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sábado, 8 de dezembro de 2012

Idiomas e Dialétos




Admira-me que em vários países menores que muitos municípios brasileiros tenham que gerenciar em seu interior vários idiomas, formando uma verdadeira colcha de retalhos linguísticos, porém alguns se entrelaçam mantendo apenas sutis diferenças, já outros se isolam a tal ponto que em algumas regiões falar uma língua geral e inaceitável.

Tal fato ocorre como uma forma de autodeterminação. Sou diferente, quero ser diferente e busco o reconhecimento como autônomo, mesmo que o único marco divisório seja o próprio idioma ou dialéto.

Não aceitam influências forâneas, ou sentem-se extremamente ofendidos se alguém usar o idioma geral como meio de comunicação.

Obviamente há casos onde esse isolamento linguístico deu-se como uma forma de afirmação ideológica e racista, como acontecia nas décadas de 30 e 40 nos estados sulistas do Brasil, onde nas colônias de origem alemã negavam-se a falar o português como uma forma de discriminação.

Meu próprio avô paterno, Professor Lourival da Rosa Teixeira, um típico Gaúcho, das canhadas (região) de Rosário do Sul, muito trabalho, sofrimentos e agressões morais sofreu dentro das colônias de imigração alemã, que insistiam em falar somente o dialeto pomerano para cá trazido ainda no século XIX e não queriam um brasileiro dando aulas de português para seus filhinhos loiros de olhos azuis.

A seguir transcrevo trecho de meu livro "Os Gaúchos", para que o leitor tenha uma idéia do quanto a língua pode ser um aglutinador não só de nação como um aglutinador ideológico:

“Na cidade de Pelotas, Vovô Lourival aposentou-se como professor municipal e por lá, na Princesa do Sul, no Bairro do Fragata, mais precisamente na Avenida Pinheiro Machado veio a falecer em 1966.


Foi meu avô, alfabetizador e lecionava pelos anos 40 e 50 na localidade de Santa Silvana, interior de Pelotas, em plena colônia alemã/pomerana. Lembrando que para tal teve que aprender a falar um pouco do “pomerano” para poder dar aulas de português.
 

Existe ainda por aí muitos doutores e empresários de sobrenomes alemães que foram alfabetizados e aprenderam a falar o português do Brasil com meu avô, um típico homem da Pampa.


Não esquecendo que para tal muitas vezes tinha que dar aulas para os filhos de pomeranos acompanhado de um soldado da Brigada* que lhe fazia segurança, devido ao ódio doentio que muitos destes colonos tinham dos brasileiros, principalmente dos negros e dos índios, e que não queriam de maneira alguma falar o português, coisa que ainda era notada na colônia pelo início dos anos 1970."

E aí tem muito quera (Cuéra - Prá quê tiraram o trema? Cuéra=homem) equivocado chamando alemão de Gaúcho.


Esses “alemães” esqueceram que foram os negros e índios que ensinaram os primeiros “colonos” a cultivarem produtos tipicamente do Novo Mundo que se quer conheciam como o milho, o amendoim, a mandioca, e a batata (Solanum tuberosum), que não é inglesa nem aqui nem na China, pois a batata é originária dos Andes Peruanos e existem mais de três mil espécies.


Grande parte desses imigrantes europeus era formada de artesãos, que se disseram agricultores para poderem vir para o Brasil, praticamente corridos do que seria bem mais tarde a Alemanha, onde não serviriam para o modelo que se desenhava para a futura Deutchland, em decorrência da Revolução Industrial, que necessitaria de operários e não de artesãos.


Muitos não sabiam sequer o que era uma enxada”.


No caso do Brasil, uma das coisas que consolidou a unidade nacional, além da religião católica foi o idioma português, chegado aqui em 1500, porém por muito tempo a língua que gerenciava o contado europeu com os nativos da terra era o tupinambá da família tupi-guarani que se distribuía por quase todas as terras da colônia, assim como por extenso território ocupado pelos espanhóis.

Hoje mais de 180 línguas indígenas são faladas no Brasil, muitas das quais em via de desaparecimento, outras isoladas em regiões remotas, porém é sempre bom lembrar que quando do descobrimento do Brasil, mais de mil diferentes línguas eram aqui faladas, entretanto com a chegada dos imundos navegadores portugueses foi se formando uma mescla de línguas, chamada de língua geral, quando os colonos deram contornos a suas possessões fundindo diversos tipos de falar resultando no português do Brasil, que apesar do último acordo ortográfico, que mais atrapalha do que ajuda, vai se afastando inegavelmente dos outros tipos de falar o “português”.

Há inúmeras palavras de nosso idioma português do Brasil que não são nem sonhadas em Portugal, Angola, Moçambique, Timor Leste ou Cabo Verde.

E quando entramos nos regionalismos, podemos encontrar até 15 maneiras de falar o português do Brasil com sotaques bem diferenciados como o baianês, o Gauchês, além do caipira, cearense, carioca, mineiro, nordestino, nortista, paulistano, sulista e sertanejo.

Qual português de Lisboa, ou timorense de Díli, entenderia esta frase em “dialeto” Gauchês (dialeto dos Gaúchos, do extremo sul do Brasil, da nossa Campanha, Fronteira Oeste e Missões, região marcada por conflitos e culturas diversas, uma área que ora pertencia a Espanha, ora a Portugal e que somente em 1801 passou fazer parte da Colônia Portuguesa), que neste momento elocubrei para ilustrar o que escrevo:

“O borracho, alcaide e maula, com uma xerenga atravessada sob a rastra, e de gadelhas rosilhas desgrenhadas, atadas com uma piola, meio abichornado, bispava em volta do bateclô e como não encontrava a soleira, se tapou de quero-quero e meio oitavado ganhou o mato, adentrando folheirito num pajonal para tirar água do joelho, quando o folha-de-abóbora soprado pelo minuano foi parar aos pés de uma prenda algariada de cabos negros, cercada de piás que riam do bacudo”. 

