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terça-feira, 5 de agosto de 2014

Relação de Amor e Ódio



Volto a publicar, com algumas alterações este artigo de 6 de janeiro de 2013

Muito taura macanudo, mais atilado que um caburé em noite escura, e muitos de cerne buenacho, pau-ferro como tronqueira de brete e outros maulas, mais desconfiados do que gato em rancho novo, não botaram tento nesta consigna “Relação de amor e ódio” ou “Água e Óleo” que escrevi neste blogue, com o título de “Na Cadeia ou Fora Dela?”, em 5 de janeiro de 2013.

Buenas, Che, vamos aos fatos:

Aos fatos que muito mambira não tem conhecimento assim como muito bacudo que não conhece a história conturbada deste meu Rio Grande do Sul, sabe é que este meu Estado por muito tempo pertenceu a Espanha e que finalmente foi sendo aos nacos tomado pelos portugueses.


Entonces para se ter clara noção do Rio Grande do Sul é preciso saber que a indiada por aqui é meio de sangue nas ventas e basta alguém ao rededor dar um espirro, que a gauchada da minha querência já boleia a perna e de carneadeira na mão se vai campo a fora saber quem está bombeando estas terras que os verdadeiros donos têm sangue charrua e minuano.


E a indiada daqui anda sempre de sentinela, pois o meu torrão tem certa similaridade com o mar. Ou seja, o mar é uma porção de água cercada de terra por todos os lados, já o Rio Grande do Sul é uma porção de boa terra cercada de mundo por todos os lados.


E nunca o Gaúcho dorme com os dois olhos fechados, pois enquanto um descansa o outro fica de butuca nos castelhanos e nos brasileiros que queiram, por ventura tirar algum proveito.


Mas bah! Me tapo de nojo.





E quando isto acontece é um salve-se quem puder.


De lança farrapa, três listra de palmos, boleadeira e nos cascos dos haraganos fizemos e guardamos nossas fronteiras.


Afinal de contas fazemos fronteira com três países, Uruguai ao sul, Argentina a oeste e Brasil ao Norte, e a leste temos um arroio que chamam de Atlântico, salgado barbaridade, principalmente no verão, quando a gauchada vai para o litoral veranear e tem por hábito bater o churrasco na beira desta sanga.


E os estrangeiros pensavam que esta terra podia ser explorada a seu bel prazer, até que certa feita um xiru macanudo e melenudo de nome Sepé Tiaraju disse “Co ivy oguerecó yara”, ou seja, “Esta Terra Tem Dono”. 


E foi preciso o Reino da toda poderosa Espanha se aliar com o Reino de Portugal, que eram os Estados Unidos e a China da época, para tentar fazer com que o xiru sossegasse o pito, mas não adiantou, ele morreu peleando com mais de 1500 tauras prá lá de buenachos, mas deixou plantado nesta querência a semente gloriosa de liberdade. 


Em 1835, proclamaram a República Rio-Grandense e pelearam solitos por dez longos anos contra um grande e poderoso Império chamado de Brasil, na Revolução Farroupilha que é comemorada a 20 de Setembro, e que a imprensa do centro do Brasil, sem conhecer a história dessa sangria heroica diz que é o dia do Gaúcho.

Mas me tapo de nojo desses alcaides.


Lembrando que é o único Estado que tem em sua Bandeira o nome de República.


Chupa esta meu!


E é o único Estado em que todo o mundo canta com orgulho o seu Hino, o Hino Rio Grandense, com amor, com paixão e sem erros, pois os piazitos desde o colo já ouvem seus pais cantar este que é um dos mais lindos Hinos do mundo. E quando chegam ao colégio aprendem tintim por tintim não só a nossa história como os nossos símbolos e heróis.


"Sirvam nossas façanhas de modelo à toda a Terra".


Buenas, temos também o Canto Alegretense, que faz a Gauchada vibrar de emoção e não há um taura nesta querência que não saiba cantar.

"Flor de tuna, camoatim de mel campeiro, pedra moura das quebradas do Ñanduí." (Inhanduí).


Também com uma letra fácil assim qualquer bacudo aprende.


Voltem para o colégio para aprender que a Revolução Farroupilha foi a mais extensa Guerra do continente americano, seus baiquaras, e este buchincho durou dez anos de muita peleia, onde o camboim comeu solto nessas cochilhas.


Mas não pararam por aí. Além de muitas escaramuças com os castelhanos a Gauchada Rio-grandense resolveu afiar o talher de briga quando em 1893 se entreveraram uns contra os outros numa Guerra Civil chamada de Revolução Federalista, onde Maragatos e Pica-Paus, feito loucos se lonquearam a pau e deixaram as coxilhas vermelhas de tanto
 sangue das degolas que fizeram.


E não contentes os Maragatos foram passando o mango e a soiteira nas tropas federais e só pararam lá na Lapa, no Estado do Paraná. E me confidenciaram que só pararam porque faltou erva mate.

