Não tenho mais esperança.
Não espero mais a bonança.
O dia estafante.
Sob o Sol escaldante.
A mão calejada que sangra.
A água deixou de correr na sanga.
A semente que não germinou.
A árvore não frutificou.
E a água do céu não caiu.
O pouco que tinha sumiu.
O filho que espera o pão.
Chorando baixinho no portão.
Volto pra casa, arrasado.
O que tinha foi tudo queimado.
De fome morreu a cabra.
É uma história macabra.
A vaca morreu de sede.
A mulher deitada na rede.
As dores fazem gemer.
Mais um filho está pra nascer.
Vem pro mundo só pra sofrer.
Sofrer, sofrer e sofrer.
Com a sede e com a fome
Que antes de nascer já consome.
O desespero em minha volta.
Se transforma em revolta.
Deus, Deus. Mas que Deus?
Se existe não lembra dos meus.
Não lembra de seus filhos que padecem.
Enquanto os pastores enriquecem.
Vendendo sua carne morta.
Presa na cruz falsa e torta.
E milhões vão até a cruz.
Na esperança de ter luz.
Coitados querem comprar piedade.
Mas só ouvem inverdades.
Levando o que tem e não tem.
Ao pastor que com desdém.
Vai tirando do infeliz sofredor.
Sem pena e sem nenhuma dor.
Vai enchendo os bolsos com milhões.
Dados de tostões em tostões.
Pelos Iludidos em busca da redenção.
Numa pura enganação.
Na escuridão são jogados.
Pelo mundo maltratados.
Pois esse Deus onipotente.
Que nunca se faz presente.
Quando dele precisa o pobre.
Mas quem se enche de cobre.
É o vigarista e enrolador.
Que se diz o portador.
Das falsas palavras divinas.
Que são pregadas pelas esquinas.
Nas avenidas e nas ruas.
Mas são falsas e são nuas.
Nuas de verdade.
Pois são pura falsidade.
Desde que nascemos são ditas.
Mas no fundo são malditas.
Pois só vejo sofrimento.
E tanta dor, tanto lamento.
Tanto ódio e rancor.
São guerras e muita dor.
E doenças vão matando.
Corações dilacerando.
Gente sofrendo e chorando.
Um pedaço de pão implorando.
Promessas são feitas a todo instante.
Mas isso não é o bastante.
O que falta é vergonha pura.
Dos políticos cara dura.
Que são iguais ao pregador.
E enriquecem a todo vapor.
O que mais tem é falsidade.
No meio da humanidade.
Se Deus fizesse justiça verdadeira.
Não deixaria uma igreja inteira.
Lugar de histeria e ostentação.
Não se multiplica o pão.
E sim do dinheiro dos dementes.
Que se dizem a Deus tementes.
Tudo seria destruído.
Bispos e pastores punidos.
Sem nenhuma compaixão.
Em extrema danação.
Pois lugar de vigarista imundo.
É sofrer em outro mundo.
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