Mesmo assim, somos um país que se entende de norte ao sul, bastando para tal falar o idioma oficial. E as muitas diferenças no modo de nos comunicarmos tornam o nosso idioma um dos mais belos do mundo, apesar de, para muitos, ser o mais difícil de aprender.

Lembrando que o dialeto do Gaúcho é uma mistura fina do espanhol, português com a língua dos índios minuanos, charruas e guenoas, que nada tem a ver com os dialetos trazidos para o Rio Grande do Sul pelos alemães e italianos, que são rio-grandenses, mas não são Gaúchos.

Dizem alguns mal intencionados ou desprovidos de conhecimento que o Gaúcho quer ser argentino, porém não sabem que o Gaúcho está presente dentro da Argentina, do Uruguai, do Chile e do extremo sul do Rio Grande do Sul, formando um mesmo povo, de mesma história e tradições.
                    Desfile Gaúcho, comemorando  os feitos Farroupilhas.

Poderíamos comparar os verdadeiros Gaúchos aos curdos que vivem separados por fronteiras de países diferentes, Turquia, Iraque, Irã, Síria. Armênia e Azerbaijão, pois vivem estes dentro de outros países, Argentina, Uruguai, extremo sul do Chile e extremo sul do Rio Grande do Sul, no Brasil, não tendo para si um país autônomo, o que de fato nem o querem, apesar dos esforços envidados pela Argentina num passado não muito distante de unir tudo sob sua bandeira, o que segundo alguns historiadores era o plano da Alemanha Nazista de formar um enclave alemão dentro da América do Sul com o apoio explícito do ditador argentino Domingos Perón, que inclusive deu guarida aos criminosos de guerra que fugiram da Alemanha quando essa foi derrotada na Segunda Grande Guerra.

Infelizmente, penso eu, que em pouco mais de um século as diferenças entre o falar o português de Portugal e o português do Brasil, onde já assistimos filmes legendados e livros traduzidos de um país para outro, será no futuro tão grande que provavelmente vamos dizer como dizem hoje muitos portugueses que nós falamos o brasileiro e não o português. Eu só diria o “brasilês”. 

Cada vez mais se aprofundará essa abissal diferença onde mais de duzentas milhões de pessoas falarão o português do Brasil e não mais o português de Portugal.

Isto é o caminho natural que seguem todos os idiomas, apesar de não existir hoje o isolamento que tínhamos quando da descoberta das Américas, entretanto os idiomas não são estáticos e sofrem modificações profundas.

Dentro do Brasil é no Rio Grande do Sul onde podemos sentir a maior diferença, tanto que a música Gaúcha não emplaca em outras plagas (regiões), pois usamos um infindável e genuíno dialeto que nos torna ímpares.

Ah é, é?

Queres que eu traduza o que foi escrito acima?

Pois bem, vou te dar esta nhapa. (regalito).

Tradução: “O bêbado, homem sem serventia e covarde, com uma faca de má qualidade sob o cinturão, e de cabelos ruivos, desalinhados, atados por um cordão, meio desanimado, olhava em volta do banheiro e como não encontrava a porta, saiu correndo campo a fora e meio ladeado entrou no mato, adentrando fácil em um macegal para urinar, quando o chapéu desabado soprado pelo vento foi parar aos pés de uma menina (moça) sem modos, de cabelos negro, cercada de meninos que riam do homem sem instrução”.

Ah! Tem mais: Nhapa (regalito) = presentinho.

*Brigada: No rio Grande do Sul, temos a nossa valorosa e histórica Brigada Militar, patrimonio rio-grandense, que nos outros estados do Brasil são conhecidas como Polícias Militares. 

                      Brigada Militar, os Centauros do Pampa.

3 comentários:

  1. Totalmente de acordó. O gaúcho é máis ben espanhol com portugués e indio. Nao portugués com africano. Alemaes e italianos nada tenhem que ver com a origem da cultura gaúcha.

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  2. Totalmente de acordó. O gaúcho é máis ben espanhol com portugués e indio. Nao portugués com africano. Alemaes e italianos nada tenhem que ver com a origem da cultura gaúcha.

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  3. Ola Manuel Rodriguez.
    Honrado fico com tua visita e comentário e neste blog poderás encontrar outros artigos que falam sobre os verdadeiros Gaúchos, como em "Nem todo o Rio-grandense é Gaúcho" e outros.
    Há uma inquestionável confusão entre ser Gaúcho e ser Rio-grandense. Uma coisa meio ideológica que foi plantada no meio da nossa população. Obviamente não podemos aceitar que certos tipos físico, que negam até serem brasileiros, que mantém suas línguas e tradições alienígenas se digam Gaúchos. Não o são. Pois não basta ter nascido no Rio Grande do Sul para sê-lo. O povo Gaúcho está espraiado não só em nosso Estado como também no Uruguai, Argentina e sul do Chile. E é isto aí, somos sim uma mistura fina e ímpar, onde o sangue Charrua e Minuano prevalece, misturado com o espanhol, português e percentuais baixíssimos de sangue de antigas mães negras. E na maioria dos casos até inexistente.

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