PS

PS

SEGUIDORES

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Tabernáculo




Após 56 anos resolvi tirar do total silêncio uma das experiências mais bizarras e chocantes de minha, na época, incipiente vida.

Meu avozinho paterno, não sei por que cargas d’água convidou meu pai, um na época subtenente do Exército, para levar-nos a um tal de culto em um templo cristão não católico, e meu pai que não era quera (cuéra) de andar envolvido com esses farranchos, pois raríssimas vezes foi a uma Igreja católica, aceitou tal convite e em uma noite fomos nós pela Rua Tiradentes acima para tal tabernáculo.

Papai e mamãe a frente com as duas filhas e eu e meu irmão atrás, os dois de traje cinza claro, e lá fomos nós.

Góim! Góim! Góim! Góim!

Esses “góim”, em nossa sonoplastia quando brincávamos significava o barulho de passos apressados quando góingóingóingóim ou mais lentos quando fossem góim - góim -  góim - góim.

Entramos em tal, melancólico e escuro recinto, onde as pessoas nos olhavam com olhares de pena, desaprovadores, perplexos, apavorantes e muitos em seus rostos parvos mostravam expressões de total alienação, distantes do mundo real. 

Simplórios.



As crianças lá presentes me pareciam apavoradas, sestrosa, triste, irreais. Cheias de medos.

Foi um festival, onde muitas vezes olhava para meu irmão e fazia um esforço terrível para não rir, pois tudo o que o líder daquele rebanho demenciado dizia não fazia sentido, eram palavras desconexas e muitas, na maioria se quer eu entendia, pois o tal sujeito era americano, e desafortunadamente, já que nos colocaram na primeira renque de bancos, em pé, tive a infelicidade dele ficar em minha frente o tempo todo, tão perto que podia sentir o cheiro nauseante de suas roupas.

Foi uma experiência tão nefasta que saímos de tal local, calados e assim chegamos a nossa casa que ficava na Rua Álvaro Chaves 413, em total silêncio, mesmo meus pais.
Nenhum jamais tocou no assunto.
 
Essa experiência jamais foi comentada, não só no seio familiar, como foi sem nenhum acordo esquecida, e papai jamais teve a ideia de nos carregar para um lugar como aquele.

Que bom.

Um lugar triste e apavorante. Um lugar onde o pavor era imposto e as entidades satânicas inexistentes eram alardeadas como se fosse os pilares daquela seita atrasada, doente e demente.


E o pior é que eles acreditavam naquelas sandices.



Nenhum comentário:

Postar um comentário