Mas que barbaridade, che!

Pois nesta terra, não tem meio termo, ou é ou não é, e não tendo com quem brigar, uns brigam contra os outros, só para não perder o costume. E se por ventura dois tauras estiveram no maior entrevero, se pegando no relho ou na xerenga e um estrangeiro, se meter a topetudo, leva a maior coça dos queras que já saem dali proseando e vão tomar um chimarrão à sombra de um cinamomo e nem te ligo pro estrangeiro, seja ele americano, inglês, francês ou brasileiro.

Em 25 de janeiro de 1923, eclodiu no Rio Grande do Sul mais uma violenta sangria, desta vez das feridas não cicatrizadas de 1893, quando Artur Caetano, aliado de Joaquim Francisco de Assis Brasil (maragato) seguido pelos birivas levantou a região da Coxilha Grande, dando início ao movimento armado conhecido como Revolução de 23, que se opunha ao governo de Borges de Medeiros (chimango).                                                  


No dia 3 de maio deste mesmo ano, Honório Lemes, o Leão do Caverá, a frente de tropas maragatas cerca a cidade de Uruguaiana, no garãozito do Rio Grande, grudada como carrapato no lombo da Argentina.


“A la pucha”, los correntinos se borraram de medo, pensando que o Rio Grande fosse invadir e anexar a Argentina. Já alguns “orientales” se bolearam para o lado de cá e mais uma vez lutaram em um ou em outro lado, afinal de contas já estavam acostumados a pelear nesta querência, pois haviam lutado nas Revoluções de 1835 e de 1893, e sempre que o Rio Grande do Sul cuspiu fogo teve um taura uruguaio valente e destemido de “lanza e sable” para comprar camorra e vir lutar por estas plagas.


Êta indiada macanuda.

Por respecto, cuando se habla de los orientales, sacase el sombrero.

Ao chegar o ano de 1925, Luís Carlos Prestes saiu de Santo Angelo e deu um passeio de 25 mil quilometros, a pezito pelo Brasil, baixando o  pranchaço  nas tropas federais e estaduais que se interpunham no seu caminho.


Teve até um padréco lá do nordeste que quis se meter de pinto a galo e foi ignorado pelo nosso caudilho, que se o encontrasse dava-lhe também uns simbronaços. Mas que tal ver o relho desancando no lombro do estrupício, e que muito nordestino chama de santo.


E quando Luís Carlos Prestes chegou a fronteira com a Bolívia foi recebido como herói pelos bolivianos. 

Mas que tal?

Despues em 1930 um quera retaco, mais metido do que tenente novo, nascido lá na Fronteira, na cidade de São Borja, chamado Getúlio Dorneles Vargas resolveu dar um basta nas maracutaias do Brasil Central, e após arrebanhar uma Gauchada macanuda invadiu o Brasil e foi passando o camboim em quem aparecesse pela frente, até chegar ao Rio de Janeiro e derrubar o governo federal e ficou lá por quinze anos como chefe supremo.

Oigalê porqueira!

Neste período implantou uma ditadura sulista para todo o país e arrumou a bagunça que existía, dando uma nova cara ao Brasil.


E só para garantir o guapo caudilho Getúlio no poder, no ano de 1932, a xiruzada se foi de "ponto fixe" (fiche) para São Paulo, onde os Bandeirantes queriam certas reformas que não agradaram aos sulistas e aí foi aquela barbaridade. E se existisse um Patrão Velho lá de cima, talvez ficasse a lo largo de la contenda, pois meter com essa Gauchada não é fácil.

E lá por 1935, denovamente Luis Carlos Prestes o Capitão da Esperança, liderou uma Revolução contra o conterrâneo Getúlio, mas foi de mala suerte e não conseguiu êxito, com sua Revolução Comunista.


 

E se existe um Estado chamado de Acre foi porque um Gaúcho de nome José Plácido de Castro, natural de São Gabriel, deu uns relhaços e uns pelegaços nos bolivianos e tomou aquela terra, integrando-a ao Brasil.



E que na Guerra do Contestado (Santa Catarina-Paraná) foram para lá tropas Gaúchas para acabar com a anarquia, e que antes andaram lá pelo Arraial de Canudos de Antônio Conselheiro, 1897, e a gauchada com seus trajes desconhecidos foram chamados para acabar com aquela Guerra que o Exército Brasileiro já tinha fracassado duas vezes e os tauras não faziam prisioneiros e sim acabaram sem muito xaraxaxá na base da degola.



A baianada ficou mais apavorada do que guri novo em tasca ao ver aqueles queras de bombachas ou chiripá e lenços colorados, com seus três listras bem afiados, com as gadelhas caindo no meio das costas e prontos para dar ao inimigo um colar de sangue.




