoer em silêncio para não os atormentar, pois amar é criar nossos filhos independentes, seguros, equilibrados e, sobretudo livres para acertarem e errarem, é o caminho natural, pois assim é a vida. E a vida nem sempre é amena, a vida é feroz e temos que lembrar que nossos filhos são também filhos da vida.
           
A vida é feita de erros e acertos.
           
Devemos mostrar o caminho e darmos o exemplo. Isto é sem dúvida amar. O contrário é recriminar, acusar, ferir, tolher, castrar, amordaçar, mantê-los submissos, adoecendo com as nossas doenças. Doenças silenciosas que nem mesmo nós as sentimos.
           
Estamos profundamente adoecidos, mas não temos o discernimento de admitir.
           
Muitas vezes na tentativa de fazê-los acertar ao nosso modo e de proteger excessivamente estamos cavando uma vala larga, profunda e escura a frente deles, e muitas vezes não saberão ultrapassá-la, pois não saberão se defender das armadilhas da vida, pois envoltos em uma teia invisível que os sufoca e os mantêm presos ao infortúnio de não poderem fazer, de não poderem ousar, de não poderem experimentar as coisas boas e saudáveis.
            
E ao percebermos que eles não podem ultrapassar esse obstáculo, erramos novamente e vamos pegá-los e conduzí-los pela mão, aumentando assim os seus temores, suas culpas e seus sentimentos de incompetência. E muitos ficarão felizes pois eles erraram para provar que só nós somos os certos e sempre temos a razão. 
            
Não conseguirão superar esses percalços, pois passamos a vida tirando os entulhos, as pedras e os espinhos que se interpõem em seus caminhos.
            
Estaremos sempre alucinadamente os carregando pela mão, como se fossem eternas criancinhas indefesas. Assim estaremos na verdade, obstaculizando, fazendo ainda mais pesado o fardo que carregam, pois na tentativa de proteger estamos na verdade empurrando-os para o fundo do abismo, pois não queremos que eles sejam do mundo, não queremos que eles tenham seus sonhos e seus pensamentos, pois queremos sonhar por eles e queremos pensar por eles. Queremos tê-lo sempre submissos.
           
Queremos no fundo que sejam somente nossos e esquecemos que um dia vamos faltar e aí o que será deles sem saber o que fazer, pois não aprenderam a caminhar com suas próprias pernas, sem ter a mão para amparar, sem ter a proteção doentia que não os ensinou a lutar pela sobrevivência nessa selva em que vivemos.
          
Padecerão pela incerteza de não ter alguém lhes dando ordens e dizendo como fazer.
          
Padecerão, e aos sobressaltos acordarão para um novo e amargo período, tolhidos, presos, infelizes e sós num mundo que os atormentará, pois não seguiram o caminho natural das coisas. Foram proibidos de caminhar sozinhos.
           
E nós não vemos e não sentimos nossas neuroses, e não admitimos a existência delas e sem querer, ou por querer demais estamos estragando a vida de nossos filhos, pois queremos que eles vivam para nós e isso os levará as desilusões, aos traumas e aos males dos que não tem a oportunidade de fazer por si só, dos que não vivem suas vidas plenas, dos que foram alijados dos prazeres elementares, onde a baixa autoestima é uma constante e as incertezas os aprofundam num mundo escuro de tristezas. Mas nós não vemos.
            Por amar nossos filhos devemos criá-los para o mundo e que sejam livres como os pássaros na natureza, e nos enganamos quando erradamente ouvimos um pássaro preso cantando e achamos que cantam de felicidade. Na verdade seu canto é melancólico de tanta tristeza de estarem presos as nossas gaiolas.
           Que sejam nossos filhos os artífices de seus caminhos, estaremos sempre à retaguarda, pois jamais os abandonaremos, mas temos que saber que a vida é deles e assim é a natureza e no dia em que faltarmos, deixaremos saudades por sermos libertadores e não carcereiros.
            
Por amar, deixaremos saudades por sermos parceiros e não dominadores.
           
Por amar, deixaremos saudades por termos autoridade e não por sermos autoritários.
           
Por amar, deixaremos saudades por estarmos sempre presentes e não por sermos uma presença incômoda.
           
Na esperança de acertar e de proteger poderemos estar fazendo um grande mal aos nossos filhos, tirando-lhes a liberdade, carregando-os de culpas, pois muitas vezes chantageamos para conseguirmos o que queremos sem nos importarmos se é isso que eles querem. Podemos dessa maneira fazê-los pensar como nós, agir como nós, sentir como nós, pois estaremos na verdade tirando deles a essência principal da vida que é a liberdade.
           
Liberdade de querer, de ousar, de errar, de amar, de serem autoconfiantes.
           
Liberdade de ter a liberdade de fazer o certo por eles mesmos e não o errado por nossa vontade que achamos estar certa.
           
Filhos são como uma pedra que lançamos ao infinito, a qual podemos observar em sua trajetória a distância, mas não devemos tentar por nossa conta tirá-la do curso natural, pois não somos nós a pedra lançada.
          
Amar é ter desprendimento.
          
Amar é saber que nossos filhos são filhos do mundo.

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