Fábio, meu filho, hoje com 36 anos.
O mate ou chimarrão é uma
beberagem meio abagualada que nos é passada desde piá pelos nossos pais e avós.
Um hábito que transforma o cerne e também as bem-querências, formando nosso
caráter e preservando nossas tradições campeiras, firmes como tronqueira de
brete, as vezes dura como pau-ferro e que não se deixam vergar como camboim, pero não deixam de ser ao mesmo tempo ternas dentro de um bem-querer que só se sabe quem tem berço.
Bruno, meu neto, filho de Franco, hoje com 15 anos.
São nessas rodas de
chimarrão que muitos valores são passado aos mais novos, momento em que se
fortalecem vínculos fraternos que unem famílias em verdadeiros clãs, unidos por
verdadeiros nós górdios, impossíveis de desatar, fortalecendo o laços e a
autoridade dos mais velhos e sem autoritarismo, pois o que valem são os
exemplos.
Muitos valores são passados,
muitas histórias são revividas, muitas arestas são aparadas não se fazendo
necessário usar uma açoiteira, relho ou rebenque e sim, somente a PALAVRA.
Certa feita, sob a sombra de
uma enorme mangabeira, em uma manhã de domingo havíamos feito uma roda de
chimarrão onde meus dois filhos, minhas noras, meu neto, Monica minha filha,
Sandra e eu conversávamos enquanto o mate passava folheirito de mão em mão, e
todos charlando sobre a vida, seus sonhos e suas realizações.
Todos comungando uma mesma
tradição e cultura, todos de corações estreleiros, quando muitas coisas eram
passadas principalmente para o nosso neto, Bruno, mandinho de oito ou nove anos
que participava da mateada ouvindo e aprendendo de maneira ativa e ao mesmo
nível naquele entrevero dominical.
Havia entre nós Gaúchos, um
biriva de Santo Antônio, criado longe das tradições, que mui temprano havia
migrado para a Grande Porto Alegre, ou seja, um Rio-Grandense de carpete, meio
oitavado, mais por fora do que arco de barril, sentado a uma cadeira bispando
tudo que nosotros proseávamos sem entender quase nada.
Após várias rodadas de
amargo, com finíssima erva de barbaquá o referido virando-se para Monica
confidenciou.
- Tua família mais parece um
clã, onde um diz “mata os outro dizem degola”
Minha filha sorrindo
respondeu.
- E tu não ouviste nada,
ainda.
- Mas o teu pai age como um
caudilho.
Na hora do churrasco, também se aprende.
- Não! – Respondeu Monica –
Ele age como um taita. Um taura buenacho que usa destes momentos para unir os
filhos, noras e neto e transmitir o que há de bom e correto dentro das
tradições pampeanas herdadas de nossos mais antigos troncos, quando ainda viviam lá pelo Rosário do Sul, pelo País dos Tape ou pela Banda dos Charruas.
Ele surpreso quedou-se quieto
observando cada palavra e cada movimento, chegando ao final daquela roda,
quando todos já satisfeito começaram os preparativos para um churrasco bagual
de bom, momento em que puxei da cintura uma enorme carneadeira e passei a
amolá-la levemente em uma chaira, ele disse meio abichornado, mais quieto que piá mijado em porta de rancho.
- Seu Pedro, nunca havia vista uma família tão unida em volta de um patriarca.
Olhei para ele e respondi:
- Assim eu fui criado pelo meu pai, e assim ele foi criado pelos meus avós. É uma história que se perde na noite do tempo.
Muitas são as famílias que se
esquecem dos valores primitivos, porém corretos e deixam os filhos serem educados pelas ruas,
muitas vezes por traficantes, bandidos e outros alcaides.
Meu filho Franco e eu. Equipe de Tauras.
O meu piazedo sempre, desde
tenra idade os reunia para lhes contar causos ocorridos no cerne da família,
transmitir-lhes valores éticos e morais, o que jamais me arrependi, pois são
hoje educados, honestos, trabalhadores, jamais tendo se envolvidos com qualquer
coisa que pudesse me envergonhar.
Meu neto desde piazito foi
educado em meio dos adultos e hoje aos 15 anos, estuda muito e desde o ano
passado foi convidado pela própria escola em que estudava a dar aulas de
reforço de matemática, aos próprios colegas, o que fez com responsabilidade e destreza. Neste ano não só dará aulas de reforço, como
receberá uma ajuda de custo para tal.
Tradição passada de geração a geração.
Não podemos deixar que
nossos filhos venham a aprender nas ruas o que nós temos a obrigação de ensinar
em casa. O nosso rancho ainda é o melhor lugar para que nossos filhos e netos
venham a aprender, aprender a serem cidadãos cônscios e respeitados.
Quem assim não procede está
criando um bando de alcaides, caborteiros, maulas e calaveiras, como podemos
ver ao rededor, numa sociedade que falta-lhe princípios morais e éticos, principalmente fora do Rio Grande do Sul.
Depois reclamam dos corruptos, bandidos e safados, porém faltou-lhes serem educados como um clã. Um clã unido por tradições e cultura forte.
Faltou educar, pois o que mais se vê são jovens desorientados, sem perspectivas, sem tradições ao ponto de na Grande Porto Alegre encontrarmos um número expressivo de jovens como macacos imitando a bagaceirada de morros de fora do nosso pago, falando chiado todos cheios de trejeitos, verdadeira nojeira que polui e emporcalha o nosso Estado.
Vergonha não há.
Que lástima.
Que lástima.
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