E é muito importante que se saiba que em 1910 foi um Crioulo Rio Grandense, chamado João Cândido Felisberto, natural de Encruzilhada do Sul, marinheiro conhecido pela alcunha de "Almirante Negro" que levou a cabo a Revolta da Chibata e não se arrolhou para os verdadeiros Almirantes, fazendo uma revolução dentro da Marinha contra os maus tratos que eram submetidos os marinheiro de todo o Brasil, chegando até a bombardear a Capital do País que era na época a cidade do Rio de Janeiro, conhecida como Cidade Maravilhosa, coisa que a Marinha de Guerra tenta varrer para baixo do tapete.


E em 1961, o Rio Grande do Sul, governado pelo Engenheiro Leonel de Moura Brizolla, peitou todo o Brasil e fez com que empossassem na "marra" o legítimo Presidente da República, o Senhor João Belchior Goulart, natural de São Borja na chamada Campanha da Legalidade. E os golpistas que não queriam que Jango assumisse a presidência tiveram que baixar o pito e meter o rabo entre as pernas e ficarem bem quietos feito guri mijado em porta de rancho.


 

E depois em 1964, foi o único Estado que fez frente a quartelada daquele maldito ano, e que só não foi para as vías de fatos pois o presidente não querendo ver sangue derramado resolveu se tapar de quero-quero em direção do Uruguai. Depois se foi para a Argentina onde dizem que foi assassinado a mando da Ditadura Brasileira.


Não esquecendo que o oeste de Santa Catarina e do Paraná foram desbravados por gente da minha terra, onde fundaram maravilhosas cidades e que o Mato Grosso do Sul e o Mato Grosso hoje são potências no agronegócio é por conta dos tauras que saíram do meu Rio Grande do Sul para transformar o cerrado em lavouras sem fim e extensas pastagens de ganaderia, onde fundaram também uma penca de cidades.


E que o primeiro Governador do Mato Grosso do Sul foi um Gaúcho, o senhor Harry Amorim Costa, nascido em Cruz Alta no meu Rio Grande do Sul. 


E que Rondônia passou a ser notada depois que a gauchada por lá chegou para dominar a Amazonia, fundando cidades e cobrindo o solo com plantações de arroz e soja e enfiando rebanhos e mais rebanhos de gado.


E se hoje o maior porto da América Latina é o de Santos, é graças a um taita Gaúcho chamado Francisco de Paula Ribeiro, natural da minha cidade de Pelotas, que foi superintendente da Companhia Docas de Santos entre os anos de 1888 e 1902 que supervisionou e administrou a sua construção.


Este é o meu Rio Grande do Sul que morre em defesa do Brasil, mas não se fresqueiem, pois o buraco da bala e mais embaixo.


Somos diferentes e queremos ser diferentes, e ponto.


Pois se qualquer alcaide pensar que pode, de enxerido se meter com o meu pago, a gente se pilcha todo de bombachas, botas, nazarenas ou chilenas, pegamos nossos talheres de briga, atravessamos sob as rastras, a nossa mala de garupa com muita erva mate, aperamos os nossos fletes, boleamos a perna, quebramos o aba larga na testa, arrumamos o lenço colorado e se preparem pois a peleia pode ficar mais feia do que briga de foice no escuro.


Bueno, se tu não entendeste o que eu escrevi, deves fazer um curso para aprender a mais bela língua do Universo, o Gauchês e para tal deves entrar para a maior universidade do mundo. - A Pampa - adonde a gente fala e não chia, adonde não tem jeitinho, ou é ou não  é, pois o que vale é o fio do bigode. Adonde, se as coisas não são resolvidas de maneira civilizadas já saimos trançando o aço branco até desanuviar as querelas. 


E nesta Universidade não tem cadeira e sim lombo de cavalo, não tem sala de aula, tem horizonte com fronteiras a léguas de beiço, não tem reitor nem  professores, e sim tauras e taitas e não tem fest food, tem carreteiro de charque, churrasco e chimarrão.


Adonde não tem estradas, tem carreteiras e não tem pagode nem festa rave (reive), temos surungo ou farrancho.



Adonde não se ofende as mulheres chamando-as de cachorras, popozudas ou preparadas, muito menos de periguetes, pois quem assim se deixa chamar é porque não vale uma pataca. Nós, Gaúchos as chamamos de PRENDA, que quer dizer “JÓIA”, coisa mui preciosa. 






E só para não deixar dúvidas, é sempre bom lembrar que a primeira miss Universo, eleita em um concurso internacional realizado lá pelas quebradas do Rio de Janeiro no ano de 1930, foi uma Gaúcha de nome Yolanda Pereira, nascida também em Pelotas minha terra natal, coisa que por despeito os brasileiros de modo geral não aceitam por pura dor de cotovelos ou desconhecem, o que a biguanada aqui do meu pago nem liga, pois o que importa é o meu Rio Grande do Sul, pois o resto são apenas coadjuvantes.






E se há um centro do Universo, este centro é o Rio Grande do Sul, o resto orbita ao rededor. 


E lá me vou tapado de orgulho, e se alguém disser que Gaúcho é metido eu respondo:

- Somos!

- E daí?




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